Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

Por Malu Gaspar e Johanns Eller

Mensagens de celular expostas pela Polícia Federal na representação que pediu a Alexandre de Moraes autorização para fazer a operação Tempus Veritatis mostram que o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto (PL), que concorreu a vice de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, orientou bolsonaristas a atacar nas redes o general Tomás Paiva, atual comandante do Exército, em um esforço para constranger altas hierarquias militares a ceder aos esforços golpistas de militares que cercavam o então presidente.

O material traz ainda mensagens em que Braga Netto determina que integrantes do grupo golpista que cercava Bolsonaro difundissem ataques via redes sociais ao então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Batista Junior, tratado entre eles como "traidor da pátria".

O material sigiloso, ao qual a equipe da coluna teve acesso, mostra que no dia 17 de dezembro de 2022, cinco dias após a diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente eleito, Braga Netto encaminhou uma série de mensagens ao capitão expulso do Exército Ailton Barros relatando uma suposta visita de Paiva ao ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas.

No diálogo, Braga Netto afirma que o general "nunca valeu nada" e tenta vinculá-lo ao Partido dos Trabalhadores (PT), legenda de Lula. O ex-ministro orienta Barros a disseminar uma mensagem repleta de ataques a Tomás Paiva - o que, para a investigação da PF, consistiu em uma tentativa deliberada de "atingir a reputação" do general.

De acordo com o relato de Braga Netto ao capitão, Paiva teria dado uma "mijada" - bronca no jargão militar - em Villas Bôas e sua esposa, Maria Aparecida, e dito que o casal seria prejudicado por "intervenções 'sem noção' que estão fazendo".

Na mensagem, Braga Netto diz ainda que Tomás Paiva teria falado mal de todo o "ACE" , sigla para " Alto Comando do Exército", "principalmente" do general Estevam Theophilo - que, como publicamos na semana passada, prometeu apoio à intentona golpista de Bolsonaro com tropas quando estava à frente do Comando de Operações Terrestres (Coter).

Teria dito ainda que o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, "teria que ficar quieto".

"Parece até que ele é PT desde pequeninho", escreve Braga Netto sobre Tomás Paiva, que naquele período estava sob ataque de bolsonaristas, junto com um grupo de generais apelidados de "melancias" (verdes por fora, vermelhos por dentro). "Nunca valeu nada", prossegue o general, que foi alvo da operação Tempus Veritatis da PF na última quinta-feira (8).

"A ambição derrota o caráter dos fracos.. Alias, revela", diz ele, que finaliza com uma orientação sobre o que acaba de contar: "É verdade. Pode viralizar".

Segundo a própria PF demonstra na representação, o relato aparece a seguir em mensagens de outros militares.

A suposta visita de Tomás Paiva teria tido a ver com posts que o ex-comandante Villas Boas, que chegou a ser assessor de Bolsonaro, fez após o desfecho das eleições presidenciais de 2022, em 30 de outubro daquele ano.

“A História ensina que pessoas que lutam pela liberdade jamais serão vencidas”, escreveu o general da reserva em 15 de novembro. O texto, reproduzido por Braga Netto, foi interpretado como endosso às manifestações golpistas de apoiadores de Bolsonaro na porta de quartéis e em rodovias..

Tomás Paiva só se tornaria comandante do Exército em 7 de fevereiro de 2023. Ele assumiu em substituição a Júlio César Arruda, comandante inicialmente escolhido por Lula para comandar a Força, mas foi demitido depois do 8 de janeiro, em razão do que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, definiu como uma "fratura de confiança".

Boa parte dos diálogos de Braga Netto reproduzidos pela PF em sua representação sugere que partiam de Braga Netto ordens para o ataque a integrantes das Forças Armadas que não seguiam suas diretrizes -- como o então comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, que segundo o relato do tenente-coronel Mauro Cid esteve na reunião em que o presidente discutiu uma das minutas golpistas citadas na investigação.

"Senta o Pau Batista Junior. Povo sofrendo, arbitrariedades sendo feita (sic) e ele fechado na mordomia. Negociando mordomias. Traidor da pátria. Daí pra frente. Inferniza ele e a família dele", escreveu Braga Netto a Ailton Barros no mesmo dia 15 de dezembro em que falou sobre Tomás Paiva.

O ex-candidato a vice de Bolsonaro complementa o pedido a Ailton Barros com uma indicação: "f... o BJ [Baptista Júnior]" e, ao mesmo tempo, elogiar o então comandante da Marinha Almir Garnier Santos, um dos alvos da operação da semana passada.

Barros, então, assente com a determinação de Braga Netto e responde com uma figurinha que diz "desce a chibata", em referência as críticas ao chefe da Aeronáutica.

Procurada para se manifestar sobre o teor das mensagens, a equipe do ex-ministro Braga Netto não retornou até a última atualização deste texto.

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