Por Memória Globo

Memória Globo

No final da década de 1970, tornara-se evidente a importância do setor rural e das indústrias ligadas à agropecuária para a economia do Brasil, país que detém uma das maiores áreas cultiváveis do mundo. O número de televisores em zonas rurais já ultrapassava os quatro milhões, o que revelava um grande potencial dessas regiões em termos de audiência e anunciantes. Nesse contexto, a Rede Globo encomendou ao então diretor da Central Globo de Jornalismo em São Paulo, Luiz Fernando Mercadante, a criação de um programa que se dedicasse especialmente a informar e a prestar serviços para o homem do campo.

Em sua estreia, o Globo Rural abordou a redescoberta e a revalorização do cerrado brasileiro.

Em sua estreia, o Globo Rural abordou a redescoberta e a revalorização do cerrado brasileiro.

Assim, em janeiro de 1980, estreava o Globo Rural, sob a coordenação do jornalista Humberto Pereira, editor-chefe do programa. Paulo Patarra era o editor executivo. As reportagens ficavam a cargo de Ivacir Matias e Renato Moreira e do repórter cinematográfico Ivo Coelho. A edição de imagens era feita por Ladislau Cardoso e Paulo Zaca. Completavam a equipe Inês Bernal, responsável pelo arquivo; e Silvia Poppovic, a editora da seção de cartas.

Para a apresentação, Mercadante convidou o jornalista Carlos Nascimento, escolhido graças à sua identificação com o homem do campo. Natural de Dois Córregos, no interior de São Paulo, Nascimento trabalhou na rádio ZYR 54 e no jornal O Democrata, antes de ir estudar jornalismo na capital.

Gravação na madrugada

Inicialmente, o Globo Rural tinha 30 minutos de duração e era exibido aos domingos, às 9h. Havia certo ceticismo por parte de outros profissionais em relação ao futuro do programa. Comentava-se nos bastidores que ele não duraria dois meses no ar. Como não havia horário disponível nos estúdios durante o dia, a solução era gravar de madrugada. Os jornalistas fechavam a edição na sexta-feira, por volta das 21h, e ficavam aguardando, em um restaurante ao lado da emissora, até cerca de uma hora da manhã, quando eram chamados pelos técnicos. Quando algo saía errado e precisava ser revisado, as gravações se estendiam até as três da madrugada.

Barreiras

Além dos imprevistos a que todo profissional de televisão está sujeito durante o desenvolvimento de uma matéria, o repórter do Globo Rural tem ainda que superar outros obstáculos mais específicos. Reportagens e entrevistas feitas enquanto os repórteres andam a cavalo, por exemplo, são corriqueiras no programa. Isso ocorre não apenas porque, em muitos lugares, o cavalo é o único meio de transporte possível, mas também porque eles funcionam como recurso de ambientação, aproximando o telespectador do cenário da reportagem. Mais cedo ou mais tarde, portanto, os repórteres acabam tendo que aprender a montar. Um processo penoso para os responsáveis pelas imagens, que têm que fazer o seu trabalho enquanto se equilibram sobre os lombos dos animais.

Mandioca News

Carlos Nascimento lembra que o Mandioca News, como o programa era ironicamente chamado pela equipe, começou numa sala pequena, com duas ou três escrivaninhas e um “exército de Brancaleone” formado por pessoas que gostavam de agricultura, mas não tinham nenhuma especialização técnica. O programa, que no começo era visto como uma excentricidade, começou a se desenvolver. Juntaram-se então à equipe inicial o editor Odair Redondo, o chefe de redação Gabriel Romeiro e os repórteres Ninho Moraes e Lucas Battaglin. Em 1983, Lucas Battaglin assumiu a chefia de reportagem.

Para superar as próprias limitações, a equipe contou com a assessoria do engenheiro agrônomo João da Costa e do médico veterinário Luiz Pustiglione, além de instituições de ensino e entidades do governo. Essa também era uma forma de colocar o telespectador a par da existência de órgãos que pudessem orientá-lo em questões técnicas e, principalmente, evitar a confusão entre a figura do repórter e a de um especialista em agropecuária.

