Malu Gaspar
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A apuração da Polícia Federal (PF) sobre o envolvimento de Domingos e Chiquinho Brazão no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) avançou nas últimas semanas sobre operações imobiliárias de empresas dos irmãos que devem ser alvo de um novo inquérito sobre lavagem de dinheiro.

Nessa nova investigação, uma transação em especial deve ter prioridade, por envolver outro personagem notório: Dario Messer, conhecido como o “doleiro dos doleiros”.

A PF descobriu que a Superplan, imobiliária mantida por Domingos Brazão e a mulher, Alice Kroff, arrematou um imóvel que pertencia a Messer por R$ 1,6 milhão em um leilão em 2021. O apartamento de 104 m² fica em um condomínio de luxo na praia da Barra da Tijuca, no Rio.

O imóvel foi leiloado como parte do acordo de delação premiada firmado pelo operador, condenado a 18 anos de prisão por lavagem de dinheiro, junto ao Ministério Público Federal (MPF) em 2020. Messer se comprometeu a devolver R$ 1 bilhão aos cofres públicos e, para isso, renunciou a parte de seu patrimônio.

O apartamento agora faz parte da lista de 87 imóveis da imobiliária dos Brazão, entre eles unidades com valores subestimados e terrenos com indícios de grilagem de terra. A maior parte são salas comerciais na Baixada de Jacarepaguá, mas também há outros apartamentos na Barra e em bairros da Zona Norte do Rio.

Além dos imóveis, a PF encontrou evidências de que os irmãos são sócios diretos ou indiretos de pelo menos 25 postos de gasolina no estado do Rio. A suspeita é de que a dupla utilizava transações imobiliárias e a receita desses postos de gasolina para lavar dinheiro, por exemplo, de corrupção.

No relatório da Polícia Federal que baseou a prisão preventiva dos Brazão, os investigadores afirmam que Domingos, ex-deputado e conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ), “zombou das autoridades” ao comprar o imóvel que pertencia a Messer. Isso porque o leilão fez parte de uma reparação aos cofres públicos por crimes desvendados pela Operação Lava-Jato, que levou à prisão tanto Brazão quanto o próprio doleiro em frentes distintas.

Messer foi implicado pela Operação Marakata, um desdobramento da Lava-Jato, em um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que envolvia o ex-governador Sérgio Cabral. Preso em 2019 após um ano foragido, foi condenado em 2020 e, no mesmo ano, assinou sua colaboração premiada com o MPF que levou à venda de boa parte de seus imóveis.

Já Brazão foi preso em 2017 na Operação Quinto do Ouro, também derivada da Lava-Jato, que revelou o pagamento de propinas por empreiteiras e empresas de ônibus a conselheiros do TCE, entre eles Brazão, durante o governo Cabral em troca da vista grossa do tribunal a irregularidades em obras e serviços prestados no estado.

Investigadores ouvidos pela equipe da coluna afirmam que o relatório final do caso Marielle, que será concluído nesta quinta-feira (23), vai recomendar a abertura de uma nova investigação sobre a compra do apartamento, mas ressaltam que o assunto deverá ser investigado de forma mais aprofundada futuramente.

A PF hoje trabalha para concluir as investigações que elucidaram o crime contra a vereadora do PSOL, mas deve abrir novas frentes para apurar a relação de Domingos e Chiquinho Brazão com as milícias no Rio.

Grilagem e milícias

Não há indícios de que a operação tenha relação com a execução de Marielle e seu motorista, Anderson Gomes.

Mas as transações imobiliárias do Brazão entraram no foco da PF porque os investigadores acreditam que algumas delas podem ter sido o pano de fundo do homicídio. Eles encontraram no celular de Domingos a escritura de um terreno que pode corroborar a versão do assassino confesso da vereadora, Ronnie Lessa, sobre a motivação do crime.

Nos depoimentos à PF, Lessa declarou que o principal motivo dos Brazão para orquestrar o crime foi a briga em torno de um projeto de lei patrocinado por Chiquinho, então vereador, que flexibilizava regramentos ambientais e urbanísticos e contou com a oposição ferrenha de Marielle, que denunciou como a proposta favoreceria milícias.

Na prática, o texto facilitava a regularização de construções ilegais e até mesmo áreas griladas sem edificações. A partir da foto de uma escritura no celular de Domingos, a PF identificou dois terrenos gigantescos sob a posse da Superplan que seriam valorizados pela lei proposta por Chiquinho e criticada por Marielle.

O projeto, apresentado em dezembro de 2016, só foi aprovado oito meses depois, em novembro de 2017, após nove adiamentos e resistência da bancada do PSOL.

A escritura de um dos terrenos, inclusive, foi registrada em 14 de maio de 2018 – quase seis meses depois da aprovação da lei na Câmara, e dois meses depois da morte de Marielle. Os documentos trazem pistas de que os loteamentos foram grilados.

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