Por Memória Globo

A relação entre o Jornal Nacional e a tecnologia é de longa data e se interliga com a história do telejornalismo no Brasil. O projeto do Jornal Nacional, liderado por Walter Clark e Boni, com aval de Roberto Marinho, era de sintonizar todo o país em um único canal. Para tanto, era necessário contar com um sistema integrado de micro-ondas, que irradiasse o sinal te TV de Norte a Sul, ao mesmo tempo.

Antenas do Sumaré, no Rio de Janeiro responsáveis pela 1ª transmissão do Jornal Nacional em HD (02/12/2013) — Foto: Frame de vídeo/Globo

Isso só se tornou possível a partir de março de 1969, quando a Embratel inaugurou uma rota terrestre de sinais ligando Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba por meio de uma seqüência de postos repetidores, distantes quase 50 quilômetros um do outro. Cada um captava sinais do posto anterior, amplificava e enviava para o seguinte. Essa rede proporcionou à Globo a capacidade técnica de colocar no ar o primeiro programa verdadeiramente de alcance nacional.

O desafio inicial, portanto, era vencer as dificuldades da transmissão. Os pioneiros que apoiaram a implantação tecnológica do JN foram o coronel Wilson Britto, então diretor de Tecnologia da Globo, e os engenheiros Herbert Fiuza e Adilson Pontes Malta.

“O Jornal Nacional se firmou como jornal realmente nacional quando se tornou tecnicamente possível interligar o país com a rede de micro-ondas da Embratel”, conta Herbert Fiuza. “A primeira grande ligação em rede da Globo foi feita com o Jornal Nacional, que estreou no dia 1º de setembro de 1969. Antes disso, não tinha interconexão entre as emissoras. Cada cidade transmitia um conteúdo. Para os eventos ao vivo, montávamos uma miniestação de televisão”, completa.

Ao longo da década de 1970, para efetivar a montagem da rede, a Globo não se contentou em utilizar o sistema de microondas da Embratel. Investiu na construção de rotas próprias não só para interligar suas emissoras como também para conduzir os sinais dos grandes centros até cidades menores, onde foram instaladas estações retransmissoras.

Em 1982, a Globo passou a usar o sinal de satélite da Embratel, inaugurado no ano anterior. Herbert Fiuza e a engenheira Liliana Nakonechnyj ficaram responsáveis pelo projeto de substituir a rota terrestre pelo sinal de satélite. Foram compradas e instaladas antenas em todas as afiliadas da Globo. Devido a essa tecnologia, a Globo pôde transmitir, pela primeira vez, a Copa do Mundo de futebol para todos os cantos do Brasil, simultaneamente.

Passado o primeiro desafio de montar a rede, chegava a hora de investir em tecnologia para dar mais agilidade e mobilidade à captação e transmissão da informação. Características caras ao jornalismo de televisão. A Globo sempre desenvolveu uma série de ferramentas e sistemas de apoio ao trabalho dos jornalistas e profissionais envolvidos na tarefa de levar a notícia ao ar. A chegada do ENG – Eletronic News Gathering – foi um passo nessa direção.

A CHEGADA DA COR

Não existe telejornalismo sem boas imagens. As câmeras, assim como as tecnologias de transmissão de sinal, evoluíram com o tempo. As primeiras reportagens do JN, por exemplo, foram feitas com filme usado no cinema, o 16mm. Naquela época, apenas a dramaturgia e os programas de entretenimento usavam o videoteipe (VT). Não existia VT portátil. Os equipamentos de gravação eram pesados e não permitiam o dinamismo necessário à reportagem de rua.

Arcebispo do Rio, Dom Eugenio Sales, comenta a condenação dos policias acusados por ele de torturas na Ilha Grande, Jornal Nacional, 04/08/1972.

Arcebispo do Rio, Dom Eugenio Sales, comenta a condenação dos policias acusados por ele de torturas na Ilha Grande, Jornal Nacional, 04/08/1972.

