'Ele era um amante da liberdade', diz filha de Ziraldo durante velório do artista, no Museu de Arte Moderna do Rio

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— Uma pessoa como ele mudou a história. Ele ficou no Brasil para lutar contra a ditadura. Lutou com a pena, o papel e ideias pequenas. Uma pessoa como essa nunca esvairá — afirma Fabrizia. — (Meu pai) era um amante da liberdade. De ser cem por cento quem você é como uma criança. Ele não perdeu isso. O adulto vai endurecendo e ele nunca endureceu. Tinha um desejo violento de fazer a diferença, um desejo ativo. Eu acho que essa ambição dele vinha de outros mundos que ele queria habitar. Como artista ele experimentou muito. Ele deixa a curiosidade. Como artista, experimentou muito.

Segundo ela, Ziraldo passou seus últimos 20 anos viajando pelo Brasil, visitando escolas:

— Ele achava importante esse prazer pela leitura. O mundo digital é perigoso porque talvez tire essa oportunidade.

A cineasta Daniela Thomas, outra filha do artista, reforçou o legado deixado pelo pai para a família e para os fãs, com a obra que atravessou gerações.

— Uma pessoa cuja obra tem uma grande conexão com a vida particular das pessoas. Quando as pessoas viam aquelas filas gigantes nas bienais, viam o avô, o filho, o neto e o bisneto. Todos com o livro esmagadinho, lido, usado. É um cara que falou com cinco gerações muita intimamente — lembrou, emocionada.

O desenhista Nefi da Silva Freitas, de 17 anos, também veio dizer adeus ao amigo e companheiro de tantos traços. O jovem conta que conheceu a obra de Ziraldo aos 11 anos, quando assistia ao desenho “O Menino Maluquinho” na televisão.

— Desenho que nem o Ziraldo. Achava o Menino Maluquinho muito legal. Assistia quando chegava da escola. Desde a infância já gostava de desenhar. A partida dele deixará saudade, não será mais a mesma coisa continuar produzindo sem ele. Ziraldo não estará mais aqui, mas as obras dele, sim — afirmou o rapaz.

No livro da vida Ziraldo não apenas escreveu a própria história, mas também a tantos personagens que marcaram gerações. Em homenagem ao desenhista, uma mesa com livro em páginas em branco foi colocada pela família para que os pudessem escrever e eternizar suas memórias pessoais com o artista.