Música
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Por Silvio Essinger — Rio de Janeiro

Entre as idas e vindas das variantes da Covid-19, num cenário mais amplo de cobertura de vacinação, o ano de 2022 acabou sendo marcado pelo reencontro do público com os artistas, em shows ao vivo. Mas não foi um reencontro sereno. De Roberto Carlos a Bruce Dickinson, cantor do grupo inglês Iron Maiden, muitas foram as queixas de que a plateia, em seu afã de quem passou dois anos preso em casa, passou dos limites no barulho e na animação, chegando mesmo ao mau comportamento.

No novo Brasil, pós-Covid, porém, a alegria de poder sair de casa e confraternizar ao som dos seus ídolos foi maior do que os incidentes, e explodiu em 2022 em grandes eventos ao ar livre.

Livre das ameaças de cancelamento, REP Festival (em fevereiro), Lollapalooza (março), Rock The Mountain (em abril e novembro), Queremos!, MITA (ambos em maio), Coala, Rock In Rio (ambos em setembro) e Primavera Sound (em novembro) atraíram multidões de volta para os shows – que nem sempre foram os dos astros pop do momento.

Em alguns desses festivais, as principais atrações foram dois senhores que chegaram, em 2022, aos seus 80 anos de idade: Gilberto Gil e Caetano Veloso. E, junto com eles, havia ainda Jorge Ben Jor (cujos relatos sobre a idade variam de 73 a 83 anos), Gal Costa (que morreu em novembro, aos 77, poucos dias depois de cancelar o show que faria no Primavera Sound), Ney Matogrosso (81), Maria Bethânia (76) e Djavan (73, que este ano lançou o disco de inéditas “D”).

Octogenários em 2022, também ocuparam os grandes palcos do país Milton Nascimento (em sua turnê de despedida dos palcos, que terminou em novembro, no Mineirão, em show para mais de 60 mil pessoas) e Paulinho da Viola.

— Tem que aproveitar as nossas lendas enquanto elas asinda estão tocando. Caetano, Gil, Jorge Ben Jor, Djavan... estou esperando que Milton nascimento abra novas datas! — aposta Ricardo Brautigam, criador do Rock The Mountain, festival que volta em novembro do ano que vem, em edição feminina encabeçada por Bethânia e Alcione (75 anos). — Essas eram pessoas que, quando tocavam, o show era caro e esgotado. Quando o Caetano aceitou tocar no Rock The Mountain, muitas portas se abriram. Os artistas tinham uma ideia muito antiga de festival, tipo no Rock in Rio, em que o Carlinhos Brown foi vaiado. Eles tinham medo. Hoje o público tem gostos mais diversos, ele quer ouvir vários estilos.

Num ano de vigorosos álbuns de João Donato (“Serotonina”, lançado aos 88 anos), Alaíde Costa (“O que meus calos dizem sobre mim”, que o rapper Emicida produziu para a cantora de 87 anos) e Tom Zé (“Língua brasileira”, feito pelo baiano aos 86), e no qual o Brasil perdeu Elza Soares (aos 91 anos, pouco após ela gravar um DVD ao vivo) e Erasmo Carlos (aos 81, dias depois de ele ganhar um Grammy Latino de álbum de rock), a juventude também deu o seu recado. E o mais contundente foi o de uma cantora que chegará aos 30 anos em 2023: a carioca Anitta.

Imagem do clipe da Anitta - "Envolver Teaser Official" — Foto: Marco Ovando
Imagem do clipe da Anitta - "Envolver Teaser Official" — Foto: Marco Ovando

Surgida nos bailes funks do Rio, Anitta assumiu em 2022 o posto de maior representante da música brasileira no mundo, com feitos inéditos. Em março, embalada por uma coreografia, sua música em espanhol “Envolver”, lançada no fim de 2021, virou trend do TikTok e alcançou o primeiro lugar da parada global do Spotify – onde nenhum brasileiro jamais havia estado. Em novembro, a música tinha batido a marca de 450 milhões de reproduções na plataforma de streaming musical.

Mas o ano de Anitta não acabou por lá: em abril ela lançou seu álbum internacional “Versions of me” (que acabou entre os melhores do ano da lista da revista americana “Rolling Stone”) e foi atração do festival californiano Coachella, uma das maiores vitrines do pop mundial. Em junho, se tornou a sexta passoa do Brasil (e a primeira da música do país) a ganhar uma estátua de cera no museu Madame Tussauds (até então, só Pelé, Neymar, Gisele Budchen, Adriana Lima e Alessandra Ambrosio tinham recebido a deferência).

No fim de agosto, Anitta se tornou a primeira brasileira a vencer um prêmio do MTV Video Music Awards (VMA), o de melhor clipe de música latina (por “Envolver”). E em novembro, ainda ganhou o prêmio de melhor artista latino na versão europeia do VMA, o MTV Europe Music Awards (EMA). Para fechar o ano, a cantora teve a prova de que realmente tinha virado nome de peso no pop internacional ao ser indicada ao Grammy de melhor artista novo, ao lado da banda italiana Maneskin e de artistas como Omar Apollo, Muni Long, Samara Joy e Latto. A premiação será entregue dia 5 de fevereiro.

Investimento em conteúdo

Anitta foi um dos melhores exemplos em 2022 de como a música se moveu dos ambientes tradicionais das gravadoras e das plataformas de streaming para o das redes sociais, como o TikTok – determinante para o sucesso de músicas a reboque de coreografias ou desafios.