No início dos anos 1970, o jornalismo da Globo começou a usar uma câmera de cinema chamada CP (iniciais do seu fabricante norte-americano Cinema Products). As CPs tinham a vantagem de gravar as imagens e registrar os sons. Eram também menores e mais leves do que as usadas até então. Podiam ser carregadas no ombro e não precisavam da cangalha. O auxiliar do cinegrafista (sound-recorder) não tinha mais que transportar o gravador de som, grande e pesado.

A cor chegou à televisão brasileira em 1972. A Embratel foi a responsável pela transmissão oficial. Pela primeira vez, o Brasil assistia, em cores, a Festa da Uva, em Caxias, no Rio Grande do Sul. Ainda naquele ano, em 04 de agosto, foi ao ar uma entrevista com Dom Eugênio Sales, em que ele comenta a condenação de policiais acusados de tortura. A partir de 1973, as reportagens do Jornal Nacional passaram a ser regularmente feitas em filme colorido. Merece destaque a que mostrava os funerais do senador Filinto Muller, em 19 de julho.

TELEPROMPTER

O jornalismo da Globo começou a usar o teleprompter, aparelho que fica abaixo da câmera e que projeta, em letreiros, o texto para o locutor, em 1971. O equipamento permite ao apresentador ler a notícia com mais naturalidade, olhando diretamente para o telespectador. Nas primeiras versões, era eletro-mecânico e dependia de um operador para rodar o texto impresso numa bobina. Quando o teleprompter chegou à emissora, ninguém sabia direito como funcionava e, na montagem, os técnicos instalaram o aparelho sobre a câmera e se esqueceram de colocar os espelhos que permitiam que o texto fosse projetado na altura dos olhos dos locutores. Os apresentadores sofreram muito até que o erro fosse percebido. Ouviram muitas reclamações da chefia, que não entendia porque não era possível uma leitura natural como a dos apresentadores norte-americanos. “Ficava todo mundo com o olho branco, lendo lá em cima”, conta Cid Moreira.

Entrevista exclusiva do apresentador Cid Moreira ao Memória Globo, em 22/03/2000, sobre a chegada do teleprompter na Globo, em 1971.

Entrevista exclusiva do apresentador Cid Moreira ao Memória Globo, em 22/03/2000, sobre a chegada do teleprompter na Globo, em 1971.

CHROMA-KEY

Com a chegada da cor ao Jornal Nacional, em 1972, existiam muitos problemas técnicos. Um deles foi o uso do chroma-key. No Jornal Nacional, várias vezes o azul do chroma passou para os cabelos grisalhos do apresentador Cid Moreira. Para tentar solucionar dificuldades desse tipo, a empresa Colortran fez uma série de seminários para os técnicos e iluminadores da Globo. Foi sugerido que se mudasse o tom de azul do chroma e que os apresentadores não usassem camisas brancas e ternos de cores que pudessem se misturar com o azul. Como Cid Moreira estava normalmente queimado de sol – pois jogava tênis com frequência –, teve que passar a usar roupas em tom pastel, para compensar a luz e permitir uma iluminação equilibrada.

ENG – O JORNALISMO ELETRÔNICO

Em 1976, a Globo inaugurou o Eletronic News Gathering (ENG), pequenas unidades portáteis (dotadas de câmeras leves e sensíveis, transmissores de microondas, videoteipes e sistemas de edição) que permitiam o envio de imagem e som direto do local do acontecimento para a emissora. A tecnologia eliminou o tempo gasto com revelação de filmes e facilitou a vida do cinegrafista.

De olho no monitor, o cinegrafista passou a ter a chance de perceber um erro, na rua, e refazer a tomada. Antes, os equívocos só eram vistos na emissora, depois da revelação. Essa mudança de comportamento, no entanto, não foi tão rápida. Até o início da década de 1980, cerca de 30% das matérias eram produzidas em 16 mm, apesar do uso do VT ter se tornado rotineiro. O laboratório de revelação foi desativado em 1985.

