No fim de 2023, logo antes de ser confinado no programa Big Brother Brasil 24, MC Bin Laden lançou o EP “Brazilian phonk” ao lado do duo Dragon Boys , formado pelos produtores e MCs Ramiro Alves e Mauro Nascimento. “Não seria funk?”, perguntaram-se alguns, enquanto a música escalava as paradas. Não, e a diferença vai além da grafia: o Brazilian phonk (ou phonk brasileiro) é uma mistura musical que vem se consolidando com força por aqui (e fora daqui). Segundo o Spotify, foi o tipo de música de artistas nacionais mais ouvido fora do país no ano passado.
O phonk brasileiro é uma junção de alguns subgêneros preexistentes e surgiu, curiosamente, na Escandinávia. No fim de 2022, um norueguês de 22 anos, conhecido como Slowboy, que decidiu juntar o phonk (subgênero do hip-hop que nasceu nos EUA e mistura ainda trap, funk e até jazz) com o funk mandelão (subgênero do funk de São Paulo, que se caracteriza por batidas agressivas e graves e apareceu no Baile do Mandela, na Praia Grande, litoral de São Paulo). O estilo se popularizou no ano passado, chegando com tudo ao Brasil.
O resultado da mistura de três continentes é uma música pesada, marcada pelo uso de tons graves e distorções, que criam uma atmosfera, em muitos momentos, sombria — representada visualmente em ilustrações como a que está abaixo. Ramiro, produtor e integrante do Dragon Boys, um dos artistas que trouxeram o phonk para o Brasil, explica que erros técnicos na hora da produção são permitidos e, inclusive, valorizados.
— Nesse gênero, deixar a música com o baixo estourado ou a mixagem desnivelada vira uma nova estética — diz Ramiro. — É mais fácil construir um brazilian phonk porque não precisa de um conhecimento teórico de música.
![Imagem sombria que representa a estética do phonk brasileiro — Foto: Arte de Gustavo Amaral](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/67Go7s_Jc864mVnicNRPFDUkSyY=/0x0:4167x1917/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/4/F/PyvsFbSqiBEQnJBlqp6g/sem-titulo.jpg)
Os Dragon Boys contam que o britânico Kordhell, um dos mais importantes artistas do phonk — somente no Spotify, são mais de 11 milhões de ouvintes mensais —, foi um dos primeiros a ter o cuidado de convidar artistas brasileiros para gravar as vozes de suas músicas. Juntos, o duo brasileiro e o britânico lançaram em abril de 2023 “Vuk vuk”, o que, segundo eles, mudou sua vida profissional.
Som gringo com voz brasileira
Entre os brasileiros representantes do gênero mais ouvidos no exterior estão Crazy Mano, Mc GW e Menor do Alvorada. O primeiro é produtor; os outros dois, cantores.
Os vocais, aliás, são uma capítulo à parte na história do estilo. No começo, os DJs e produtores internacionais buscavam vozes de músicas antigas brasileiras e, mesmo sem saber o que os artistas estavam cantando, os produtores acabavam escolhendo letras de conteúdo sexual.
- Ana Castela, Marília Mendonça e cia: a retrospectiva de 2023 do sertanejo
MC GW (nascido como Gláucio William da Silva Jerônimo em São João de Meriti, na Baixada Fluminense) opina que isso tem relação com o estilo de batida: por ser agressiva, acaba combinando com temas explícitos. Tendo sua voz usada em sucessos internacionais, como “Montagem — PR funk”, que já conta com quase 240 milhões de plays no Spotify, a estrela do funk resolveu investir no phonk e está prestes a lançar um álbum do gênero em parceria com DJs americanos.
Há quem critique este novo movimento e diga que os estrangeiros estão “gourmetizando o funk”. No entanto, artistas como GW, os Dragon Boys e o diretor artístico de Bin Laden, Lucas Sousa, veem o fortalecimento do ritmo como uma vitrine não apenas para o funk brasileiro.
