Por Memória Globo

Roberto Steinberger/Globo

A trama começa quando Lúcia Helena (Helena Ranaldi) e Fernando (José Mayer), em crise conjugal, resolvem viajar com a família para fugir da violência da cidade grande. Ela é uma mulher bonita, porém insegura, que sofre com o fracasso de seu casamento. Fernando é um arquiteto com aspirações literárias que não consegue concluir o primeiro livro.

Com a proximidade das festas de final de ano, Lúcia decide ir para sua cidade natal, Florença, no interior de São Paulo, onde moram seu pai e suas irmãs.

Os planos da família, no entanto, são interrompidos pela chegada da jovem Anita (Mel Lisboa) à cidade. Bonita e muito sensual, ela se muda para um sobrado onde, no passado, aconteceu um crime passional. Anita é ao mesmo tempo cândida e provocadora; parece ingênua, mas é extremamente lasciva. A única coisa que se sabe sobre seu passado é que viveu com um artista plástico, Armando (Paulo César Pereio), muito mais velho do que ela, a quem conheceu quando tinha apenas 12 anos de idade. Além disso, Anita tem adoração por uma boneca de louça, a Conchita, que, segundo ela, guarda a alma da antiga moradora do sobrado, Cíntia, assassinada pelo amante.

Abertura da minissérie Presença de Anita (2001).

Abertura da minissérie Presença de Anita (2001).

Autoria: Manoel Carlos | Direção: Edgard Miranda | Direção-geral: Ricardo Waddington e Alexandre Avancini | Direção de núcleo: Ricardo Waddington | Período de exibição: 07/08/2001 – 31/08/2001 | Horário: 22h30 | Nº de capítulos: 16

Anita transforma a vida e a rotina dos moradores da pacata Florença. Um deles é Zezinho (Leonardo Miggiorin), o tímido ajudante da mercearia em frente ao sobrado, que se apaixona perdidamente por ela, mas não consegue se declarar.  Percebendo seu interesse, Anita inicia um jogo de sedução com o rapaz.

Ao conhecer Anita, Fernando acredita ter encontrado a grande inspiração que lhe faltava para começar seu novo romance. Disposta a salvar seu casamento, Lúcia Helena tenta agradar o marido de todas as formas: aceita suas paranoias sem discussão, incentiva ao máximo seus projetos literários e mostra-se disposta a participar de sua vida.

No entanto, nada que faça é capaz de mudar o interesse do marido por Anita. Fernando não resiste aos encantos da jovem, sempre sedutora, e volta a procurá-la. A partir daí, assistimos à crescente obsessão de Fernando por Anita. Maliciosa e manipuladora, ela se empenha em atrapalhar seu casamento. Após escutar uma conversa do marido com outra mulher, Lúcia desabafa com sua irmã Marta (Vera Holtz). Decidida a acabar com as desconfianças da irmã, Marta segue Fernando, descobre o endereço onde o cunhado passa a maior parte de seu tempo e conta para Lúcia que, arrasada, pede o divórcio.

A tórrida relação entre Fernando e Anita chega ao clímax quando ela exige que ele se separe da mulher. Durante uma forte discussão, Fernando a ameaça com um canivete e, descontrolado, acaba matando-a. Zezinho, que assiste à cena, corre para o sobrado para tentar salvá-la, mas acaba sendo confundido com o assassino. Apavorado, o rapaz foge e é atropelado.

Fernando tenta, em vão, se reconciliar com Lúcia. Perturbado com os acontecimentos, o arquiteto passa a ter visões com Anita. Na noite de Natal, o fantasma dela aparece para Fernando no sobrado, e os dois se amam. Com o vento forte, a cortina do quarto esbarra em uma vela acesa e inicia um incêndio. Ele ainda tenta conter o fogo, mas Anita não deixa. O sobrado é destruído, e Fernando morre.

