A indústria dos móveis em Portugal vai precisar de três mil trabalhadores pelos próximos três ou quatro anos e sofre de uma crise de mão de obra. O setor é um recorte do problema nacional português.
O diagnóstico é do diretor executivo da principal organização nacional do setor, a Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (Apima), Gualter Morgado.
— É seguro que três mil pessoas irão se aposentar, deixarão as empresas e precisarão ser substituídas. Vai acontecer nos próximos anos e teremos um tempo curto para repor. Precisamos de gente para um ofício que será cada vez mais raro — disse Morgado, ressaltando:
— Mas falta mão de obra em todos os setores.
Recrutar no Brasil
Empresas do setor já foram ao Brasil recrutar trabalhadores. Os brasileiros têm ocupado vagas, segundo Morgado, mas em um ritmo que precisa ser mais veloz:
— Como a indústria está concentrada nos arredores do Porto e Braga, onde há milhares de brasileiros, foram vindo e passando informações aos colegas — disse ele, prosseguindo:
— As empresas têm acolhido, mas é um processo demorado, porque demanda formação e especialização. No Porto, todos restaurantes têm trabalhadores do Brasil, porque trabalhar na gastronomia é mais fácil.
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O novo plano de imigração do governo, que extinguiu as manifestações de interesse e promete abrir um canal exclusivo de regularização para brasileiros e africanos da CPLP, ainda não oferece a possibilidade de resolver rapidamente o problema.
— O sistema de imigração foi alterado e vai levar algum tempo para funcionar até que possamos contratar, integrar e garantir acesso à formação. Uma coisa é certa: não conseguimos resolver internamente. Só se todas as famílias portuguesas tiverem um filho agora. Ainda assim, vai demorar 18 anos até que possam trabalhar.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou ontem que a população portuguesa passou dos 10,6 milhões, um aumento de 155.701 pessoas devido ao saldo migratório positivo. O saldo natural segue negativo.
Outro fator que tem atrapalhado a reposição de vagas é o fenômeno nem-nem, classificação que foi adaptada por Morgado à realidade portuguesa do setor.
— São nem-nem porque nem trabalham e nem querem procurar trabalho.
Manifestação em Portugal por melhores condições de habitação
Salários baixos em relação à inflação imobiliária, deficiência na rede de transportes públicos para cidades periféricas, onde estão grandes indústrias que precisam de milhares de pessoas, e impostos altos também podem afastar trabalhadores.
— Estamos falando de 35% a 40% que vão para o Imposto de Renda do trabalhador. E o próprio empregador também já paga impostos altos — disse Morgado.
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