Malu Gaspar
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Por Malu Gaspar

A preocupação do presidente da República com o volume de crédito concedido no Brasil está tirando o sono de Lula, e de acordo com interlocutores do presidente foi o que o fez decidir receber o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, depois de meses de rusgas públicas em torno da taxa de juros.

O encontro, que ocorre no final da tarde desta quarta-feira, foi pedido pelo próprio Campos Neto, em um ofício enviado após o primeiro corte nos juros, que ocorreu em agosto, e articulado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Campos Neto vinha tentando ser recebido por Lula desde o início do mandato, mas o presidente não só não demonstrava vontade de conversar com o chefe do BC como, em público, o chamava de "esse cidadão" e não perdia uma chance de fustigá-lo. Por causa disso, vários ministros do governo também evitavam encontrar-se com Campos Neto.

Agora, segundo auxiliares, Lula decidiu mudar de tática. "O tom vai ser de diálogo, não vai ter mais briga", diz um aliado do presidente da República, para quem a ideia é tentar convencer Campos Neto a reforçar, no Banco Central, a pressão por uma queda mais rápida na taxa de juros.

Em agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) baixou a taxa de juros usados nos títulos públicos, a Selic, pela primeira vez no governo Lula – 13,75% para 13,25%. Em setembro, fez mais um corte, para 12,75%. A ata da última reunião, divulgada nesta terça, indica que haverá ainda mais dois cortes de 0,5 ponto até o final do ano, levando a Selic para 11,75%.

Nas últimas semanas, surgiram no radar projeções mais otimistas, de um recuo de 0,75 ponto, em pelo menos uma das reuniões. Mas, na ata, o comitê indicou que isso não vai ocorrer.

As pesquisas de opinião internas do governo demonstram que a maior queixa e preocupação dos brasileiros é com as altas taxas de juros, especialmente no cartão de crédito. Nos últimos meses, empresários com acesso ao presidente também tem reclamado muito das altas taxas, e o debate sobre o projeto de lei que pretende cortar o juro rotativo do cartão de crédito continua a opor varejo e bancos.

Além disso, o presidente tem recebido constantes alertas sobre o risco de usar os bancos públicos, como Caixa Econômica Federal e BNDES, para conceder crédito a taxas subsidiadas, como foi feito no passado. Isso porque, nessa circunstância, o Banco Central seria obrigado a manter a Selic mais alta, para obter uma taxa de juro neutra maior.

O assunto certamente fará parte da pauta da conversa de Lula com Campos Neto. Dessa vez, porém, não deve haver apupos ou constrangimento público. Pelo menos é o que o presidente da República vem dizendo aos mais próximos.

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