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Por — São Paulo

A trajetória de “Som da liberdade”, que estreou na quinta-feira (20) em mais de 800 salas de cinema no país, certamente dá um filme à parte. Tanto que o diretor, o mexicano Alejandro Monteverde, já planeja um documentário sobre a “odisseia” do longa. Produzido pelo modesto estúdio Angel, conhecido pela série “The Chosen”, que narra a vida de Jesus e é exibida pela Netflix, o filme foi lançado nos Estados Unidos em julho e rapidamente se transformou em um arrasa-quarteirão, desbancando produções multimilionárias como “Indiana Jones e a relíquia do destino”. Tornou-se a produção independente mais bem-sucedida desde “Parasita”, que venceu o Oscar de Melhor Filme. Já arrecadou mais de US$ 200 milhões em todo o mundo. No entanto, não chama atenção apenas pelo sucesso improvável. O filme acabou no meio das guerras culturais americanas e tem se mostrado um chafariz de teorias da conspiração.

“Som da liberdade” busca conscientizar o público sobre a tragédia do tráfico sexual de crianças explorando os clichês dos filmes de ação. Tem um protagonista durão e sensível, que não se intimida diante dos vilões e não segura as lágrimas diante das vítimas. A história é dramática, mas o filme consegue fazer piada aqui e ali. É inspirado na Operação Underground Railroad, capitaneada pelo agente do Departamento de Segurança Interna dos EUA Tim Ballard, que desbaratou uma quadrilha internacional de traficantes de crianças. No filme, ele é interpretado por Jim Caviezel (o Jesus, de “A paixão de Cristo”), alia-se a um ex-membro do Cartel de Medellín que ouviu o chamado divino e se embrenha na selva colombiana para salvar uma menina hondurenha, vítima de exploração sexual. “Nenhum dos filhos de Deus está à venda”, diz o protagonista, que é mórmon e pai de nove filhos.

O sucesso estrondoso do filme entre o público conservador e o endosso de personalidades da direita americana (o ex-presidente Donald Trump, o ator Mel Gibson) levou críticos a suspeitar que “Som da liberdade” aludia à teoria da conspiração conhecida como QAnon, que é bastante popular entre a extrema direita nos EUA. Trata-se de uma narrativa falsa que acusa os progressistas de controlarem redes globais de tráfico sexual infantil.

Verdade seja dita: “Som da liberdade” não faz nenhuma referência a supostas maquinações pedófilas da esquerda. No entanto, ficou difícil dissociar o filme do QAnon depois de Cazeviel apoiar publicamente a teoria conspiratória e de espectadores inflamados acusarem resenhistas que criticaram o filme de pedófilos. Miles Klee, da revista Rolling Stone, recebeu até ameaças de morte por descrever o longa como um “thriller com pitadas de QAnon”.

De passagem pelo Brasil, Monteverde, o diretor, lamentou a associação do filme ao QAnon, termo que ele se recusa a pronunciar.

— Quando o filme foi concebido, essas teorias nem existiam! No início, pensei que não íamos sobreviver a esses ataques, a esses rótulos. Mas o público nos defendeu. Foi a melhor defesa possível! E o melhor é que não é tão fácil identificar boa parte do nosso público com um ou outro partido político — diz ele.

Mais polêmica

O roteiro de “Som da liberdade” começou a ser escrito em 2015, dois anos antes do surgimento do QAnon. As gravações ocorreram em 2018. O lançamento do filme atrasou devido a mudanças de distribuidora. Mas isso não impediu espectadores de atribuir a demora a um suposto boicote de Hollywood. Sim, fãs de “Som da liberdade” também espalham teorias conspiratórias. Uma delas diz que a AMC, maior de rede de cinemas dos EUA, estaria exibindo o filme em salas sem ar-condicionado em pleno verão na tentativa de forçar a saída do público durante a sessão. Produtor do filme, Jeffrey Horman desmente o boato.

— O que aconteceu é que havia várias salas da ACM fechadas desde a pandemia e que foram reabertas para exibir o filme. Em várias delas, os ar-condicionados não eram ligados há anos e acabaram quebrando na reabertura. É isso. Não tem conspiração nenhuma. Na verdade, a ACM abraçou o filme — explica o produtor, também durante passagem pelo Brasil.

As teorias conspiratórias não são a única pedra no caminho de “Som da liberdade”. Tim Ballard, o caçador de pedófilos que inspirou a história, é uma figura controversa. Depois de libertar crianças na Colômbia, ele fundou a ONG Operation Railroad Underground (OUR). Porém, a efetividade das missões secretas da organização, que visam resgatar vítimas de exploração sexual, tem sido questionada. Recentemente, Ballard foi afastado da direção da OUR após sete mulheres o acusarem de importunação sexual. Durante as tais missões, Ballard teria forçado essas mulheres a compartilharem a cama ou tomarem banho com ele. Também teria enviado uma foto de cueca a uma delas perguntando o que ela estaria disposta a fazer para salvar crianças. A OUR negou qualquer relação com o QAnon.

Apesar das controvérsias, o diretor e o produtor preferem ver o copo meio cheio: ao menos, o debate sobre o tráfico sexual infantil está ocorrendo. Eles esperam que em países como o Brasil, onde teorias conspiratórias sobre pedofilia ainda não se alastraram tanto, as discussões possam ser mais profundas. No entanto, as controvérsias surgidas nos EUA devem respingar aqui, pois a associação do filme com a extrema direita nacional já começou. Para impulsionar a divulgação do longa no país, firmou-se uma parceria com a Brasil Paralelo, plataforma conhecida por documentários que revistam a História à luz de interpretações conservadoras e acusada por críticos de espalhar negacionismo e teorias da conspiração.

“Som da liberdade” também já caiu nas graças do bolsonarismo. Na terça-feira (19), os deputados Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Mario Frias compareceram à pré-estreia do longa em Brasília. Em um vídeo na rede social X (ex-Twitter), a senadora Damares Alves convocou toda a “comunidade cristã” a “lotar os cinemas”.

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