— Ela investiu muito na produção de conteúdo para o TikTok neste ano, e não à toa figurou nas nossas listas de destaques do ano. Anitta é um dos nossos maiores exemplos de como utilizar a plataforma para criar conectividade com a audiência e também com as tendências — diz Roberta Guimarães, líder de conteúdo musical do TikTok Brasil, lembrando que em 2022 foi realizado com a cantora o projeto exclusivo House of Anitta. — Para se ter uma dimensão do sucesso, a hashtag #HouseOfAnitta soma mais de 480 milhões de visualizações até o momento.

Ludmilla no Palco Sunset do Rock in Rio — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Ludmilla no Palco Sunset do Rock in Rio — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Mas se o mundo foi de Anitta em 2022, o Brasil se curvou a outra cantora vinda da cena carioca do funk: Ludmilla, que se consagrou com uma das apresentações mais elogiadas do Rock in Rio e ainda colheu os frutos do volume 2 de “Numanice”, no qual voltou a investir no pagode, um ano após o primeiro disco. O álbum deu à cantora o seu primeiro Grammy Latino (na categoria de samba e pagode) e rendeu uma versão ao vivo, com faixas gravadas com Alcione e Belo.

Junto com Gloria Groove (que despontou com o álbum “Lady Leste” e brilhou na apresentação do Prêmio Multishow), Ludmilla abriu caminhos para o pop brasileiro em 2022.

Outros destaques

‘Acorda Pedrinho’ viraliza o Jovem Dionisio

A banda curitibana Jovem Dionísio, responsável pelo hit 'Acorda Pedrinho'.  — Foto: Divulgação
A banda curitibana Jovem Dionísio, responsável pelo hit 'Acorda Pedrinho'. — Foto: Divulgação

Lançada 21 de março, “Acorda Pedrinho” parecia ser só uma boa canção pop de um ascendente grupo de indie-MPB de Curitiba, o Jovem Dionisio. Só que em maio, a inesperada viralização da faixa mudou tudo para o quinteto, que virou memes, sensação nacional e atração dos principais festivais do país.

‘Running up that hill’ revive Kate Bush

A cantora inglesa Kate Bush — Foto: Reprodução
A cantora inglesa Kate Bush — Foto: Reprodução

Incluída em uma cena da quarta temporada da série “Stranger Things”, a canção de 1985 “Running up that hill” não só fez muito mais sucesso em 2022 do que quando foi lançada (chegou ao primeiro lugar da parada britânica): ela ainda levou sua reclusa cantora, Kate Bush, sair da toca para agradecer.

A queda de Kanye West

Rapper Kanye West  — Foto: Jean-Baptiste Lacroix/AFP
Rapper Kanye West — Foto: Jean-Baptiste Lacroix/AFP

Astro bilionário do rap, dono de grife e casado com Kim Kardashian, ye (antes conhecido como Kanye West) pôs tudo a perder em 2022: casamento (o divórcio saiu em novembro), fama (depois de falas antissemitas) e fortuna (quando a Adidas terminou seu contrato com ele, por causa dos disparates).

A indignação de Planet, Ratos e Mundo Livre

O grupo Planet Hemp — Foto: Divulgação
O grupo Planet Hemp — Foto: Divulgação

“Não tem mais bandido agora / todo mundo é mocinho”, provoca Marcelo D2 em “Distopia”, música de “Jardineiros”, novo álbum do Planet Hemp – um dos que, em 2022, puseram o dedo nas feridas de um país dividido, junto com “Necropolítica” (Ratos de Porão) e “Walking dead folia” (Mundo Livre S/A).

Ana Castela inagura o ‘agronejo’ nas paradas

Ana Castela — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Ana Castela — Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

Ganhadora do Prêmio Multishow e do TikTok Awards, a cantora do Mato Grosso do Sul Ana Castela, despontou aos 18 anos, em 2022, com “Pipoco” – um misto de sertanejo e dance music, que chegou ao primeiro lugar do Spotify Brasil e impulsionou o agronejo: o pop orgulhoso de suas origens rurais.

Poze do Rodo consagra a ascensão do trap

Capa de "O sábio", álbum do MC Poze do Rodo — Foto: Reprodução
Capa de "O sábio", álbum do MC Poze do Rodo — Foto: Reprodução

Um dos artistas de maior sucesso do streaming, com mais de 1,5 bilhão de plays de suas músicas, o MC carioca Poze do Rodo sacramentou a força da música das favelas ao lançar em novembro o forte álbum “O sábio”: uma ópera-trap contando a história de um menino que sobreviveu à pobreza e à violência.

‘MOTOMAMI’, o grande álbum do pop de 2022

Capa do álbum "Motomami", da cantora espanhola Rosalía — Foto: Reprodução
Capa do álbum "Motomami", da cantora espanhola Rosalía — Foto: Reprodução

Fragmentado, ousado e definitivamente criativo, “MOTOMAMI”, da espanhola Rosalía, foi o grande álbum de música pop de 2022, ano em que mulheres batalharam duro para deixar sua marca: seja Beyoncé (com o ótimo “Renaissance”) ou Taylor Swift (com “Midnights”, maior êxito comercial do ano).

Bad Bunny e Marília: os reis do streaming

Marília Mendonça é cantora mais ouvida no Brasil em 2022 — Foto: Divulgação
Marília Mendonça é cantora mais ouvida no Brasil em 2022 — Foto: Divulgação

Astro porto-riquenho do reggaeton, que em 2022 lançou o álbum “Um verano sin ti”, Bad Bunny foi o artista mais ouvido do ano na maior plataforma de streaming do mundo, o Spotify. No Brasil, o campeão do Spotify foi Marília Mendonça, cantora falecida em 2021, que lidera essa parada desde 2017.

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