— Há espaço para todo mundo, até porque o funk é uma quebra de barreiras constante. Existem vários estilos: 150bpm, rave funk, funk melody, funk com sertanejo, e tem esse agora que é voltado para o exterior. No fim das contas, é tudo funk, tudo traz seu benefício — diz GW.
(RE)apropriação cultural
Lucas Sousa, que cuida da carreira de MC Bin Laden e também trabalha do setor artístico e de repertório da GR6, gravadora e produtora de música urbana, explica que a motivação para produzir as seis faixas de “Brazilian phonk” foi justamente se apropriar do que já estava circulando pelo mundo com a marca do país. Pode parecer uma contradição, mas este é o primeiro EP do gênero que tem “Brazilian” no nome feito somente por artistas brasileiros.
— A gente enxergou que é uma forma de conseguir chegar na gringa de forma orgânica. Não precisa gravar com Lady Gaga para chegar lá fora, a gente pode chegar pelo phonk brasileiro. Este é o nosso momento. Então vamos para cima, vamos atacar. A gente lutou tanto para conseguir nosso momento — reflete Lucas.
Ele aposta na nova vertente como tendência dentro do mercado nacional, com singles de artistas do Brasil sendo lançados a todo momento e playlists criadas pelos próprios serviços de streaming.
— Uma vez identificada a tendência ou gênero novo, a gente agrupa e organiza músicas com sonoridade ou temáticas semelhantes — explica Carlos Costa, editor de música do Spotify no Brasil. — As listas para o phonk brasileiro surgiram a partir da necessidade de agrupar músicas do funk que já não se encaixavam em outras playlists.
Marcando este momento de virada, com brasileiros pegando a parte que lhes cabe no latifúndio do Brazilian phonk, um single 100% nacional foi um dos mais escutados no exterior ano passado. “Automotivo Bibi Fogosa”, de Bibi Babydoll e Dj Brunin XM, chegou ao primeiro lugar no Spotify na Ucrânia, por exemplo, e, no Brasil, também apareceu como top 1 na playlist de virais.
Conheça os artistas brasileiros destaque no phonk brasileiro
![Mc Bin Laden — Foto: Uilian Hercules](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/hYtk77jsABNQxZmvWjtWmQPkov8=/0x0:4898x3265/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/V/f/yY6gPVRiCA0LlaRaftfQ/img-3333.jpg)
![Mc Bin Laden — Foto: Uilian Hercules](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/EXQd1TPquubnJAnAieF0wvbaAdc=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/V/f/yY6gPVRiCA0LlaRaftfQ/img-3333.jpg)
Mc Bin Laden — Foto: Uilian Hercules
![Bibi Babydoll — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/BO8qZo2ySIFlmzOX49C6kCJKu0w=/0x0:3060x4590/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/U/F/nUWm4BQSu2Ak3DewHiPg/img-7969.jpg)
![Bibi Babydoll — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/NmQvpI_FRvM3lYnkQgyCDKiSuvk=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/U/F/nUWm4BQSu2Ak3DewHiPg/img-7969.jpg)
Bibi Babydoll — Foto: Divulgação
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![Mc GW — Foto: Wyss Brazil](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/X2cn9F6oUmI4x4LXwRdZKtehC7s=/0x0:5472x5472/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/q/E/QR6RNhT0CBBVn8b2ldMQ/gw-14.jpg)
![Mc GW — Foto: Wyss Brazil](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/QjlJrCeU9nTQUe-7BA_v4kfxXQs=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/q/E/QR6RNhT0CBBVn8b2ldMQ/gw-14.jpg)
Mc GW — Foto: Wyss Brazil
![Dragon Boys: Mauro (esquerda) e Ramiro (direita) — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/tmzF-w4o4R0AftsXX_SegtnVtWI=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/Q/p/PFHx7PTRWj9aoZQfTjdw/nova.png)
