Cultura
PUBLICIDADE
Por — São Paulo

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 23/06/2024 - 03:30

Sucesso internacional de José Henrique Bortoluci

O escritor brasileiro José Henrique Bortoluci recebe elogios de Annie Ernaux e Didier Eribon por seu livro O que é meu, que narra a ascensão social do autor e a vida de seu pai caminhoneiro. A obra combina diferentes registros e já foi vendida para 12 editoras internacionais, alcançando projeção no exterior. Bortoluci se destaca por trazer à tona a história de sua família de forma literariamente rica e sociologicamente densa.

No início do mês, o escritor José Henrique Bortoluci estava em Bolonha, Itália, quando recebeu uma mensagem de sua editora, Rita Mattar, da Fósforo: Annie Ernaux avisava que havia lido o livro dele, “O que é meu”, e lhe enviado uma carta. Mas enviado para onde? Bortoluci está fora de São Paulo desde fevereiro. Descobriu-se que o envelope estava com sua editora francesa, a Grasset. Longe de Paris, na época o brasileiro precisou se contentar com uma foto da mensagem que a Nobel de Literatura de 2022 lhe escrevera. Ernaux não autorizou que suas palavras viessem a público na íntegra.

— É uma carta de uma página, escrita à mão. Ernaux diz que se encantou com o livro e que, dos relatos de trânsfuga de classe que já leu, o meu era o que melhor tinha enfrentado o desafio de trazer para a página as vozes das gerações anteriores, que não ascenderam socialmente — conta o escritor em conversa por vídeo com o GLOBO. — O tom da carta é muito terno. Me emocionou ver “Didi” escrito na letra dela.

Didi é José, pai do autor, que divide com ele o protagonismo do livro. Lançado no Brasil em março de 2023, “O que é meu” amarra três histórias: a de Bortoluci, cujo talento para os estudos o salvou da pobreza; a de Didi, caminhoneiro que desbravou o Norte do país e descobriu um câncer durante a escrita do livro; e a da ocupação da Amazônia levada a cabo na ditadura militar, que resultou em destruição de parte da floresta, avanço do garimpo ilegal e massacre de povos indígenas.

O pai de Bortoluci morreu em novembro, um dia depois de o filho se apresentar na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2023. O escritor já resgatou a carta de Ernaux — e promete respondê-la.

Ponta de sociologia

Bortoluci também ganhou um elogio de outro escritor francês: Didier Eribon, que descreve sua própria ascensão social em livros como “Retorno a Reims”. “O sociólogo brasileiro José Henrique Bortoluci narra a vida de seu pai e nos faz ouvir a voz dele, que era caminhoneiro. (...) Ao mesmo tempo, analisa seu próprio percurso de trânsfuga de classe. É magnífico”, escreveu Eribon nas redes sociais.

José Henrique Bortoluci, Nora Krug e Gabriela Mayer em mesa na Flip — Foto: Divulgação
José Henrique Bortoluci, Nora Krug e Gabriela Mayer em mesa na Flip — Foto: Divulgação

Como Ernaux e Eribon, Bortoluci narra como a educação e a cultura lhe proporcionaram uma ascensão inédita em sua história familiar. “O que é meu” menciona Eribon e cita um trecho do livro “Uma mulher”, no qual a Nobel se dá conta que a mãe “passava o dia vendendo leite e batatas pra que eu pudesse frequentar uma sala de aula para estudar Platão”. O pai de Bortoluci vendia rifas para que o filho, campeão de concursos de redação, participasse de congressos e encontros internacionais.

— Ernaux e Eribon me ensinaram que eu podia escrever sobre a minha família de uma forma ao mesmo tempo literariamente rica e sociologicamente densa — conta Bortoluci, que é sociólogo e nascido em Jaú, no interior paulista.

Conforme notado pela Nobel, “O que é meu” combina diferentes registros: as memórias do filho que ascendeu e ainda se lembra das carências da infância, as entradas do diário da mãe do autor e a voz do pai, que narra suas aventuras na estrada com uma linguagem própria. É aí que Bortoluci se diferencia dos franceses: o fosso aparentemente intransponível entre um jovem intelectual e seus pais proletários é vencido pelo resgate das lembranças e da linguagem dos pais.

