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Por — São Paulo

Quando querem saber quem será o próximo Nobel de Literatura, editores do mundo todo repassam o catálogo de uma editora independente britânica: a Fitzcarraldo Editions, que ganhou fama por apostar em nomes que, uma vez publicados por ela, levam o prêmio da Academia Sueca. Fundada em 2014, a Fitzcarraldo já acertou quatro Nobéis: a bielorrussa Svetlana Aleksiévitch (2015), a polonesa Olga Tokarczuk (2019), a francesa Annie Ernaux (2022) e o norueguês Jon Fosse, que venceu o prêmio nesta quinta-feira (5).

No ano passado, em entrevista ao jornal americano The New York Times, o fundador da editora, Jacques Testard negou que tenha uma “estratégia” para publicar autores que, pouco tempo depois, levam o Nobel. Segundo o francês radicado no Reino Unido, não passa de coincidência o fato de ele ter um gosto literário parecido com o de “um bando de velhos burgueses suecos”.

Outros editores, porém, afirmam que o segredo da Fitzcarraldo é apostar em literatura produzida fora do mundo anglo-saxão, que é avesso a traduções. Em 2018, apenas 6% dos livros de ficção editados no Reino Unido e na Irlanda haviam sido traduzidos de outros idiomas.

Paul Keegan, ex-editor da Penguin Classics (selo do maior conglomerado editorial do planeta), disse ao New York Times que, por ler francês e espanhol, Testard é capaz de encontrar autores que passam despercebidos por seus colegas que só leem inglês. Svetlana Aleksiévitch é um bom exemplo. Quando foi lançada pela Fitzcarraldo, a bielorrussa era praticamente desconhecida nos países de língua inglesa, mas já havia vendido centenas de milhares de livros na França.

Publicar literatura estrangeira sempre foi um dos objetivos da Fitzcarraldo (o nome da editora é uma referência ao filme do cineasta alemão Werner Herzog). Ao jornal nova-iorquino, Testard afirmou que, desde o início, queria publicar “a ficção contemporânea mais radical”, que desafiasse os “limites da forma”, misturando gêneros como a memória e ficção — essa descrição, aliás, cabe em autoras como Svetlana Aleksiévitch e Annie Ernaux. Disse ainda que costuma receber dicas de editores americanos e europeus e também de escritores e tradutores de confiança.

Ter o mesmo gosto que “velhos burgueses suecos” compensa. A cada Nobel acertado, a receita da Fitzcarraldo aumenta. Testard já comparou criar uma editora a “cavar um buraco no chão e jogar dinheiro lá dentro”. No dia seguinte ao Nobel de Annie Ernaux, o editor mandou imprimir mais 65 mil cópias dos livros da francesa, o que representa quase metade de tudo o que a Fitzcarraldo tinha vendido em 2021 (135 mil exemplares).

A Fitzcarraldo tem dois livros brasileiros no catálogo: “Macunaíma”, de Mário de Andrade, e “O que é meu”, ensaio autobiográfico de José Henrique Bortoluci, lançado no início do ano pela Fósforo e já vendido para uma dezena de países. O livro narra a história do autor, cujo talento para os estudos o livrou da pobreza; as histórias de seu pai, caminhoneiro que desbravou o Norte do país e descobriu um câncer de intestino durante a escrita do livro; e a história do projeto de ocupação da Amazônia, levado a cabo na ditadura militar e que resultou na destruição de parte da floresta, no avanço do garimpo ilegal e no massacre de povos indígenas.

Quando “O que é meu” foi lançado no Brasil, Tamara Sampey-Jawad, editora da Fitzcarraldo, comparou Bortoluci a autores “cujas reflexões pessoais sobre a alienação de classe apontam para preocupações sociais e nacionais mais amplas”, como Annie Ernaux e Édouard Louis.

— “O que é meu” é eficiente em ligar o pessoal e o político, a saúde de um homem e a história de uma nação. É um texto que dialoga com obras de história oral, como as de Svetlana Aleksiévitch e livros de autores imigrantes que examinam a própria herança, como Ocean Voung (americano de origem vietnamita) — disse ela ao GLOBO.

Se o Brasil ainda sonha com um Nobel de Literatura, o segredo talvez seja convencer Jacques Testard a publicar nossos autores. Ele sabe do que os suecos gostam.

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