Primeira unidade móvel de reportagem eletrônica ao vivo. — Foto: Acervo pessoal Armando Nogueira

Com as facilidades do ENG, o repórter passou a apresentar os próprios textos. Era exigido dele mais reflexão sobre o conteúdo, improviso e memorização. Com isso, a Globo concluía um ciclo de treinamento que, desde 1974, ensinava o profissional de vídeo a segurar o microfone, evitar a gesticulação excessiva, moderar as reações fisionômicas, colocar a voz etc. A mudança do fluxo de trabalho nas praças foi paulatina. Fernando Waisberg e Mauro Rychter viajaram pelo país para apresentar as novas tecnologias e capacitar os profissionais. Com o tempo, todas as afiliadas aderiram. Os laboratórios foram fechados e se pôs fim ao uso das câmeras de filme.

“Quando viajei para as praças para implantar o ENG, ninguém acreditava que ia dar certo. Foi uma pedreira, porque a câmera de filme já existia há uns 40 anos. E a tecnologia do filme está na película – você só tem que puxar o filme e abrir uma janela para entrar luz. O videoteipe era grande, devia pesar dez quilos; a câmera, mais uns sete; ela era ligada ao VT por um cabo grosso. O cinegrafista então ficava ligado ao assistente por um cabo”, lembra Waisberg.

A primeira entrada ao vivo, gravada e transmitida por equipamento de ENG no Jornal Nacional foi em junho de 1977. A repórter Glória Maria e o repórter cinematográfico Roberto Padula faziam uma reportagem sobre engarrafamento no fim da tarde. Na hora H, o equipamento de luz falhou, e Padula teve de improvisar com os faróis do carro de reportagem. Glória Maria se ajoelhou para que o rosto dela fosse iluminado. Para o telespectador, nenhum susto. A repórter segurava o microfone e dava as informações com correção. Era isso que importava. O repórter tornava-se peça-chave do telejornalismo da Globo. Produzia, escrevia e apresentava as próprias matérias.

“Fomos para a Avenida Brasil, eu e o repórter cinematográfico Roberto Padula, com uma UPJ, a primeira unidade móvel – uma Veraneio enorme. Quando faltavam três minutos para entrar, o iluminador queimou. Todo mundo ficou desesperado. O Padula gritou: ‘Acende o farol’! A Veraneio me iluminou na altura das pernas. Olhamos um para o outro, enquanto Armando Nogueira e Alice-Maria no switcher gritavam meu nome. Falei: ‘Não tem problema, eu fico de joelhos’! Assim, entrei ao vivo. Acabou, todo mundo bateu palmas.” – Glória Maria

O Jornal Nacional estava consolidado.

TECNOLOGIA DIGITAL

A chegada dos computadores na redação, no início dos anos 1980, promoveu uma lenta transformação que eclodiria em uma revolução nas décadas seguintes. Em 1997, a Globo passou a utilizar câmeras e ilhas digitais no Rio e em São Paulo. Com os novos equipamentos Sony-Avid, o processo de edição de imagens de uma matéria comum de telejornal diário, que antes levava de 40 a 50 minutos, passou a durar apenas três. Uma verdadeira revolução.

No período, o sistema de captação em videotape começou a ser substituído pelo digital – a mídia passou a ser gravada em disco óptico. O desafio nessa fase, acompanhando o mercado internacional, se tornou o aumento da qualidade da captação da imagem. Em 2002, a Globo fez a primeira transmissão em HD de sua história – durante o carnaval do Rio de Janeiro. Em 16 de junho de 2008, a Globo no Rio de Janeiro deu início às transmissões digitais para todo o estado. Naquele dia, o Jornal Nacional acompanhou a inauguração da antena e do transmissor exclusivos para essa tecnologia.

Reportagem de Pedro Bassan sobre o início das transmissões dos telejornais da Globo em alta definição. Jornal Nacional, 02/12/2013.

Reportagem de Pedro Bassan sobre o início das transmissões dos telejornais da Globo em alta definição. Jornal Nacional, 02/12/2013.

A partir de 2 de dezembro de 2013, o Jornal Nacional passou a ser inteiramente produzido, editado e exibido em alta definição. Com a tecnologia HD (high definition), a nitidez da imagem aumentou quatro vezes em relação ao sistema anterior, o SD (standard definition). Com a migração, a Globo passou a ter 80% da programação em HD.

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