O premiado jornalista José Hamilton Ribeiro, que faz parte da equipe de reportagem do programa desde 1983, sintetiza essa postura profissional, ao afirmar que os jornalistas que dirigem e fazem o Globo Rural procuram conhecer cada vez mais seu campo de atividade, com o objetivo de se tornarem bons jornalistas, e não técnicos.

Para Woile Guimarães, que dirigiu a Central Globo de Jornalismo em São Paulo entre 1980 e 1983, o principal ponto positivo do Globo Rural foi provar que funcionam melhor os programas que se preocupam em formar bons núcleos de editores, chefes de reportagem e chefes de redação. Os jornalistas responsáveis por esse tripé no programa – Humberto Pereira, Lucas Battaglin e Gabriel Romeiro – permaneceram os mesmos por mais de 20 anos.

Todos os anos, as equipes do Globo Rural viajam incontáveis vezes pelo território brasileiro e, às vezes, por outros continentes. O programa já exibiu matérias gravadas em países tão diferentes entre si como França, China, África do Sul, Austrália e Vietnã. Com um itinerário tão extenso e variado, as viagens acabam por envolver repórteres e cinegrafistas em todo o tipo de adversidades. Os repórteres do programa já sofreram acidentes de carro, foram atirados longe por coices de boi e já perderam todos os equipamentos em um assalto.

FOTOS

Galeria de fotos Estreia

5 fotos
Galeria de fotos Estreia

Globo Rural, 1987. Acervo/Globo — Foto: Globo

Mais do memoriaglobo
Escrita por Gilberto Braga

Busca de ascenção social, sede de vingança e discussão sobre racismo conduziam as principais tramas da novela

'Corpo a Corpo' estreia no Viva; novela foi exibida há 40 anos - Foto: (Memória Globo)
Show da Vida

Programa em forma de revista eletrônica, o 'Fantástico' é um painel dinâmico do que é produzido na TV Globo. Criado em 1973, é exibido aos domingos, à noite. Confira algumas reportagens que fazem parte da história de 'O Show da Vida'.

Relembre grandes reportagens exibidas pelo 'Fantástico'  - Foto: (Arte/Globo)
Projeto Resgate

Ambientada no ensolarado Rio de Janeiro, Água Viva trazia a disputa de dois irmãos pela mesma mulher.

Escrita por Gilberto Braga e Manoel Carlos, 'Água Viva' chega ao Globoplay - Foto: (Ayrton Camargo/Globo)
Perfil da semana

A atriz Isabela Garcia nasceu no Rio de Janeiro. Estrou na Globo aos quatro anos de idade, em 1971. Com mais de quatro décadas de carreira, participou de novelas de sucesso nos anos 1970 e 1980.

Isabela Garcia estreou na Globo aos quatro anos  - Foto: (Memória Globo)
O amor está no ar

O amor está no ar e o que não falta é casal apaixonado na história da teledramaturgia da Globo. Confira alguns dos mais marcantes!

Relembre casais marcantes no especial 'Namorados da Dramaturgia'  - Foto: (Arte/Globo)
Luto

A atriz Ilva Niño nasceu em Floresta, Pernambuco, em 1933. O primeira trabalho na Globo foi em 1969. Brilhou em Roque Santeiro (1985), quando interpretou a Mina, a empregada doméstica e confidente da viúva Porcina (Regina Duarte). Ela morreu em junho de 2024.

Atriz Ilva Niño morre aos 90 anos  - Foto: (Renato Velasco/Memória Globo)
Projeto Resgate

Adaptada da obra homônima de Rachel de Queiroz, apresenta a saga de uma mulher contra a submissão feminina na sociedade patriarcal do século XIX.

Globoplay disponibiliza 'Memorial de Maria Moura', estrelada por Gloria Pires - Foto: (Jorge Baumann/Globo)