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O passado com um pé no presente.

Informações da coluna

William Helal Filho

Jornalista formado pela PUC-Rio em 2001. Entrou na Editora Globo pelo programa de estágio, foi repórter e editor. Hoje é responsável pelo Acervo.

O clima foi de decepção geral entre os dez empresários reunidos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), então no início de seu primeiro mandato no Palácio do Planalto. O propósito do encontro era discutir parcerias entre o poder público e a iniciativa privada para investir em obras de infraestrutura no país. Entretanto, o principal assunto da área econômica naquela quarta-feira, dia 21 de maio de 2003, era a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

Assim como acontece hoje, o BC vinha sendo bastante pressionado por líderes do governo federal, parlamentares e donos de grandes empresas para reduzir os juros básicos do país. A Taxa Selic, na época, estava em estratosféricos 26,5%. Havia, então, uma grande expectativa por diminuição. Mas, também tal qual ocorreu agora, o Copom decidiu, por unanimidade, manter o patamar onde estava e não indicar uma tendência de queda para a reunião seguinte. A frustração foi inevitável.

"Você tem uma aspirina aí?", ironizou o empresário Antônio Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim, ao sair da reunião com Lula e ser informado pelos jornalistas da decisão do BC. "Se eu soubesse, teria pedido uma caixa de aspirina ao Antonio Palocci (ministro da Fazenda, na época)".

O então presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, também não tentou disfarçar a decepção ao saber da notícia, mas ponderou: "Achávamos que já havia condições de iniciar um movimento de redução, ainda que discreto. Mas se as atuais condições da economia se conservarem, seguramente numa data muito próxima vamos ter o início da queda das taxas".

O comunicado dos diretores do BC após aquela reunião reconhecia fatores positivo na economia, mas foi direto: “Há sinais de que a política monetária começa a obter resultados no combate à inflação. O Copom avalia que a consolidação da queda da inflação depende da manutenção desse esforço. Diante disso, o Copom decidiu por unanimidade manter a taxa Selic em 26,5% ao ano, sem viés”.

Na época, o presidente do Banco Central era indicado pelo chefe do Executivo, sem a necessidade de análise do Congresso (em 2003, o cargo era ocupado por Henrique Meirelles). A lei que estabeleceu a chamada autonomia do BC foi aprovada no Parlamento e sancionada em 2021. Segundo o texto, o presidente do banco continua sendo indicado pelo governo, mas, agora, precisa ser aprovado pelo Senado Federal. Além disso, o escolhido passa a ter um mandato fixo de quatro anos.

Entretanto, em 2003, muito antes da lei da autonomia, a queda de braço entre Lula e a diretoria do BC mostrava que o Planalto não tinha tanta influência quanto gostaria sobre o Copom. Para o presidente da Gerdau, Jorge Gerdau, as taxas altas de juros estabeleciam padrões recessivos. "O BC é o xerife da moeda e tem que trabalhar com cuidado. Mas eu estou meu papel de espernear como empresário.

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