Ao que tudo indica, Donald Trump não está nada satisfeito com "O aprendiz", sua cinebiografia que estreou nesta segunda-feira (20), em Cannes. Dirigido pelo cineasta iraniano-dinamarquês Ali Abbasi, o filme resgata o começo da trajetória de Trump como um ambicioso jovem investidor do ramo imobiliário na Nova Iorque dos anos 1970 e 1980. O diretor de comunicação da campanha de Trump à presidência dos Estados Unidos, Steven Cheung, disse que moveria uma ação judicial contra "as afirmações flagrantemente falsas desses falsos cineastas”.
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— Este lixo é pura ficção que sensacionaliza mentiras que há muito foram desmascaradas — afirmou Cheung à AFP.
Em Cannes, no entanto, a recepção ao longa de Ali Abbasi foi calorosa. Com Sebastian Stan na pele de Trump, Jeremy Strong, de "Succession", como seu advogado e mentor Roy Cohn, e Maria Bakalova interpretando Ivana, a primeira esposa de Trump, o filme foi aplaudido de pé pelo público do festival durante oito minutos, diz o Hollywood Reporter.
![Jeremy Strong e Sebastian Stan na pele de Roy Cohn e Donald Trump, respectivamente — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/fxmocn4_yOUPgeuJoKTIwvfW3HY=/0x0:1035x667/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/Y/8/8LxG6lRpOEE16AYvavHA/whatsapp-image-2024-05-21-at-09.36.14.jpeg)
Ainda segundo o site, duas cenas, em especial, provocaram "suspiros audíveis" na plateia: uma que mostra Trump fazendo lipoaspiração, e outra — a mais polêmica do longa — que retrata o suposto estupro que o ex-presidente teria cometido contra Ivana. A cena acontece depois que Ivana menospreza o empresário por ele ter ficado "gordo e careca".
O filme remonta um depoimento real de Ivana Trump: em 1990, por ocasião do divórcio, ela afirmou ter sido estuprada por Donald Trump. Anos depois, negou a acusação e alegou que ambos eram bons amigos. No longa, há também uma cena em que o magnata sofre de disfunção erétil.
"O aprendiz" se apoia bastante na relação de Trump com Cohn — advogado que ficou famoso por caçar comunistas para o senador Joseph McCarthy e por enviar os espiões soviéticos Julius e Ethel Rosenberg para a cadeira elétrica. Na trama, o empresário acaba virando as costas para Cohn, que morreu aos 59 anos de complicações da AIDS.
O Washington Post observou que, durante a exibição do filme, em Cannes, "houve risadas, especialmente durante momentos de comédia física, como quando Trump escorrega no gelo enquanto corteja Ivana e diz-lhe orgulhosamente que sabe esquiar", e afirmou que "em geral, é uma história de origem muito sombria e arrepiante".
Houve avaliações mistas da crítica. O Deadline disse que "O aprendiz" é uma "história de origem inteligente, nítida e surpreendente" e que o roteiro de Gabriel Sherman é "excepcionalmente bem pesquisado". A Variety afirmou que trata-se de um drama "espirituoso, divertido e não excessivamente atrevido sobre os anos em que Donald Trump se tornou Donald Trump”. O britânico The Guardian, no entanto, analisou que o filme "é quase sentimental, uma caricatura xerocada de muitas outras tomadas satíricas de Trump", mas destacou positivamente a atuação de Strong como Roy Cohn.