Sonar - A Escuta das Redes
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Sonar - A Escuta das Redes

Um mergulho nas redes sociais para jogar luz sobre a política na internet.

Informações da coluna

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PL-AL), propôs nesta terça-feira uma medida para tentar coibir brigas entre parlamentares da Casa. A iniciativa ocorre após uma semana conturbada, na qual deputados trocaram agressões. No mesmo dia da sugestão de Lira, a ida do ministro Paulo Pimenta à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) também teve troca de insultos. Dados da consultoria Bites a pedido do GLOBO mostram que transformar debates em “ringues” tem servido para deputados turbinarem suas redes, uma vez que houve crescimento no engajamento dos envolvidos nas discussões recentes da Casa.

O tema foi levado ao plenário, e os deputados aprovaram a urgência, que acelera a tramitação, por 302 votos a 142, além de uma abstenção. Os deputados devem votar o texto nesta quarta-feira. O presidente da Câmara propôs que a Mesa Diretora aplique “afastamentos cautelares” quando entender que um parlamentar infringiu os limites do código de ética da Casa. “Não podemos mais continuar assistindo aos embates quase físicos que vêm ocorrendo na Casa e que desvirtuam o ambiente parlamentar, comprometem o seu caráter democrático e — principalmente — aviltam a imagem do Parlamento na sociedade brasileira”, escreveu Lira em suas redes sociais.

A movimentação do presidente da Câmara despertou reações de parlamentares.

— Não dá para aceitar o AI-5 do presidente Arthur Lira. Vai se ampliar desta forma poder do presidente da Câmara e da Mesa Diretora para afastar um deputado federal? — criticou o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que se envolveu em confusão recente com um integrante do MBL.

Falando para a base

Atualmente, os parlamentares só podem ser punidos após decisão do colegiado. As punições existentes são: censura, verbal ou escrita; suspensão de prerrogativas regimentais por até seis meses; suspensão do exercício do mandato por até seis meses; e perda de mandato.

O levantamento da Bites mapeou postagens que fazem menção, em algum n��vel, aos bate-bocas ocorridos na Câmara entre quinta e sexta-feira passada. Ele mostra liderança em engajamento do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), com 1.921.695 interações. O parlamentar bolsonarista trocou insultos com André Janones (Avante-MG) após sessão do Conselho de Ética da Câmara que arquivou a acusação contra o aliado do Palácio do Planalto por suposta prática de rachadinha em seu gabinete.

Ambos partiram para o confronto físico, mas foram separados por assessores, outros congressistas e integrantes da Polícia Legislativa. Toda a cena foi registrada por celulares e serviu para novas provocações nas plataformas digitais.

A publicação mais popular de Ferreira mostra um corte de uma fala do parlamentar na comissão. “Agora ouviu na cara — literalmente”, escreveu. Em sua postagem com maior engajamento no dia da confusão, Janones se refere a Ferreira como “frouxo” e questiona se sua valentia é “apenas nas redes”.

— Não tem nenhum motivo para os parlamentares deixarem de fazer isso por conta própria ou porque estão arrependidos. O que poderia levar os deputados a deixarem de ter esse tipo de atuação seria se houvesse alguma sanção mais grave que impacte de forma relevante a atuação deles como deputados. Se não, é só vantagem — avalia André Eler, diretor técnico da Bites.

Na mesma semana, uma audiência da ministra Cida Gonçalves (Mulheres) na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados terminou em confusão entre a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) e Ferreira. Após uma discussão iniciada entre a psolista e a deputada da oposição Júlia Zanatta (PL-SC), o deputado saiu em defesa de sua colega de bancada, questionando a identidade de gênero de Hilton, que é uma das duas parlamentares transexuais do Congresso.

Erika Hilton aparece atrás de Ferreira e do deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO) no ranking que mede engajamento, com 912.478 interações, três vezes mais do que o acumulado por Janones no período (300.502). Ao contrário de outros parlamentares, a postagem mais repercutida da psolista não mostra recortes de uma briga. Na publicação, Hilton afirma que a deputada Luiza Erundina (PSOL) passou mal e foi parar na UTI “após duas horas de puro caos causado pelos bolsonaristas na Comissão dos Direitos Humanos”.

— Ferreira e Hilton, em campos opostos, são os parlamentares que conseguem provocar engajamento nas redes da melhor forma. Mais do que Janones, inclusive, que vem chamando atenção por ter um comportamento inconsistente nas redes sociais — afirma Eler.

Batalha por likes — Foto: Editoria de Arte
Batalha por likes — Foto: Editoria de Arte

Bate-boca na CCJ

Nesta terça-feira, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara teve sessão tensa ao receber o ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, para falar sobre um pedido de investigação feito por ele a respeito de notícias falsas divulgadas sobre as enchentes no estado.

Uma das discussões foi provocada pelo deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que questionou Pimenta se sua esposa havia viajado com ele em um helicóptero das Forças Amardas. O ministro respondeu que sim e provocou o bolsonarista.

— Se o senhor acha que tem alguma coisa estranha nisso, inclusive tenho uma relação com ela de respeito. A minha delegação sou eu que escolho e com ela eu mantenho uma relação de respeito, sem violência, sem agressão, e para mim é um orgulho ela poder andar junto comigo — disse o ministro Pimenta.

Bilynskyj rebateu:

— Ele insinuou de alguma forma que o meu relacionamento com a minha esposa é violento. Isso, ministro, é para o senhor aprender o que é fake news, o que é falso e mentiroso. Esse tipo de moral de esgoto que Vossa Excelência traz aqui para Câmara — afirmou.

Já o deputado Gilvan da Federal (PL-ES) citou rachadinhas e investigações criminais em sua manifestação. O parlamentar chegou a insinuar a participação de Pimenta em irregularidades. O ministro respondeu e citou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), presente na audiência, o que provou nova discussão.

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