Acusação feita pelo Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Ministério Público (MP) de Faro revela lucro milionário obtido por golpistas brasileiros e portugueses ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), apurou o Portugal Giro.
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Uma parte dos 29 brasileiros, 30 portugueses e 12 africanos acusados têm conexão com a maior organização criminosa do Brasil, segundo o MP.
Eles agiam retirando dinheiro de contas bancárias das vítimas através do golpe de phishing. De acordo com a investigação, a facção criminosa tinha um gerente em Portugal e agiu no país do último trimestre de 2021 até dezembro de 2023.
"Membros ligados ao PCC e com residência no Brasil desenvolvem este tipo de atividade e gerem a mesma com uma organização do tipo empresarial, em que possuem escritórios onde trabalham pessoas que são contratadas para desenvolver atividades relacionadas com o phishing", diz o MP.
A organização teria movimentado em transações bancárias cerca de € 403 mil (R$ 2,3 milhões) com o golpe.
Quase R$ 2 milhões em contas
A soma dos valores identificados nas contas bancárias dos acusados como vantagem ilícita é de cerca de € 321 mil (R$ 1,8 milhão).
Um mineiro de Belo Horizonte com cidadania portuguesa e um português lideram a lista de 34 criminosos que receberam dinheiro em suas contas bancárias. Juntos, eles dois lucraram mais de € 130 mil (R$ 755 mil).
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Além deles dois, um brasileiro e uma brasileira aparecem na lista do MP com € 30 mil (R$ 174 mil) e € 25 mil (R$ 145 mil), respectivamente. Somente os quatro criminosos obtiveram mais de R$ 1 milhão com o golpe.
Escritório paulista
Este português acusado se mudou para São Paulo em setembro de 2022 e ampliou seus contatos com membros da organização:
“Foi residir num apartamento alugado pela organização e trabalhou num escritório com várias pessoas que faziam igualmente ligações telefônicas com vista a obter códigos dos titulares das contas bancárias”, informa a acusação do MP.
Ainda segundo o MP, um membro da facção identificado como 02 ofereceu ao português 50% do dinheiro obtido em Portugal. E pediu que recrutasse uma equipe para trabalhar em solo português.
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O português concordou, contactou amigos e estruturou uma rede de “mulas”, pessoas que sacavam quantias ou cediam suas contas em troca de comissão para lavar o dinheiro retirado sem consentimento das contas bancárias das vítimas:
“Neste processo foram angariadas dezenas de pessoas que venderam as suas contas bancárias e cederam os seus cartões multibanco e respectivos códigos de movimentação, mediante o pagamento de quantias monetárias”.
Páginas falsas
Os criminosos utilizavam diversas maneiras de direcionar as vítimas para páginas falsas e semelhantes às das contas bancárias verdadeiras para roubar dados de acesso.
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Eles enviavam mensagens com logotipos idênticos aos dos bancos e completavam o golpe com chamadas telefônicas feitas por pessoas recrutadas para se fazerem passar por funcionários das instituições. Em troca, recebiam comissões.
"Os telefonistas contactam os titulares das contas bancárias e fazem crer que estão a ser vítimas de um ataque informático, pelo que têm de fornecer rapidamente dados bancários, sob pena de ficarem sem o seu dinheiro", aponta o MP, continuando:
"Após criarem esta aparência, os titulares das contas bancárias facilmente seguem as instruções dos telefonistas e acabam por fornecer os códigos, designadamente sms token, que faltam para completar as operações bancárias que os hackers pretendem efetuar”.
Conexão entre países
Parte dos dados foram roubados a partir do Brasil e enviados para quem atuava em Portugal. Com o controle do acesso, os criminosos fizeram transferências e pagamentos de serviços a partir das contas das vítimas e o dinheiro circulou por ambos os países.
O MP revela que foi “determinada a apreensão de saldos de contas bancárias referentes a quantias subtraídas a diversas vítimas (...) que devem ser declaradas perdidas a favor do Estado, sem prejuízo dos direitos dos ofendidos”.
Os suspeitos foram acusados pelo DIAP de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e falsidade informática. A acusação é baseada em investigação da Polícia Judiciária (PJ).
Um dos brasileiros está em prisão preventiva. Foi detido enquanto se preparava para deixar o país. Outros cinco foram detidos, prestaram depoimentos e foram liberados:
"Tendo em conta que o inquérito já se encontra concluído, o perigo de perturbação do mesmo já não existe. Por outro lado, se os arguidos mencionados pretenderam fugir já o fizeram, pelo que, por ora, o Ministério Público nada tem a promover".
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