Wálter Maierovitch

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Opinião

Vladimir Putin reacende a paixão atômica e assusta a Israel de Netanyahu

A expressão latina "si vis pacem, para bellum", traduzida como "se queres a paz, prepare-se para a guerra", do burocrata romano Flávio Vegécio Renato, no século 4º, voltou à moda graças ao presidente russo Vladimir Putin.

Como informou o Financial Times, o governo russo, pela estatal nuclear moscovita Rosatom, está exportando tecnologia para a construção, por estados nacionais, de centrais atômicas.

Como não existe almoço grátis, Putin amarra tudo a contratos, com prazo de longa duração, para a aquisição de gás russo, dizem nos corredores os 007 da inteligência ocidental.

Isso tudo seria para fazer reservas financeiras e escapar das sanções americanas e europeias decorrentes da guerra na Ucrânia, com violação à soberania e flagrante desrespeito à carta constitutiva das Nações Unidas.

Um exemplo dessa estratégia de Putin já é visível na asiática Bangladesh, quase pronta para testar a sua central nuclear, fato que preocupa a vizinha Índia.

Lembremos que o Tratado de Roma de 1998, assinado pela Rússia, tipificou como crime a agressão internacional. Com o Tratado de Roma nasceu o Tribunal Penal Internacional, e este expediu, no ano passado, mandado internacional de prisão contra Putin, no caso de crianças ucranianas sequestradas, tiradas de pais civis à força por soldados russos invasores.

Armas nucleares contra Ucrânia

Vale lembrar, ainda, as ameaças russas de usar o seu arsenal atômico na Ucrânia, caso a Otan continue a auxiliar o governo de Kiev e americanos e europeus a dar dinheiro e meios às forças de defesa ucranianas.

As ameaças do governo Putin derivam das autorizações americana e europeia para uso de armas da sua fabricação em ataques a pontos de agressão fora da Ucrânia.

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Foi assim que as forças ucranianas paralisaram a destruição de Kharkiv, segunda maior cidade ucraniana. Mas, apesar das ameaças, nenhuma bomba destruidora atingiu Kharkiv, a cerca de 40 km da fronteira russa.

A paixão atômica

As duas guerras em curso, na Ucrânia e na faixa geográfica de Gaza, estão levando a uma ocorrida às armas. E todos querem o que não possuem, ou seja, tecnologia para produção de armas atômicas. E todos dizem ser para fins pacíficos, na vetusta forma do "si vis pacem, para bellum".

Volto aos 007 da inteligência ocidental e incluo os especialistas em geoestratégia. Ninguém acredita nas ameaças de Putin e todos lembraram que o presidente chinês Xi Jinping condenou, em diversos pronunciamentos, o uso de armas nucleares.

A China apoia a Rússia e o governo Putin virou, pelas sanções e bloqueios de recursos, dependente econômico do governo de Pequim.

A última surpresa para Putin foi a notícia, direto do último G7, da liberação para a Ucrânia usar ativos financeiros russos congelados.

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Putin, com as ameaças nucleares, faz uma cortina de fumaça para esconder a exportação de tecnologia nuclear.

Para especialistas em geopolítica e geoestratégia, Putin está conseguindo. Os jornais europeus informam, com base no respeitado Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), que Putin está fazendo países "apaixonarem-se pela bomba atômica".

Os focos de Putin

Conforme informou o mencionado Financial Times, o presidente russo está de olho em celebrar contratos na América Latina e África. Existiriam, ainda, tratativas adiantadas com o Uzbequistão. Fala-se, também, em projetos de construção de reatores em curso no Egito.

Mais ainda, Putin busca um novo apoio ao Irã, que irrita Biden e faz tremer Benjamin Netanyahu.

Não é segredo para ninguém que o sanguinário premiê de Israel apoiou, por baixo dos panos, a ofensiva russa contra o Estado Islâmico, quando era iminente a derrubada do ditador sírio Bashar al-Assad.

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Aviões de bombardeios russos, consoante relatórios de inteligência, em ação na Síria abasteceram-se de combustível em Israel.

O relacionamento de Putin com a extrema direita israelense, com Benjamin Netanyahu à frente, aparentava excelente.

Com a dissolução do gabinete de guerra de Israel, e o forte discurso de Benny Gantz de renúncia e ataque a Netanyahu, os extremistas passaram a querer integrar o gabinete.

Frise-se, extremistas da ultra direita que incluem os religiosos expansionistas, que desejam ocupar a Cisjordânia sob argumento de tratar-se de terra bíblica de Israel. Religiosos que também não estão dispostos a aceitar a revogação da lei que deixa os jovens religiosos livres do serviço militar.

A solidão de Netanyahu

Netanyahu preferiu acabar de vez com o gabinete de guerra. Ficou sozinho nas decisões e, para se manter no poder, ameaça atacar o Líbano e o Hezbollah, sempre apoiado pelo Irã.

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Nesse quadro, a movimentação de Putin, que envolve apoio nuclear ao Irã, voltou a preocupar Netanyahu.

Para agravar, Putin também corteja o Egito, com relações normais, mas sempre frágeis com Israel. Técnicos da Rosatom, a estatal nuclear russa, já foram detectados no Cairo pelo Mossad, o serviço secreto de Israel.

Viradas da história

O ditador Josef Stalin chegou a cogitar e propôs a constituição de um estado hebreu dentro da então União Soviética.

Essa ideia de Stalin acabou colocada de lado e vingou, com fortíssimo apoio da União Soviética, a Resolução 181, de dois estados para dois povos: Israel e Palestina.

Na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 27 de novembro de 1947, a aprovação aconteceu com 33 votos favoráveis. Dentre os países da América do Sul, votou contra a Argentina. Ou seja, a União Soviética sempre teve interferência em questões relativas a Israel e ao mundo árabe.

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Agora, sem gabinete e sozinho, Netanyahu, pressionado para antecipar as eleições e sentindo-se forte com uma maioria que chega a 70 parlamentares, teme o abandono de Putin.

Um Putin interessado, ressalte-se mais uma vez, em exportar tecnologia para centrais atômicas, bandeando para acordos com o Irã desejando implementar a primeira central turca, toda "made' in Rússia.

Putin ameaça usar armas nucleares. Diversionismo para se movimentar e convencer países a investir em arsenais atômicos. "Si vis pacem para bellum."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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