Guga Chacra
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Guga Chacra

Colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

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Guga Chacra

Mestre em Relações Internacionais pela Columbia University de Nova York. É colunista do Globo e comentarista de política internacional da Globonews.

Por — Nova York

RESUMO

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GERADO EM: 06/07/2024 - 11:50

Vitória de Pezeshkian no Irã: Mudança de Regime e Abertura ao Ocidente

A vitória de Masoud Pezeshkian no Irã representa uma mudança no regime, com críticas à repressão e abertura ao diálogo com o Ocidente. Sua eleição pode reduzir a pressão interna e melhorar a imagem externa do país.

A vitória do reformista Masoud Pezeshkian nas eleições presidenciais do Irã pode ter uma série de impactos na política doméstica iraniana e talvez até mesmo na externa. Não significa guinada de 180 graus. Afinal, o poder supremo segue nas mãos do aiatolá Ali Khamanei e as Guardas Revolucionárias possuem enorme controle da área da segurança nacional independentemente de quem estiver na Presidência. Indica, no entanto, uma mudança clara em relação ao período de Ebrahim Raisi, morto em acidente de helicóptero em maio. O então presidente era um ultraconservador conhecido por condenar milhares de iranianos à morte por enforcamento nos anos 1980.

Pezeshkian, por sua vez, critica a repressão às mulheres, quer restringir as ações da polícia moral e se manifestou solidário aos manifestantes anti-regime depois da morte de Mahsa Amini por não usar o véu corretamente na visão do regime de apartheid anti-mulher iraniano. É um renomado cirurgião cardíaco que salva vidas e não um juiz que que manda matar milhares como seu antecessor. Já disse estar aberto ao diálogo com o Ocidente e não descarta nomear como chanceler Javad Zarif, que negociou o acordo nuclear com os EUA e outras potências durante a administração de Barack Obama. Para completar, é azeri e fluente em curdo, tendo uma proximidade com minorias étnicas iranianas.

Muitos podem se perguntar o motivo de o regime aceitar a vitória de Pezeshkian. Em primeiro lugar, o Irã já foi governado por um outro reformista, Mohammad Khatami, entre 1997 e 2005, e por um moderado, Hassan Rouhani, entre 2013 e 2021. De fato, em 2009, não aceitou a vitória do reformista Mir Hussein Mussavi contra o populista Mahmoud Ahmadinejad (hoje colocado no ostracismo pelo regime). Houve uma convivência entre os radicais das Guardas Revolucionárias e do círculo do líder supremo com governantes mais moderados. Além disso, como diz um amigo iraniano-brasileiro, às vezes é melhor para o regime um reformista controlado do que um radical aliado. Pezeshkian é reformista, mas não revolucionário. Respeita os pilares do regime. Apenas avalia serem necessárias reformas especialmente internas para reduzir a repressão.

Para Khamanei, Pezeshkian pode ser útil justamente para tentar reduzir a pressão interna contra o super impopular regime especialmente entre os jovens. Com o governo reformista e a redução da repressão, a pressão interna pode diminuir. O presidente eleito também ficará responsável pela situação econômica. Se melhorar, ótimo para o regime. Se piorar, o ônus ficará com ele e não com o regime. Por último, um reformista melhora a imagem externa do Irã. Isso pode ajudar tanto ao país para acelerar o programa nuclear como também negociar um novo acordo com os EUA depois das eleições – em debate, os candidatos avaliaram ser possível negociar com Trump.

O apoio ao Hezbollah e ao Hamas, porém, será mantido em qualquer circunstância. De qualquer maneira, para os jovens iranianos, Pezeshkian será um alento. Melhor o reformista do que mais radical no poder.

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