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Por Lucas Salgado — Rio de Janeiro

Ariel, a jovem mulher-peixe do conto de Andersen que sonha em viver na superfície, chegou aos cinemas pela primeira vez em 1989, com a animação “A pequena sereia”. Dirigido por Ron Clements e John Musker, o filme foi sucesso de público e crítica, levando duas estatuetas do Oscar (melhor trilha e melhor canção original, “Under the sea”). Começava ali uma nova Era de Ouro dos desenhos da Disney. Na sequência, viriam títulos hoje considerados clássicos, como “A Bela e a Fera” (1991), “Aladdin” (1992), “O rei leão” (1994) e “Pocahontas” (1995).

Passados 34 anos da animação original, Ariel retorna às telonas em um longa live-action que estreia hoje nos cinemas. A nova versão de “A pequena sereia”, porém, foi antecedida de uma polêmica em torno da transformação de Ariel, de uma sereia com pele branca e cabelos ruivos para uma jovem negra com dreads.

Para viver a personagem em carne e osso (e espinhas geradas por computador), foi selecionada Halle Bailey, americana de 23 anos, conhecida pela série “Grown-ish” e pela parceria musical com a irmã Chloe — elas têm contrato com a gravadora Parkwood, de Beyoncé. Desde que foi anunciada como a sereia que cede sua voz para ganhar pernas e circular em terra firme, Halle foi alvo de ataques racistas. Nas redes, a atriz recebeu uma enxurrada de comentários preconceituosos, e a hashtag #NotMyAriel (“não é a minha Ariel”) foi parar nos trending topics. Ano passado, o trailer do filme foi recebido com chuva de dislikes.

— Foi algo tão arcaico. Não acreditei que estávamos discutindo a cor de pele de alguém em pleno século XXI — lamenta Rob Marshall, diretor do novo “A pequena sereia”, que chega hoje aos cinemas.

Halle Bailey e Jonah Hauer-King em "A pequena sereia" — Foto: Divulgação
Halle Bailey e Jonah Hauer-King em "A pequena sereia" — Foto: Divulgação

Conhecido pelo trabalho no musical “Chicago”, Marshall lembra que Halle “tomou” o papel para ela e que é “a Ariel perfeita”.

— Halle foi a primeira pessoa a fazer teste para Ariel. Ela fechou os olhos e começou a cantar “Part of your world”. Ao final, eu estava chorando. — conta o cineasta. — Depois disso, continuamos procurando, mas ninguém chegou perto. Ela tem tudo, a paixão, a força, a vulnerabilidade, a ingenuidade. Tem uma voz fantástica. Ficou claro que seria ela.

Após ataque, Onda de amor

Se por um lado, a escalação foi alvo de ataques, por outro despertou uma onda de amor e representatividade. Após a divulgação do primeiro teaser, um vídeo viralizou on-line com garotinhas pretas emocionadas se verem diante de uma sereia interpretada por uma atriz negra.

“Quando eu vi o vídeo com as reações das crianças, eu chorei. Me lembrei da garotinha que eu era. Se eu visse uma sereia negra quando jovem, isso teria mudado toda a minha perspectiva de vida”, contou Halle, de 23 anos, em entrevista à apresentadora Maju Coutinho no programa Fantástico.

Importante nome da dramaturgia no Brasil, Zezé Motta, de 78 anos, se emociona ao falar sobre a importância na escolha de Halle para o papel.

— É ver a realização de um sonho. Me deixa muito feliz e emocionada. É uma luta da qual participo há 40 anos que é por uma maior diversidade no distribuição dos papéis — fala a atriz que dublou a vilã Úrsula na animação original. — É importante as crianças saberem que podemos ter uma sereia negra. Por que não? Isso faz um bem danado para a autoestima. É como o Obama dizia: “yes we can” (“sim, nós podemos”).

A atriz e cantora Jéssica Ellen, de 30 anos, também celebra a existência de uma Ariel preta e relembra uma experiência na infância para reforçar a importância dessa representatividade:

— É uma grande alegria ver esse filme sendo feito, eu cresci não tendo uma princesa preta. Lembro que, quando criança, eu adorava a Branca de Neve, era um dos meus filmes favoritos. Quando eu chegava na escola e a gente ia brincar de princesa, eu falava “eu quero ser a Branca de Neve”. E as minhas amigas respondiam, “você não pode ser a Branca de Neve, ela não é preta” — lembra. — Cresci ouvindo que eu não poderia ser uma princesa. Ver esse filme acontecendo com uma protagonista jovem, preta, com dreads, é muito significativo e poderoso para crianças pretas da nova geração. Elas vão poder crescer dizendo que elas podem ser princesas, porque existe uma referência. Fico feliz que meu filho vai crescer tendo referências de um protagonismo preto.

‘Filme é fiel ao original’

Ao lado da Ariel de Halle, o filme traz Jonah Hauer-King como o príncipe Eric, Melissa McCarthy como Úrsula e Javier Bardem como o rei Tritão, enquanto Daveed Diggs, Jacob Tremblay e Awkwafina emprestam suas vozes para o caraguejo Sebastião, o peixe Linguado e a gaivota Scuttle.

Vencedor do Grammy e do Tony pelo trabalho no musical da Broadway “Hamilton”, no qual interpretou Marquês de Lafayette e Thomas Jefferson, Daveed falou um pouco sobre seu Sebastião.

Sebastião em "A pequena sereia" — Foto: Divulgação
Sebastião em "A pequena sereia" — Foto: Divulgação

— O filme é fiel ao espírito do original. O Sebastião é bem parecido. Ele é cheio de regras, mas está disposto a ceder pelo bem de Ariel — conta o ator.

Daveed, de 41 anos, revela que era um grande fã da animação original da Disney e que se impressionou como as músicas permaneceram em sua cabeça.

— O engraçado é que não via o filme há 20 anos. No meu teste, me pediram para cantar “Under the sea”. Fiquei com medo de não saber a letra, mas assim que começou a tocar, eu percebi que lembrava de cada palavra. Isso mostra o quão incríveis são as músicas.

Além das composições do lendário Alan Menken (compositor presente em quase todas as trilhas da Disney dos anos 1990), o novo filme traz três canções inéditas com letra de Lin-Manuel Miranda, ator e criador de “Hamilton”, fã confesso de “A pequena sereia”, a ponto batizar seu filho como Sebastian, nome original do caranguejo da história.

Menken e Miranda trabalharam juntos ainda para alterar a letra de “Kiss the girl”, que precisou se adequar aos novos tempos para reforçar o consentimento na relação entre Ariel e Eric.

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