Por Memória Globo

Renato Rocha Miranda/Globo
Abertura da minissérie 'Hoje é Dia de Maria: Segunda Jornada' (2005)

Abertura da minissérie 'Hoje é Dia de Maria: Segunda Jornada' (2005)

Autoria: Luiz Fernando Carvalho e Luís Alberto de Abreu | Direção: Luiz Fernando Carvalho | Direção de núcleo: Luiz Fernando Carvalho | Período de exibição: 11/10/2005 – 15/10/2005 | Horário: 23h | Nº de capítulos: 5 

Carregada de simbolismo, com inúmeras referências aos contos populares, a segunda parte da história fala sobre consumismo, guerras, explorações de menores, opressão feminina e leis de mercado, através de uma linguagem que mistura fábula, circo e ópera.

A trama começa quando Maria (Carolina Oliveira), diante do mar, se deixa levar pelo oceano, inteiramente fascinada pelas ondas. Depois de um tempo, a menina é devolvida a terra, em um lugar desconhecido, e perde o rumo de casa. Maria inicia, então, sua jornada até o sítio de seus pais. No caminho, Maria faz dois amigos: o Pato (Rodolfo Vaz) e a Dona Cabeça (Fernanda Montenegro), a narradora da história. Acompanhada pelos dois, a menina é engolida por um gigante e vai parar no lixão de uma grande cidade. Nesse novo mundo, Maria volta a ser perseguida pelo maligno Asmodeu (Stênio Garcia/Ricardo Blat/João Sabiá/André Valli) e se choca ao constatar tanta intolerância entre os homens. Ao lado de Dom Chico Chicote (Rodrigo Santoro) – um poeta e mendigo sonhador que cai de amores pela decidida Alonsa (Letícia Sabatella) –, ela luta contra as injustiças e a favor dos sonhos. Em sua trajetória, Maria também é protegida pelo Dr. Copélius (Osmar Prado), dono de uma loja de brinquedos antigos, e se torna amiga de Dona Boneca (Inês Peixoto). 

Osmar Prado em 'Hoje é Dia de Maria: Segunda Jornada', 2005 — Foto: Renato Rocha Miranda/Globo

TRILHA SONORA

Na segunda jornada, o trabalho com a música foi ainda mais aprofundado. A pesquisa musical foi feita pelos autores Luiz Fernando Carvalho e Luís Alberto de Abreu e pelo maestro Tim Rescala, que partiram das obras do dramaturgo alemão Bertolt Brecht e do compositor alemão Kurt Weill. As mais de 50 canções foram gravadas em estúdio, mas algumas foram captadas ao vivo, durante as gravações da minissérie. Para isso, os atores usavam microfones de lapela escondidos e monitores de ouvido para escutar a base instrumental ou o playback da música.

FIGURINO E CARACTERIZAÇÃO

Das inúmeras vestimentas produzidas pela equipe de figurino, destaca-se o terno feito só com páginas de classificados de jornais usado pelo personagem Boneco (Daniel de Oliveira). A roupa era uma crítica ao consumismo desenfreado. O figurino de Alonsa (Letícia Sabatella) também chamava atenção. Descendente de espanhola e suburbana, a personagem exagerava nos acessórios. Uma das peças mais interessantes do seu guarda-roupa era um sutiã todo feito de papel de bala, com aplique de tampinhas de garrafas e pedrinhas coloridas. Para Chico Chicote (Rodrigo Santoro), a inspiração foram as obras de Bispo do Rosário.

Inês Rosa em Hoje é Dia de Maria: Segunda Jornada, 2005 — Foto: Renato Rocha Miranda/Globo

Todas as roupas do núcleo do Teatro de Variedades da cidade foram inspiradas nas obras do Toulouse-Lautrec. A saia de cancã com que Dona Boneca (Inês Peixoto) se apresenta foi toda feita de papel de seda com um bordado especialmente aramado, para ser gravado em animação.A equipe de caracterização e maquiagem deu à pele dos personagens um tom de branco amarelado, com bochechas rosadas. Chico Chicote tinha uma maquiagem diferenciada: sua pele era mais iluminada, puxada para o tom dourado. O ator Stênio Garcia tinha um enorme nariz com 15cm, feito a partir de uma fôrma e desenvolvido em látex. O elenco também fez aulas de preparação corporal, vocal e musical. Os preparadores corporais Tiche Vianna e Luis Louis ajudaram os atores a criarem um corpo para os seus personagens, fazendo com que eles se comunicassem através dele, deixando de lado a interpretação naturalista. Tiche Vianna trabalhou com máscaras. No início da preparação, ela fez exercícios com máscaras neutras, sem expressão. Posteriormente, os atores passaram a criar suas máscaras.

