Portugal Giro
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Portugal visto de dentro por um jornalista carioca

Informações da coluna

Gian Amato

Jornalista há mais de 20 anos, fez diversas coberturas internacionais por O Globo. Escreve de Portugal desde 2017.

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O músico Pierre Aderne nasceu em Toulouse, na França, e foi para o Rio com dois anos de idade junto com o pai português e a mãe brasileira. Ele tem nacionalidades brasileira e portuguesa. Vive há 12 anos em Lisboa, mas, segundo contou ao Portugal Giro, o sotaque ainda desperta a raiva xenófoba em Portugal.

Ao evitar seguir o trajeto normal e evitar uma manobra ao volante em Lisboa para dar passagem a um táxi, Aderne conta que viu o taxista português descer do carro e bater à janela. Com seu sotaque carioca, perguntou ao homem o que ele queria. E ouviu:

“Porco!”.

Aderne saiu do carro com o telefone na mão e filmou uma parte da sequência do ataque xenófobo.

“Vou para onde?”, perguntou o músico.

“Para a tua terra, seu porco, porco!”, atacou o taxista xenófobo, em plena rua, ao lado do seu táxi, como pode ser visto no vídeo abaixo enviado por Aderne ao Portugal Giro.

Músico Pierre Aderne sofre xenofobia em Lisboa

Músico Pierre Aderne sofre xenofobia em Lisboa

Aderne e o seu advogado avaliam como irão agir para identificar o agressor e fazer uma queixa formal do episódio de xenofobia, ocorrido no final de setembro deste ano.

Enquanto decidem a medida legal que devem tomar, o músico usa a arte como forma de rebater o crime de intolerância. Ele vai lançar no próximo dia 15 “Cartão de cidadão”, com letra dele e música de Moacyr Luz.

A canção é parte de um projeto maior, chamado Sonoridades Estrangeiros Fronteiras (SEF), uma referência ao extinto Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).

— O projeto vai se chamar SEF. Além de “Cartão de cidadão”, vamos lançar "Fado enredo", com música do Pedro Luís, que conta a história da imigração portuguesa. São as armas que temos — disse Aderne ao blog.

Pierre Aderne: morando em Lisboa há 12 anos, carioca batizou o filho de Rio — Foto: Divulgação/Bruno Veiga
Pierre Aderne: morando em Lisboa há 12 anos, carioca batizou o filho de Rio — Foto: Divulgação/Bruno Veiga

“Cartão de cidadão” está na fase de finalização. Veja um trecho da letra:

"Canto em crioulo, em português

Sou tupi, sou guarani

Este ouro aqui é meu, freguês

Vou, vou cantar mais uma vez

Se eu falo português

Minha terra é aqui".

A documentarista Ana Sofia Fonseca será a responsável pelo filme do projeto, que terá antigas imagens de portugueses chegando ao Rio em 1920. Também serão usadas cenas de arquivo dos “bidonvilles", bairros precários nos arredores de Paris que fizeram parte da vida dos portugueses durante imigração em massa para a França na década de 1960.

— Aos portugueses, falta revisitar a própria história de imigração, fugindo da fome de Trás-Os-Montes em 1920. A diferença é que este Portugal de hoje recebe o imigrante, mas não o inclui na sociedade — disse Aderne.

Aderne garante que não sentiu revolta ao ser vítima de xenofobia. Mas se classificou como um “brasileiro de estimação” dos portugueses.

— Sendo morador da zona Sul do Rio, não era mulato, pobre, suburbano ou índio o suficiente para sofrer preconceito. Há 12 anos, quando cheguei para ficar, fui sendo submetido a episódios de xenofobia (no táxi, no caixa do supermercado, em restaurantes e etc). Pessoas que não sabiam quem eu era, porque no meio artístico nunca sofri preconceito. Depois, percebi que, na verdade, para parte da classe burguesa que gosta de mim, eu sou uma espécie de “brasileiro de estimação” — concluiu.

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