Antônio Gois
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Antônio Gois

Um espaço para debater educação

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Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.

A garantia de infraestrutura adequada a todas as escolas públicas sempre foi um dos aspectos destacados por educadores como essenciais para a melhoria da qualidade da educação. No contexto de mudanças climáticas, o tema ganha ainda mais relevância, afinal, ondas de calor, secas prolongadas, enchentes e outras consequências do aquecimento global serão cada vez mais frequentes, aumentando os riscos de suspensão de aulas por tempo prolongado ou de piora nas condições de estudo.

No entanto, dados do Censo Escolar revelados em reportagem de Bruno Alfano no GLOBO mostram que sete em cada dez salas de aula não são climatizadas no Brasil. No ano passado, 2.200 alunos ficaram sem aulas no período de extrema seca no Amazonas. No Rio Grande do Sul, 400 mil alunos foram afetados agora com enchentes. Mesmo escolas que não sofreram danos em sua infraestrutura podem ter atividades interrompidas quando precisam servir de abrigo, situação que ocorreu no Sul e nas chuvas no litoral de São Paulo no ano passado.

Um estudo (Escuelas Verdes) publicado em dezembro do ano passado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento já alertava sobre a necessidade de investirmos mais na adaptação das escolas, trazendo exemplos práticos e de diretrizes para construção ou reconstrução da infraestrutura, de modo a tornar esses ambientes mais resilientes e sustentáveis.

O relatório destaca alguns estudos que já mostravam – antes mesmo do debate sobre as consequências das mudanças climáticas - que a melhoria da infraestrutura escolar pode elevar as taxas de frequência de alunos em até 60%, além de contribuir para maiores taxas de conclusão, especialmente para alunos mais vulneráveis. Cita também evidências de ganhos na aprendizagem, um resultado relativamente intuitivo quando a comparação é feita entre escolas com infraestrutura precária comparada àquelas com condições minimamente adequadas.

Em texto publicado no mês passado no site do Banco Interamericano, três autoras do estudo (María Soledad Bos, Liora Schwartz e Livia Minoja) retomam algumas conclusões e listam cinco passos para planificar escolas verdes e resilientes. O primeiro deles é um estudo cuidadoso das condições ambientais e das vulnerabilidades climáticas de cada local. Em seguida, é preciso identificar estratégias de adaptação e eficiência energética mais adequadas. Uma terceira orientação é procurar materiais com baixo impacto ambiental e baixo consumo de energia durante o ciclo de vida de fabricação. A quarta recomendação é a utilização, sempre que possível, de sistemas de energia renovável. Por fim, é importante também considerar outros aspectos para reduzir o impacto ambiental das escolas, como a otimização do consumo de água e a gestão de resíduos sólidos.

Em países onde ainda há escolas com infraestrutura altamente precária, é sem dúvida mais desafiadora a adaptação a essa nova realidade climática. Na América Latina e Caribe, por exemplo, o relatório lembra que mais de 40% dos estudantes do 3º ano do fundamental estudam em estabelecimentos com acesso escasso a água e saneamento. Mas os autores citam evidências de que a adaptação a códigos de construção mais seguros e adaptados a eventos extremos climáticos é uma medida muito mais eficiente e eficaz do que arcar com os prejuízos da reconstrução.

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