Por Memória Globo

Nelson di Rago/Memória Globo

Andréa Beltrão não sabe dizer ao certo quantos anos tem de carreira. Ela sabe apenas que entrou com 14 anos no Teatro do Tablado, um grande centro de formação de atores na Zona Sul do Rio de Janeiro, e fez sua estreia no palco como o João Grilo da peça O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. “Na verdade, não sei bem onde começa o profissional e onde termina o amador, porque sempre trabalhei muito, fiz muito teatro de rua. Quando entrei para o grupo Manhas e Manias, não me lembro exatamente o ano, a gente trabalhou muito, no Rio e no Brasil inteiro”, explica.Na televisão, Andréa Beltrão despontou como a repórter Zelda Scott, do seriado Armação Ilimitada (1985). Adiante, fez graça com as personagens Marilda, de A Grande Família (2003), e a complicada Sueli, de Tapas & Beijos (2011). Em 2020, foi indicada ao Emmy Internacional de melhor atriz pela sua atuação em Hebe.

O fundamental em um bom trabalho é criar uma boa personagem. O importante é qualidade, seja em teatro, cinema ou televisão. Precisamos despertar alguma coisa em quem assiste, trazer alguma reflexão.
Em entrevista exclusiva ao Memória Globo, realizada em 31/03/2006, a atriz Andréa Beltrão fala sobre o papel do humor;

Em entrevista exclusiva ao Memória Globo, realizada em 31/03/2006, a atriz Andréa Beltrão fala sobre o papel do humor;

Início da carreira

A carioca Andréa Vianna Beltrão nasceu em 16 de setembro de 1963. Aos 14 anos, entrou no Teatro do Tablado, um grande centro de formação de atores na Zona Sul do Rio de Janeiro. Fez parte de grupos como o Arco da Velha; o Manhas e Manias, do diretor José Lavigne, do qual também faziam parte Débora Bloch, Chico Diaz e Pedro Cardoso; e o Manhas de Cabaré, que promoveu a reforma do Teatro Gláucio Gil com espetáculos de dança e música, e cursos. Também fez pequenas participações nas novelas Ciranda de Pedra (1981), de Teixeira Filho, adaptada do romance de Lygia Fagundes Telles, e Elas por Elas (1982), de Cassiano Gabus Mendes. Ainda nessa época, estreou no cinema com Bete Balanço, de Lael Rodrigues, em 1984. No mesmo ano, fez o papel de Ângela na novela Corpo a Corpo, de Gilberto Braga. “Fui convidada para fazer um teste, junto com Malu Mader, Luiza Tomé, se não me falha a memória. Lilia Cabral também fez. Nós quatro fomos aproveitadas. Com que papel eu fiquei? A feia, burra e chata. Mas era um papel legal, tinha vida. Não era a amiga da amiga, da amiga”, conta.

Zelda Scott

O papel seguinte marcou definitivamente sua carreira: a jornalista Zelda Scott do seriado Armação Ilimitada, de Antonio Calmon, Euclydes Marinho, Patrycia Travassos e Nelson Motta, com direção de Guel Arraes, exibido de 1985 a 1988. Na série, Zelda protagonizava um triângulo amoroso com os esportistas Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André de Biase), que dividiam a casa com Bacana (Jonas Torres), um ex-menino de rua. O programa mostrava com humor as aventuras vividas pelos jovens personagens, e foi um marco na TV pela linguagem anárquica, que unia as estéticas de cinema, música, história em quadrinhos e videoclipe. “Quando a gente começou a gravar, havia certa resistência. As pessoas se indagavam: ‘Que programa é esse? O que é isso?’. A linguagem que o Guel trouxe foi inovadora”. Armação Ilimitada ganhou o prêmio Ondas, Oscar europeu da TV, em 1985.

Armação Ilimitada: Zelda sob tarjas pretas

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Papéis de sucesso

Em 1990, interpretou Ingrid de Bresson na novela Rainha da Sucata, de Silvio de Abreu e Alcides Nogueira. “Depois de Armação Ilimitada, fiquei um ano e pouco sem trabalhar em televisão. Até que um dia, o Silvio de Abreu e o Jorge Fernando me convidaram para fazer essa novela. E eu me lembro de que o Silvio falou: ‘Olha, Andréa, eu estou escrevendo essa novela, é para comemorar os 25 anos da TV Globo’. Todos os grandes astros da televisão estavam na novela, e eu tive a honra de ser convidada”.

