Míriam Leitão
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Míriam Leitão

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GERADO EM: 20/06/2024 - 13:40

Decisão do Copom: Taxa de juros mantida

O comunicado do Copom indicou manutenção da taxa de juros em 10,5% devido à incerteza global e alta da inflação no Brasil. Futuros cortes ou aumentos não foram descartados, dependendo do cenário econômico e cambial. Expectativa de inflação controlada nos EUA pode influenciar decisões futuras.

Nelson Rodrigues dizia que toda unanimidade é burra. Nelson Rodrigues era inteligentíssimo, a frase é ótima, mas não se aplica no caso agora do Banco Central. A unanimidade foi a decisão mais inteligente a ser tomada pelo Copom, nas atuais circunstâncias, porque afastou vários temores, como já disse aqui.

O importante agora é se perguntar pelo futuro. O que o comunicado indicou? Na verdade, não ficou muito claro qual será o próximo passo.

José Roberto Mendonça de Barros me disse o seguinte sobre o comunicado:

—Não dá para extrapolar quanto tempo os juros ficarão parados. Tudo cabe naquele texto, os juros ficarem parados, os juros até subirem se necessário, ou retomar mais adiante a queda da taxa.

O texto registra que decidiram unanimemente interromper o ciclo de queda porque o cenário global está incerto, e está mesmo, enquanto o cenário doméstico está marcado por resiliência na atividade, ou seja, o país continua crescendo, com alta das projeções de inflação e as expectativas sendo desancoradas. Isso significa dizer que a inflação deixou de orbitar próxima dos 3%, que é a meta, e começa subir. Esse movimento, diz o comunicado, demanda maior cautela.

Mas, o que é maior cautela? Quanto tempo de taxa de juros precisará ficar onde está? Isso de fato não ficou explícito no comunicado. Vamos ver se a Ata trará maiores novidades na terça-feira.

A informação do comunicado é que uma política monetária contracionista será mantida por tempo suficiente em patamar que consolide, não apenas esse processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno da meta.

Essa política contracionista pode resultar numa taxa de juros de 10,5%, como atual, ou pode ser até um pouco mais baixa. Afinal 10,5% é muito contracionista. Com a inflação no patamar atual, estamos falando de um juro real de quase 7%, o segundo maior do mundo. O Brasil perde nesse ranking apenas para a Rússia, país em guerra há mais de dois anos contra a Ucrânia.

O Copom afirma que vai se manter vigilante e relembra, como é usual, que eventuais ajustes futuros da taxa serão ditados pelo firme compromisso de convergência à inflação à meta.

O comitê faz uma projeção de que mantida "a taxa Selic constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025."

Para Mendonça de Barros, o comunicado acabou deixando em aberto todas as possibilidades. E tudo vai depender do câmbio. Hoje o dólar amanheceu em queda, abriu em R$ 5,38, depois subiu um pouco. Mas se a cotação do dólar se acomodar em patamar mais baixo, isso é uma parte da solução, porque reduz a pressão na inflação. Se o câmbio continuar alto, isso tem impacto na inflação, evidentemente.

E ainda tem taxa de juros americana, sempre ela, pairando como um determinante. Mendonça de Barros acredita que virão informações boas e consistentes de inflaçãosob controle nos Estados Unidos, que podem vir a reduzir taxas de juros lá. O que pode se refletir em possibilidade de cortes nos juros também na banda de cá.

Os cenários estão abertos, mas o principal que aconteceu nessa reunião foi afastar a impressão de que o futuro do Banco Central é um Banco Central leniente com a inflação. Isso foi o mais importante que ficou.

Quanto ao que vai acontecer nas próximas reuniões, até quando os juros vão ficar em 10,5%, isso ainda não ficou claro. Muita gente no mercado está entendendo que a Selic se manterá nesse patamar até o fim de 2025, mas não está afastada, segundo o economista, a possibilidade de uma nova queda da taxa de juros dentro dessas circunstâncias. O governo também, segundo ele, tem que ajudar tem que ajudar parando de "dar tiro no pé".

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