Dragon Boys: Mauro (esquerda) e Ramiro (direita) — Foto: Divulgação
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![DJ Will DF — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/YBubo_kkUZxQ7SRNngmFVZGvBAM=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/t/s/BUcUO7TymY1cmQCSAqoA/img-2019.jpg)
DJ Will DF — Foto: Divulgação
![DJ Will 22 — Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/9jLLeoj0eDtR4k8FGLXNCzldu8g=/1080x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/9/f/8O11vSTl2R5yUFh5jPhg/snapinsta.app-380331433-18386384368063793-7594215804202852275-n-1080.jpg)
DJ Will 22 — Foto: Divulgação
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![DJ Brunin XM — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/L6kpnx5V8I6_gUliQxHVsJW6pIQ=/1080x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/z/j/ML2w2KTVeStUBe9vv2Fw/snapinsta.app-413936502-330524339888586-6562110709125434632-n-1080.jpg)
DJ Brunin XM — Foto: Reprodução
![Menor do Alvorada — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/wWCNg_e6M5FecsqN9YQTwkdaBWg=/1080x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/B/o/ljJwd6Sy27UPbqWfOxqw/snapinsta.app-398344955-1124754858698142-6530961726972877360-n-1080.jpg)
Menor do Alvorada — Foto: Reprodução
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Bibi, de 25 anos, é curitibana e conta que sempre quis cantar funk. Daí para o phonk foi um caminho natural — ela não conhecia o subgênero, mas confiou no trabalho de Brunin. O sucesso foi tanto que ela enveredou de vez pelo estilo, lançou a faixa “Bibi phonk BR” e vai lançar, em breve, ao lado de Valesca, Bonde do Tigrão e DJ Will 22, uma faixa que mistura funk dos anos 2000 com Brazilian phonk.
— Acho que até agora eu não entendi direito o que realmente aconteceu. Recebo diariamente mensagem de gente de outros países. Fiz vários vídeos falando ucraniano, indiano, japonês... — conta Bibi, que quer agora se consolidar no Brasil. — Muita gente conhece minha música, mas ainda não sabe quem sou eu, então quero trabalhar mais a minha imagem. Tenho certeza de que esse ritmo vai crescer no Brasil e eu quero ser o nome desse ritmo, ser uma referência. Quero nem conseguir mais sair na rua (risos).
DJ Will 22 concorda com Bibi sobre o gênero começar a ganhar mais espaço no Brasil. Ele, que foi DJ e produtor da cantora Ludmilla por dez anos, está se dedicando à carreira solo e foi quem produziu a colaboração que está por vir entre Bonde do Tigrão, Valesca e Bibi. Ele acredita no potencial universal do estilo:
— O gênero conseguiu conquistar pessoas que não só curtem funk, mas pessoas que curtem eletrônico, rave. É como juntar a torcida do Flamengo com a do Corinthians e chegar numa proporção muito grande. Acho que isso vai desbloquear várias áreas do mapa e a gente pode conquistar o mundo com isso.
Visual macabro
Outro ponto marcante no phonk brasileiro é a identidade visual. As capas da maioria dos singles e perfis dos artistas do estilo seguem a linha da ilustração da capa desta edição, com referências a animes e desenhos macabros. O uso das cores vermelho, roxo e preto são comuns, puxando também para um aspecto neon.
Na capa do EP “Brazilian phonk”, MC Bin Laden e o duo Dragon Boys aparecem com metade do rosto em chamas em um fundo preto. Isso vai na linha de muitos artistas do phonk no exterior, que usam pseudônimos e não mostram seus rostos.
— Acredito eles queiram manter a ideia de ser agressivos também na identidade visual, focando na força dos beats da música — analisa Lucas Sousa. — Então, fomos nessa linha, escondendo os rostos, sem clipe, trabalhando a divulgação de maneira orgânica e dentro das playlists.