Em seguida, viveu a mística Úrsula de Pedra sobre Pedra (1992), de Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares. As cenas de amor com Fábio Jr. e as de um banho de cachoeira alçaram a atriz à condição de símbolo sexual. “Eu achava engraçadíssimo, porque de patinho feio, virei sex symbol”, diz. Além disso, a atriz lembra que o figurino despojado de Úrsula virou moda entre as jovens brasileiras. “Ela era uma personagem muito doce, meiga, crédula, solidária, preocupada com os outros, nada materialista. Eu acho que esse tipo de personagem sempre mexe com o público: ele quer sempre ouvir falar disso, e se identifica com esse tipo de personagem. Eu me considero privilegiada, adorei fazer.”

A atriz trabalhou em dois remakes de Ivani Ribeiro: Mulheres de Areia (1993), na qual viveu Tônia, uma comerciante politicamente engajada, e A Viagem (1994), em que fez Lisa, que era assombrada pelo espírito de Alexandre (Guilherme Fontes), seu ex-namorado.

Durante as gravações de A Viagem, conheceu o diretor Maurício Farias, seu marido, com quem tem três filhos. No mesmo ano, foi também a Marta da minissérie A Madona de Cedro, adaptação de Walther Negrão do romance de Antônio Callado. Nessa época, chegou a aparecer três vezes ao dia no ar: à tarde, na reprise de Rainha da Sucata; em A Viagem, às 19h; e em A Madona de Cedro, no fim da noite.

Andréa Beltrão também participou de quadros do Fantástico (como As 50 Leis do Amor e Sitcom.br, em 2004) e de seriados como Os Aspones (2004), de Alexandre Machado e Fernanda Young, e Som & Fúria, de Fernando Meirelles, no papel de Elen.

Em 2003, a atriz, que já havia atuado em episódios de Você Decide (1992/1999-2000), de A Comédia da Vida Privada (1996-1997) e de Brava Gente (2000-2001), além de ter estrelado o game-show Radical Chic (1993), entrou para o elenco fixo de A Grande Família como Marilda.

“Tudo começou com um episódio, em que eu fazia o papel da cabeleireira da Nenê [Marieta Severo]. Eu falei com o [roteirista] Cláudio Paiva: ‘Esse programa é maravilhoso, meus amigos todos estão aqui. Bem que você poderia me chamar outra vez’. Até que um dia, começaram a achar que um salão de cabeleireiro seria um bom lugar de bochicho feminino, a exemplo da repartição pública e do Bar do Beiçola, que são o núcleo masculino. Foi assim que tive a sorte de ganhar essa pepita de ouro”.

Ao longo das temporadas, o espaço de Marilda cresceu na trama e ela viveu um romance com Paulão (Evandro Mesquita), um mecânico trambiqueiro e conquistador que vive trocando o nome de todo mundo. Andréa deixou o programa em 2010, quando A Grande Família passou por uma reformulação, que incluiu também a mudança na direção: quem assumiu a partir dali foi Maurício Farias.

Depois de A Grande Família, Andréa Beltrão mergulhou na nova série de humor Tapas & Beijos (2011), em que deu vida à Sueli. A personagem dividia um apartamento no Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro, com a amiga Fátima (Fernanda Torres), com quem trabalhavam também na Djalma Noivas, loja que aluga vestidos de noiva e vende artigos de casamento, em Copacabana. Durante cinco temporadas, as amigas lidaram com os sonhos de muitas mulheres, esperando encontrar seus príncipes encantados. A vida sentimental das duas era cercada de confusões.

Hebe

Andréa Beltrão encarou o duplo desafio de interpretar a apresentadora Hebe no cinema e na televisão. O filme Hebe: A Estrela do Brasil estreou nos cinemas em 2019, dando origem à minissérie Hebe, exibida na Globo, no ano seguinte. Pela atuação, a atriz foi indicada ao Emmy Internacional de melhor atriz.

Hebe: Hebe se prepara para estreia no SBT

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Cinema e Teatro

Mesmo atuando na televisão, Andréa não deixou o cinema. Para ela, o desafio é sempre realizar uma boa interpretação em uma obra instigante. “O fundamental em um bom trabalho é criar uma boa personagem. O importante é qualidade, seja em teatro, cinema ou televisão. Precisamos despertar alguma coisa em assiste, trazer alguma reflexão.”

Ela ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Brasília, por Minas-Texas (1989), de Carlos Alberto Prates, além de ter atuado em sucessos de bilheteria como Pequeno Dicionário Amoroso (1997), de Sandra Werneck, e A Grande Família – O Filme (2007), de Maurício Farias. O primeiro Prêmio Shell de Melhor Atriz veio pela peça A Prova (2002), de John Madden, dirigida por Aderbal Freire-Filho. Em junho de 2005, junto com a amiga Marieta Severo, inaugurou o Teatro Poeira, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Com As Centenárias, de Newton Moreno, também dirigida por Aderbal Freire-Filho, ganhou mais um Prêmio Shell, em 2008.

Fontes

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