TRAMA PARALELA

Paralelamente à trama de Anita, desenrola-se a história de Marta (Vera Holtz), irmã mais velha de Lúcia Helena. Viúva, Marta é uma mulher cheia de preconceitos, que não alimenta esperanças em relação à sua vida sentimental. Aos poucos, porém, revela-se seu irresistível desejo por homens negros. Marta sente-se atraída por André (Taiguara Nazareth), um rapaz mais jovem, funcionário de sua fazenda. Mas André mantém um romance às escondidas com Neusa (Joanna Tristão), a empregada da casa. Quando Marta descobre a relação entre os dois, não mede esforços para separá-los. Cansados da perseguição da patroa, o casal decide deixar a fazenda. Às vésperas da noite de Natal, Marta chama André para acertar as contas e vai para a cama com ele. 

Taiguara Nazareth em Presença de Anita, 2001 — Foto: João Miguel Júnior/Globo

Vera Holtz em Presença de Anita, 2001 — Foto: Globo

Mel Lisboa, José Mayer e Helena Ranaldi em Presença de Anita, 2001 — Foto: Roberto Steinberger/Globo

Vera Holtz, Linneu Dias, José Mayer e Helena Ranaldi em Presença de Anita, 2001 — Foto: Cristiana Isidoro/Globo

CURIOSIDADES

  • Lançado em 1948, o romance de Mário Donato causou escândalo. A Igreja reprovou a obra do jornalista, que atraiu muitos leitores jovens e indignou senhoras cristãs de São Paulo. Manoel Carlos se inspirou no enredo do livro, mas criou novos personagens, eliminou outros e desenvolveu tramas paralelas para escrever a minissérie.
  • O livro de Mário Donato também serviu de inspiração para a novela A Outra Face de Anita, de Ivani Ribeiro, exibida em 1964, pela TV Excelsior e um filme de 1951.

  • Manoel Carlos e Ricardo Waddington queriam uma atriz desconhecida para interpretar Anita. A seleção concorrida: a estudante Mel Lisboa foi aprovada para o papel entre mais de 100 jovens.
  • Com o sucesso de audiência e a repercussão da minissérie, a direção da TV Globo chegou a pensar na ampliação de Presença de Anita. No entanto, como grande parte da série já estava gravada – e como a exibição estava praticamente na metade –, não foi possível prolongar a trama.

  • A figurinista Helena Gastal conta que, assim que a minissérie entrou no ar, as lojas do Saara, popular centro de compras no Rio de Janeiro, começaram a vender o “kit Anita”, que vinha com uma calcinha, uma camiseta e uma gargantilha com pingente de estrela, visual da personagem.
  • O sambista Nelson Sargento fez uma participação especial na minissérie.
  • Em agosto de 2001, foi lançado o roteiro de Presença de Anita, escrito por Manoel Carlos. O livro trazia praticamente o mesmo script que o elenco recebeu para as gravações, com exceção de alguns detalhes técnicos.
  • Presença de Anita foi reapresentada em setembro de 2002 e, nesse mesmo ano, foi lançada em DVD. A minissérie também foi exibida no Multishow, canal da Globosat, em comemoração aos 40 anos da TV Globo em 2005 e está sendo exibida no Canal Viva, em 2022.
  • Presença de Anita foi vendida para o Equador, Honduras, Nicarágua Peru, Portugal e Uruguai.  

VÍDEOS

Cena em que Fernando (José Mayer), em uma crise de ciúme, mata Anita (Mel Lisboa). Zezinho (Leonardo Miggiorin) tenta salvá-la e morre atropelado.

Cena em que Fernando (José Mayer), em uma crise de ciúme, mata Anita (Mel Lisboa). Zezinho (Leonardo Miggiorin) tenta salvá-la e morre atropelado.

Cena em que Fernando (José Mayer) tem uma visão de Anita (Mel Lisboa) e acaba morto num incêndio, enquanto sua família celebra o Natal.

Cena em que Fernando (José Mayer) tem uma visão de Anita (Mel Lisboa) e acaba morto num incêndio, enquanto sua família celebra o Natal.

BASTIDORES

Presença de Anita contou com locações em Vassouras (RJ), que serviu como cenário para a fictícia Florença, e em Valença (RJ), onde foram gravadas as cenas externas da fazenda de Marta (Vera Holtz). 

Os figurinos, assinados por Helena Gastal, seguiram as sugestões do texto. Para Anita, roupas de adolescente, com peças sedutoras. Uma camisa de seda masculina, que ela vestia sempre por cima de calcinhas de algodão, completava seu guarda-roupa. Entre os acessórios, uma gargantilha com pingente em forma de estrela, de cristal e ouro, desenvolvida especialmente para a personagem. Para Lúcia Helena, a figurinista construiu um visual mais romântico, composto por tecidos suaves.