Ricardo Blat em Hoje é 'Dia de Maria: Segunda Jornada', 2005 — Foto: Renato Rocha Miranda/Globo

Depois do trabalho com as máscaras, Luis Louis deu continuidade à preparação corporal por meio de técnicas de mímica moderna do Étienne Decroux. Para a preparação de voz, além das aulas de canto, os atores aprenderam técnicas de respiração e até de aikidô, arte marcial japonesa, tudo para auxiliar o canto em cena

CENOGRAFIA DE ARTE

Para ambientar a segunda jornada da pequena Maria, foi construída, dentro do domo utilizado na primeira produção, uma cidade de aproximadamente 2.300m² de área. Eram quatro quarteirões com trânsito nas avenidas, casas e lojas, um teatro, uma rodoviária e uma orla, com um pedaço de mar. Trabalhando com o mesmo conceito da primeira jornada, em que o espaço retratado pela narrativa é um espaço simbólico, a cidade foi toda construída em papelão e papel plotado e seus habitantes são bonecos. Para os bonecos figurantes, o artista plástico Raimundo Rodrigues e sua equipe construíram cerca de 120 cabeças, com diferentes expressões, que se revezavam em 15 corpos articuláveis de madeira e fibra de vidro. Entre as cabeças, 20 foram preparadas para ter articulação nos olhos e boca, como bonecos de ventríloquo.O grupo mineiro Giramundo participou da produção da segunda jornada da minissérie. Um dos trabalhos de destaque feito por eles foi a “traquitana” na qual Chico Chicote tenta alçar voo, em determinado momento da história. Construída com sucata de metal e engrenagens, era possível movimentar as enormes asas de plástico costuradas na engenhoca.

Rodolfo Vaz e Ana Carolina Oliveira em 'Hoje é Dia de Maria: Segunda Jornada', 2005 — Foto: Renato Rocha Miranda/Globo

O dragão marinho também merece destaque. Construído pela artista plástica Chang Chi Chan, a criatura lembrava a figura de um Leviatã. A artista se inspirou num afresco de Pompéia. Com cerca de 12m de comprimento e 2m de altura, o dragão movimentava cabeça e patas, cuspia fogo e enroscava o próprio corpo, revestido por mais de 15 mil escamas de papel reciclado.

O trabalho de iluminação é um dos pontos altos da minissérie. Assim como em outros trabalhos do diretor Luiz Fernando Carvalho, a luz era essencial para envolver o telespectador na atmosfera lúdica da história. Para iluminar todo o domo, foram utilizados mais de 420 refletores. Além dos quatro gridsde luz que dividiam o teto da cúpula, três balões difusores se deslocavam em cabos de aço para preencher o domo com uma luz, como a do céu. Projeções luminosas ajudaram a criar o caos urbano que assustava a pequena Maria. Para reproduzir o trânsito, característica dos grandes centros, foram usadas duas grandes grades, posicionadas em cantos opostos do cenário, uma com faróis e outra com lanternas traseiras penduradas que piscavam de forma intermitente para provocar a sensação de deslocamento dos carros.

A equipe de cenografia usou como referências as pinturas do americano Robert Rauschenberg, a pop art e as obras do escultor suíço Jean Tinguely, para criar os objetos da cidade de papel, como os postes de eletricidade, feitos com aro de bicicleta.O mar também exigiu atenção especial. Vinte telas presas a estruturas com alavancas manuais giratórias faziam o movimento das ondas. A pintura foi feita a mão. As imagens pintadas ao fundo da cidade foram inspiradas em filmes como Metrópolis, de Fritz Lang, e o mar, nas telas de Paul Klee.

A minissérie também lançou mão da linguagem de animação, como na primeira produção. A equipe de César Coelho, diretor do festival Anima Mundi, foi responsável pelas posições expressivas de todos os bonecos figurantes e pela construção de carros animados em stop motion, além de outras sequências da narrativa.

CURIOSIDADES

Rodrigo Santoro e Letícia Sabatella em 'Hoje é Dia de Maria: Segunda Jornada', 2005 — Foto: Renato Rocha Miranda/Globo

Grande parte dos diálogos foi escrita em forma de canções, apesar de a estrutura não ser a de uma opereta.

Além das inúmeras inovações de formato, 'Hoje É Dia de Maria' trouxe novidades para a engenharia da Rede Globo: pela primeira vez na América Latina foi usada a câmera Digital Viper, da Thompson. A câmera de alta definição para cinema capta imagens com resolução quase cinco vezes superior às outras HDs existentes no mercado. Com sistema tapeless, a imagem é transmitida através de fibra óptica para um servidor na ilha de pós-produção, onde é gravada.O elenco da segunda jornada é o mesmo da primeira, mas a maior parte dos atores interpreta outros personagens.

Assim como na primeira temporada, o elenco e a equipe de produção assistiram a uma palestra do psiquiatra Carlos Byington sobre arquétipos e mitos.

O palhaço Carequinha fez uma participação especial na minissérie. Ele tocou realejo em uma cena em que Rodolfo Vaz e Tadeu Mello, bêbados, cantam a música Realejo dos Bêbados.

A minissérie ganhou uma exposição na estação República do metrô em São Paulo. O público pôde ver fotos, figurinos, bonecos e parte do cenário da segunda jornada.

O roteiro da minissérie chegou às livrarias pela Editora Globo, em 2005. Em dezembro de 2006, 'Hoje É Dia de Maria' foi lançado em DVD. Com três discos, a edição traz a íntegra da primeira e da segunda jornadas. 

Fonte:

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