Lauro Jardim
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O corregedor nacional de Justiça, Luis Felipe Salomão, acaba de votar a favor da abertura de processo administrativo (o chamado “PAD”) no CNJ contra o desembargador Marcelo Malucelli, antigo relator da Lava-Jato no TRF-4 (PR, SC e RS).

Na manifestação, Salomão menciona desobediências de Malucelli a decisões do STF. E cita o elo dele com Sergio Moro, ex-juiz da operação no Paraná. O PAD só será aberto após análise do CNJ — o julgamento é virtual e vai até sexta-feira.

Malucelli é pai do advogado João Malucelli, que namora a filha mais velha de Moro (Júlia, de 23 anos). Além disso, João é sócio dos sogros, Moro e Rosângela, num escritório de advocacia. As duas conexões vieram a público depois que “Malucelli pai” proferiu uma decisão controversa na Lava-Jato.

Em abril de 2023, o desembargador restabeleceu uma decisão da 13ª Vara Federal do Paraná, onde tramita a Lava-Jato, referente ao advogado Rodrigo Tacla Duran, acusado pela operação de ser operador financeiro da Odebrecht. À época, o próprio TRF-4 divulgou que, com isso, Malucelli havia restaurado uma ordem de prisão da primeira instância contra Tacla Duran, o que o magistrado negou em seguida. Na verdade, Malucelli só revogou o acesso de Tacla Duran a documentos processuais.

Mesmo sem realmente ter mandado prender Tacla Duran, na visão de Salomão, o fato de Malucelli ter manifestado posição no caso em questão seria um indício de desobediência dele ante o STF. Isso porque, naquele momento, havia decisão do ministro Ricardo Lewandowski determinando que casos relativos a Tacla Duran deveriam ser tratados no tribunal superior, e não no TRF-4. Escreve Salomão:

“(...) O descumprimento de decisão judicial de instância superior já é suficiente para caracterizar, em tese, infração disciplinar (...), o que permite a abertura de processo administrativo disciplinar”.

Além da desobediência, Salomão entendeu que a situação de Malucelli parece “mais grave” se observada a relação dele com Moro. Isso porque Tacla Duran, cujo “salvo conduto” do STF foi desrespeitado, faz acusações contra a Lava-Jato que respingam em Moro (diz que quadros da operação, incluindo pessoas ligadas ao ex-juiz, tentaram extorqui-lo enquanto réu).

Assim, para Salomão, Malucelli deve responder a processo administrativo diante do “suposto vínculo de parentesco ou afinidade entre o desembargador reclamado e pessoas supostamente interessadas direta ou indiretamente no silenciamento processual” de Tacla Duran. Diz o voto:

“Todo esse cenário de descumprimento de decisões do STF e de suspeitas de sobreposição da função jurisdicional por interesses pessoais apresenta indícios de falta funcional com repercussão disciplinar por parte do desembargador (...). É vedado decidir com base em critérios de ordem pessoal, realizando interpretação e aplicando a norma jurídica com base na sua formação puramente ideológica ou moral, em crenças pessoais (...)”.

Ao CNJ, um ano atrás, Malucelli disse em depoimento que não mantêm relação pessoal com Moro, apesar do namoro do filho dele e da filha do senador. Ele também afirmou que desconhecia a relação societária que interliga as famílias, e revelou ter sido surpreendido ao vê-la na imprensa.

Enquanto defende a própria atuação, Malucelli responde a quatro procedimentos no CNJ que podem resultar em PADs relativos ao imbróglio. Entre os autores das reclamações, estão o próprio Tacla Duran, e os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Rogério Carvalho (PT-SE).

A posição de Salomão ainda será deliberada pelos demais conselheiros, sob a presidência de Luís Roberto Barroso, cujas posições costumam ser mais favoráveis ao “espólio” da Lava-Jato. Se aberto, o PAD pode resultar em sanções como advertência, censura e remoção, entre outras mais duras.

Apesar de pedidos de afastamento feitos por Tacla Duran e pelos parlamentares, Salomão, em seu voto, indicou que não vê motivos para tal, uma vez que Malucelli deixou os casos da Lava-Jato e não insistiu em desobedecer o STF após o episódio em questão.

Alegando motivos de foro íntimo, Malucelli deixou a relatoria da operação na sequência da confusão envolvendo Tacla Duran e Moro.

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