Cultura
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Por — Rio de Janeiro

Fábio Namatame se tornou um grande figurinista após uma “sequência de coincidências e sorte” no início da carreira, ele diz. Conheceu grandes diretores de teatro e recebeu convites para trabalhar para os palcos. Depois de cerca de 40 anos desse início, o criador é responsável por vestir ao menos 270 atores no ano passado; uma quantia de 800 looks ao total. Responsável por “Tarsila, a brasileira”, em cartaz no Rio de Janeiro neste fim de semana, o designer, porém, pretende iniciar um ritmo novo, selecionando mais os títulos para os quais assina roupas.

O figurinista, de 65 anos, atualmente tem produzido espetáculos grandes, mas menos títulos em relação ao que fazia antes, especialmente nos dois últimos anos. Apenas em 2023, ele esteve à frente do guarda-roupa de 16 espetáculos. Agora por diante será uma escolha a dedo.

— A sorte que tenho é que aparecem trabalhos muito interessantes para mim. Tenho privilégio de entrar em trabalhos realmente muito bons. Então, eu posso escolher dentro do que me oferecem, aquilo que mais me interessa — afirma. — A gente tem que buscar projetos que realmente são interessantes de se fazer para não virar uma grande feira de produtos.

Um dos figurinos que Namatame se orgulha é o do musical que conta a história da artista brasileira de maior expressão no mundo. Com autoria de José Possi Neto e Anna Toledo e direção do próprio Possi com Guilherme Terra, “Tarsila, a brasileira” é estrelada pela atriz Claudia Raia, de 57 anos, no papel da modernista. O espetáculo, em cartaz no Teatro Santander, na capital paulista, foi acompanhado por mais de 80 mil pessoas.

Essa, entretanto, não é a primeira vez que o figurinista trabalhou para um espetáculo protagonizado por Raia. Estiveram juntos em montagens como "Cabaret” e “Crazy for you”, ambas versões adaptadas por Miguel Falabella e dirigidas por Possi.

— O Namatame é uma lenda. A gente ri dizendo que ele é o “Namagrife” porque é extremamente criativo, um profissional que já fez de tudo. Todos os nossos espetáculos grandes, fizemos com ele — diz Raia. — Fez muitas coisas deslumbrantes com a gente, mas acho que em “Tarsila”, ele se superou. Quando a gente acha que não tem mais nada a oferecer, ele puxa uma carta da manga que é maravilhosa.

No espetáculo, a atriz aparece vestida, por exemplo, sob uma releitura do “manteau rouge” (casaco vermelho, em tradução do francês para o português), usado por Tarsila em um dos autorretratos mais famosos dela, além de outras roupas que revelam o ideal moderno da pintora.

Claudia Raia veste releitura do manteau rouge, de Tarsila, criado por Fábio Namatame — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez
Claudia Raia veste releitura do manteau rouge, de Tarsila, criado por Fábio Namatame — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez

O figurino do musical sobre a artista integra, em parte, uma leva produzida em um dos períodos mais trabalhosos para Namatame. O alto volume de projetos tinha motivo: o fim do isolamento social decorrente da pandemia de covid-19 e a reabertura dos teatros ao público.

— A pandemia me fez repensar muito a minha carreira. Acreditava que as coisas iriam entrar em um outro ritmo. Mas muito pelo contrário: voltaram em um mais frenético para mim, nunca trabalhei tanto quanto nesses dois últimos anos.

A casca do ator

Conhecedora de longa data do trabalho do figurinista, a quem tem como um dos seus criadores preferidos, Claudia Raia tem uma especial atenção não só aos movimentos do corpo. De acordo com a atriz, “o figurino de Fábio Namatame ajuda a contar a história dramaturgicamente” das peças que apresenta.

Prenunciar as histórias através das roupas, aliás, é um dos objetivos principais do trabalho do figurinista, segundo ele.

— A roupa pode determinar a criação do ator porque vai dar uma espécie de casca para ele. A vestimenta dá uma sensação de peso, leveza, conforto ou movimento, que podem eles próprios sugerirem ações. Isso acaba modificando ou colaborando a criação do ator ou atriz, que se beneficia dessa casca. Passa a ser uma nova parte do corpo que é preciso trabalhar: é um novo braço, não apenas uma manga — diz o figurinista.

As roupas, entretanto, não são parte da expressão apenas dos atores ao contar a história, segundo o designer. Ele afirma que, nos seis meses do processo de criação do guarda-roupa de um espetáculo, existe também uma preocupação também dele próprio, como criador, em poder se manifestar — algo fundamental nas artes —, embora nada seja retirado de forma “absoluta da minha cabeça”, diz.

— Cada espetáculo exige um raciocínio diferente. É bom para mim como criador, mas também no sentido de pensar o que eu quero dizer com essa obra. Trabalhar nessa grande gama, de tipos muito diferentes de espetáculo, me faz um artista mais diferenciado.

As coincidências e a sorte

Formado em comunicação e artes, Fábio Namatame afirma ter começado a carreira como figurinista por acaso. Antes da graduação, quis até fazer urbanismo para “dar uma qualidade melhor de vida para as pessoas que vivem em cidades grandes”. Após trabalhar com confecção de estampas, no início da década de 1980, atuou com expressão corporal e chegou a cursar mímica com Denise Stoklos, uma famosa encenadora. A professora dizia que Namatame levava jeito por ter um corpo “muito alongado”, conta ele.

Figurinista Fábio Namatame em seu ateliê em São Paulo — Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo
Figurinista Fábio Namatame em seu ateliê em São Paulo — Foto: Edilson Dantas/Agência O Globo

Começou a se apresentar com o grupo de Stoklos em bares e baladas de São Paulo. Os figurinos, ele mesmo criava. Até que um diretor de teatro o questionou se não teria vontade de produzir roupas para atores de uma peça teatral. “Não, mal faço para mim mesmo”, respondeu ele à época. Era nada menos que Naum Alves de Souza, morto em 2016, que insistiu na proposta. “Se achar que eu sou capaz”, disse o criador, cedendo.

A partir da parceria com Naum, recebeu propostas para trabalhar com grandes diretores como Jorge Takla e José Possi Neto.

— Eu nem escolhi muito, mas era uma coisa tão interessante. Nunca foi uma coisa que eu sempre gostei, mas o que aconteceu foi uma sequência de coincidências e sorte. Os melhores daquela época me chamaram.

O ateliê

Dois costureiros fixos, um modelista e um assistente trabalham no ateliê de Fábio Namatame, em São Paulo. Conforme a demanda, o figurinista costuma contratar ainda outras pessoas para conseguir entregar todos os pedidos a tempo. Mas ainda assim, é uma tarefa nada fácil.

— Se o Fábio aceitasse 100% dos convites que ele recebe todos os dias, seria uma rotina quase impossível de administrar — diz a designer de moda Carolina Zillig, de 23 anos, que trabalhou com o criador até o ano passado e hoje o auxilia em algumas demandas.

Tanto as pessoas que trabalham com Namatame quanto as que utilizam as vestimentas feitas por ele têm um pensamento semelhante sobre a sua “genialidade”. Apesar disso, o figurinista diz que ainda não consegue visualizar o próprio lugar na carreira, ao qual chegou, vale lembrar, por “coincidências e sorte”, segundo ele.

— Ainda não consigo entender onde estou. Identifico o meu posicionamento olhando para outros profissionais, não para mim mesmo. Têm pessoas que nem sei quem são, mas me abordam e falam que me conhecem. Eu só consigo dizer: “Meu Deus, tem gente que já acompanha a minha carreira”.

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