A sacada do sobrado de Anita foi construída na cidade cenográfica da Central Globo de Produção. Já o interior da casa foi montado em um dos estúdios da Renato Aragão Produções. Para marcar bem os dilemas de Anita, a equipe de cenografia – a cargo de Mário Monteiro, Ana Maria Mello, Danilo Gomes e Maurício Rohlfs – pensou em detalhes que revelassem suas características. A personagem é jovem, extremamente sensual, mas, ao mesmo tempo, doce e infantil. A cortina do banheiro, por exemplo, era toda desenhada com bichinhos coloridos.

Para criar o clima de cidade do interior, a produtora de arte Cristina Medicis providenciou pipoqueiro, vendedor de algodão-doce, pipas, fotógrafo lambe-lambe e sorveteiro, que ficavam na praça central de Florença, cenário principal da narrativa. As comidas que apareciam em cena também eram produzidas com a mesma preocupação: não faltavam pães de queijo, broas e bolos de fubá, entre outros quitutes típicos de fazenda.

A inseparável boneca da protagonista, Conchita, foi um dos destaques do trabalho da equipe de produção de arte da minissérie. Reprodução de uma bailarina espanhola, foi feita em gesso e criada nas oficinas de artesanato do Projac. A boneca funcionava como um símbolo na narrativa: segundo Anita, ela guardava a alma da antiga moradora do sobrado, assassinada pelo amante.

 TRILHA SONORA

A trilha sonora de Presença de Anita contou com músicas em francês, escolhidas pelo autor. O tema de Anita era Pigalle, na voz de Georges Ulmer; e o de Lúcia Helena, Que c’est triste Venise, na voz de Charles Aznavour. A música de abertura, Ne me quittes pas, cantada por Maysa, ganhou três variações – alegre, melancólica e romântica –, idealizadas pelo produtor musical Alberto Rosenblit.

A preocupação era que a base da trilha sonora fosse acústica e, toda vez que Anita entrasse em cena, virasse eletrônica.

A Bachiana Brasileira no. 4 de Villa-Lobos pontuava as cenas mais sensuais e de sofrimento.

Pigalle – Georges Ulmer
Ne Me Quitte Pas – Maysa
Que C’Est Triste Venise – Charles Aznavour
J’avais 20 Ans – Charles Aznavour
Bachiana brasileira no. 4 – Villa-Lobos

GALERIA FOTOS

11 fotos
Galeria de fotos da minissérie

ÚLTIMO CAPÍTULO

Primeiro bloco do último capítulo da minissérie Presença de Anita.

Primeiro bloco do último capítulo da minissérie Presença de Anita.

Segundo bloco do último capítulo da minissérie Presença de Anita.

Segundo bloco do último capítulo da minissérie Presença de Anita.

Terceiro bloco do último capítulo da minissérie Presença de Anita.

Terceiro bloco do último capítulo da minissérie Presença de Anita.

Quarto bloco do último capítulo da minissérie Presença de Anita.

Quarto bloco do último capítulo da minissérie Presença de Anita.

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Helena Gastal (30/05/2006), José Mayer (10/06/2002) e Manoel Carlos (19/12/2005); “A língua do amor” In: O Dia, 2/08/2001; MATTOS, Laura. “Anita ajuda TV a conquistar editoras” In: Folha de S.Paulo, 29/08/2001; MATTOS, Laura. “Anita garante carreira de estreante” In: Folha de S.Paulo, 02/09/2001; MEMÓRIA GLOBO. Dicionário da TV Globo, v.1: programas de dramaturgia & entretenimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003; “Obra com carimbo de qualidade de uma dupla de sucesso na ficção” In: O Globo, 09/08/2001; “O irresistível feitiço de Anita” In: O Globo, 05/08/2001; “Onde há fumaça…” In: Veja, 22/08/2001; VELLOSO, Beatriz. “A Lolita brasileira” In: Época, 06/08/2001; www.teledramaturgia.com.br, acessado em 11/2006; http://viaglobal/cedoc (intranet), acessado em 11/2006.
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