Projeção internacional

“O que é meu” já foi vendido para 12 editoras internacionais, incluindo a Fitzcarraldo, a Random House e a Dar Tashkeel, que vão distribuir o livro em países de língua inglesa, espanhola e árabe, respectivamente. Desde fevereiro, Bortoluci está na Europa participando dos lançamentos. Retornará ao Brasil para o evento A Feira do Livro, que acontece entre o dia 29 e 7 de julho em São Paulo. Em outubro, ele vai para os Estados Unidos.

Bortoluci é um dos poucos autores brasileiros (além do best-seller Itamar Vieira Junior, que recentemente concorreu ao Prêmio Booker Internacional) a conquistar tamanha projeção no exterior. A agente literária espanhola Marina Penalva, que trabalhou pela internacionalização de “O que é meu”, conta que o livro foi recomendado “efusivamente” por vários editores.

— O contexto social, cultural e político de que trata o livro ainda é pouco conhecido no mundo, mas Bortoluci consegue converter uma história pessoal em uma narrativa universal. Sua voz e seu olhar transmitem honestidade, intimidade e um amor profundo — afirma Penalva.

Em “O que é meu”, Bortoluci escreve: “Meu sucesso escolar não era só meu, mas uma espécie de empreendimento familiar.” O sucesso literário, no Brasil e no exterior, também é.

— Minha vida literária não está apartada da minha família. Só estou aqui na Europa porque meu irmão está cuidando do meu gato em São Paulo e porque sei que minha mãe está bem assistida — diz o escritor.

Mais recente Próxima 'Segura essa pose' e 'Abbott Elementary': as estreias de séries no streaming na semana (23/6 a 29/6)
Mais do Globo

Mais profissionais estão inscritos nas ordens, mas obstáculos atrasam exercício em setor que falta mão de obra. Governo abre milhares de postos para preencher no sistema público

Número de médicos e dentistas brasileiros cresce em Portugal. Saúde  tem 2.212 vagas

Textor se acertou com o jogador, mas ainda finaliza os detalhes do acordo entre Eagle Football e Atlanta United, que trará o argentino para o Brasil em um primeiro momento

Está fechado? Fica quanto tempo? Vai para o Lyon? O que se sabe até agora da negociação do Botafogo com Almada

No Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, o GLOBO ouviu artistas, influenciadores e ativistas da causa sobre seus lugares preferidos para ser e estar

De livraria a boate: personalidades LGBTQIA+ revelam lugares favoritos no Rio

Presidente prestar contas é desejável, mas tem de haver objetivo de comunicação, que petista desperdiçou ao falar a rádios e portais

Qual o saldo das entrevistas de Lula?

Prato ganha releituras com fruta e diferentes tipos de peixes

No Dia do Ceviche, aprenda receitas fáceis do clássico peruano, até veganas

Equipe continua com deficiências defensivas e com ataque inoperante

Fluminense x Vitória: tricolor mostra mais do mesmo, continua problemático e segue na lanterna; leia análise

Ex-presidente aproveitou formato do evento, que não previa checagem de afirmações, e a apatia do adversário, que pareceu incapaz de seguir no comando da maior potência global

Análise: Com desastre completo de Biden, Trump vence debate com sucessão de mentiras

Onze desses nadadores integram a seleção de natação da China para os Jogos de Paris

China afirma que ‘nunca’ divulgará investigação que absolveu atletas olímpicos em caso de doping

Exposição 'Eterno Egito: a imortalidade nas coleções Viscondessa de Cavalcanti e Eva Klabin' será inaugurada em julho, na Lagoa

Peças egípcias de até 5 mil ganham mostra gratuita no Rio

ONG Foro Penal contabiliza 282 "presos políticos" no país até o momento

Oposição na Venezuela denuncia 'desaparecimento' de mais um colaborador de campanha