Malu Gaspar
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Informações da coluna

Por Johanns Eller

Investigado pela Polícia Federal (PF) no âmbito da trama golpista para manter Jair Bolsonaro na presidência após a derrota nas urnas para Lula em 2022, o general da reserva Walter Braga Netto (PL) compartilhou na tarde desta terça-feira (16) nas redes sociais uma convocação para um ato em desagravo ao ex-presidente no Rio de Janeiro.

A manifestação, prevista para o próximo domingo, é articulada pelo próprio Bolsonaro, que almeja fazer um espelho do ato bolsonarista na Avenida Paulista no fim de fevereiro na orla de Copacabana. No vídeo compartilhado pelo aliado, o ex-presidente afirma que o evento defenderá a “luta pelo Estado Democrático de Direito”, a “liberdade de expressão” e a “democracia”. Braga Netto divulgou o material, mas não redigiu qualquer legenda.

Assim como a mobilização em São Paulo, o ato no Rio é uma estratégia de Bolsonaro para tentar medir sua força política diante do avanço das investigações da Polícia Federal (PF). Desde o ato na Paulista, o ex-presidente foi indiciado pela PF por associação criminosa e inserção de dados falsos em sistemas de informações no caso da fraude de comprovantes de vacinas.

Ex-ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro, Braga Netto concorreu em 2022 como vice-presidente na chapa do então presidente e candidato à reeleição. O general, que mora em Copacabana, está proibido de manter contato com Bolsonaro e os demais alvos da operação Tempus Veritatis da Polícia Federal (PF), deflagrada em 8 de fevereiro.

Caso compareça à manifestação, ele não poderá se aproximar do aliado. Em São Paulo, outro investigado pela PF por suspeitas de ligação com o golpismo, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, passou pelas cercanias do ato e cumprimentou bolsonaristas, mas não subiu no trio elétrico ao lado do ex-presidente.

Como mostrou O GLOBO na última segunda-feira, Braga Netto tem retomado agendas políticas após um período de submersão em função das investigações da PF. Atual secretário de Relações Institucionais do PL, o general da reserva articula campanhas do partido nas eleições municipais de outubro e tem viajado para outros estados do país, como Minas Gerais – mesmo com o salário suspenso pelo partido.

Na representação que solicitou ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorização para deflagrar a Tempus Veritatis, a PF aponta Braga Netto como o articulador de ataques contra militares de alta patente com o objetivo de constrangê-los e pressioná-los a ceder aos esforços golpistas do núcleo militar que cercava Bolsonaro.

Em um dos diálogos revelados pela PF, o ex-candidato a vice de Bolsonaro orientou integrantes do grupo a difundir ataques via redes sociais ao então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Batista Junior, tratado entre eles como "traidor da pátria", e ao então chefe do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, que já relatou à PF ter resistido às investidas golpistas.

Braga Netto também direcionou ataques ao atual comandante do Exército, Tomás Paiva, à época chefe do Comando Militar do Sudeste. Em diálogos interceptados pela PF, ele afirma que o general "nunca valeu nada" e tenta vinculá-lo ao Partido dos Trabalhadores (PT), legenda de Lula.

Em outra conversa interceptada pela PF, o general da reserva e ex-ministro manifestou a possibilidade de Bolsonaro se manter no poder em 27 de dezembro de 2022, ou seja, a quatro dias da posse de Lula.

Após um ex-assessor de Bolsonaro, Sérgio Rocha Cordeiro, solicitar a Braga Netto ajuda para garantir um cargo no governo federal a uma amiga, o militar respondeu que o interlocutor poderia mandar o currículo para a secretaria-geral “se continuarmos [no poder]”.

“Fora isso vai ser foda”, admitiu Braga Netto.

Para a PF, as mensagens não só expressam a possibilidade do grupo político de Bolsonaro se manter no poder como também ratificam “que os investigados ainda estavam empreendendo esforços para tentar um golpe de Estado e acreditavam na consumação do ato, impedindo a posse do governo legitimamente eleito”.

Apesar dos elementos levantados pela PF nas investigações do golpismo, Jair Bolsonaro e seus aliados devem usar o palanque da manifestação em Copacabana para negar qualquer tentativa de romper com o Estado Democrático de Direito. No ato da Paulista, em fevereiro, o ex-presidente tentou desmerecer a importância da minuta golpista, encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres, no curso das investigações.

Resta saber como tratarão, nos autos e longe das narrativas políticas, os elementos contundentes nas mensagens captadas a partir de celulares de aliados como Braga Netto e o ex-ajudante de ordens Mauro Cid.

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