Corpo
Masturbação e musculação: será que uma prejudica a outra?
Descubra quais os efeitos da masturbação antes ou depois de praticar atividade física e se há alguma perda de desempenho após o ato de autoprazer
4 min de leituraVocê já se perguntou se a masturbação prejudica o treino na academia ou ouviu dizer que masturbar-se antes de se exercitar pode atrapalhar o ganho muscular?
Para tirar suas dúvidas, fomos atrás de informações com especialistas, que esclarecem o assunto e desmistificam questões comuns que envolvem a musculação e a prática da masturbação masculina.
O papel da testosterona
Sabe-se que a hipertrofia muscular está associada ao processo de crescimento por meio da musculação e também da ação de hormônios importantes na formação e desenvolvimento do tecido, como é o caso da testosterona.
A testosterona é conhecida por promover efeitos anabólicos nos músculos esqueléticos ao estimular a biossíntese de proteína e modificar o conteúdo de fibras musculares. o hormônio conhecido como “masculino” é um dos mais produzidos pelo corpo para trabalhar o metabolismo e condicionar o organismo para um melhor ganho de massa.
Segundo o médico do esporte Dr. Fernando Cerqueira, especializado em performance e membro da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (Sobraf), a testosterona dá energia e condiciona o indivíduo para uma melhor atividade física.
“O nível normal de testosterona em homens varia de 300 a 1000 nanogramas (ng), por decilitro (dl) de sangue. A partir dos 30 anos de idade, o nível de testosterona começa a declinar, em média, cerca de 1% ao ano. É bom lembrar que os níveis de testosterona não permanecem exatos o dia todo. Eles são mais altos pela manhã, vão caindo durante o dia, e são repostos durante a noite, na ocasião do sono”, conta Fernando, fellow endocrinológico pela UW School Of Medicine.
Já o urologista Rodrigo Wilson Andrade, explica que cada homem tem a sua taxa de testosterona em níveis específicos:
"Não é porque o nível de testosterona do paciente está em 250, ou próximo ao limite inferior, que ele precisa fazer reposição hormonal. Cada um tem um nível de testosterona e existem riscos para quem faz a reposição sem necessidade, prejudicando a saúde a longo prazo. É muito raro precisar de reposição de hormônio, somente em pacientes com hipogonadismo, doença clínica... é importante destacar isso", alerta o médico do Hospital Abert Sabin de São Paulo.
Afinal, a masturbação prejudica a musculação?
É normal ter picos de testosterona em determinada hora do dia, como disse o doutor. Inclusive, durante o sexo e a masturbação. Mas, como envolve gasto de energia, eles decaem logo em seguida e a sensação de relaxamento é imediata. Isso não significa que a masturbação atrapalha o desempenho na academia, pois em poucos minutos o corpo já recupera a vitalidade e o ato de gozar não tem relação direta ou prejudica os treinos na academia.
“Apesar de muitos falarem que ela (masturbação) atrapalha o treino, por haver nesse ato um desgaste físico, ele não é tão grande a ponto de afetar o resultado, a performance dele. Mesmo porque a masturbação é um ato que revigora o indivíduo, proporciona bem-estar e é revigorante”, esclarece o especialista.
E quando a testosterona é muito baixa, o que fazer? Calma, não é só esse hormônio que ajuda no ganho muscular, existem vários outros. Porém, como se trata de um componente natural do homem, vale falar com um médico e fazer os exames necessários para ver se é preciso repor testosterona no sangue,
A testosterona não é um ‘remédio’ que qualquer pessoa pode tomar. Não é indicado seu uso indiscriminado. É preciso expresso acompanhamento médico para a reposição da testosterona, pois, em homens saudáveis, sem queda na sua dosagem, e não havendo indicação médica, pode causar danos graves”, revela Cerqueira.
Alguns problemas recorrentes são:
- Aumento do colesterol e triglicérides
- Alterações hepáticas irreversíveis
- Aumento da pressão arterial
- Aparecimento de acnes
- Redução da fertilidade
“Já para as mulheres, pode haver alteração na voz, no clitóris e alterações nos cabelos.
Apenas depois de exames específicos e de um detalhamento da condição da saúde do paciente é que poderá, através do médico, haver a indicação da testosterona”, conta o médico do esporte.
Existe “depressão pós-masturbação”?
Não existe uma quantidade certa ou ideal para classificar a masturbação como saudável, pois trata-se de uma prática natural em ambos os sexos, sem nenhum efeito negativo a príncípio.
Masturbar-se ajuda a conhecer o próprio corpo, encontrar formas de autoprazer, e ainda traz efeitos benéficos pouco discutidos, como a diminuição do estresse, ansiedade, melhora na qualidade de sono.
O que Fernando nos alerta é sobre o vício e a prática desenfreada, que pode estar associada a distúrbios psicológicos ou excesso de libido:
“Existem pessoas que a praticam uma vez ao dia, outras não. Não há uma quantidade específica que podemos considerar normal ou não. Mas é preciso ficar atento se esse ato é feito várias vezes ao dia, compulsivamente, atrapalhando atividades normais do indivíduo. Se esse for o caso, é preciso buscar ajuda com psicólogos e sexólogos para que haja um diagnóstico correto”.
Em contrapartida, ouve-se falar também do termo “depressão pós-masturbação”, quando o indivíduo atinge o orgasmo e se sente mais cansado, desanimado ou com sensação de culpa.
No entanto, não há estudos que validem a expressão ou a tratem como patologia. Como já mencionamos, a masturbação e o sexo liberam um pico de hormônios e de gasto calórico e é normal se sentir “inerte” por poucos minutos.
“O que existe é um cansaço normal pós-masturbação pelo fato de ter havido um gasto de energia quando se chega ao ápice do prazer. É natural que, imediatamente após o ato, algumas pessoas se sintam relaxadas, e até cansadas, mas em pouco tempo, o corpo já se recupera naturalmente”, ressalta Fernando.
Agora você já sabe: masturbação e musculação podem coexistir, sim. Não há riscos à saúde, caso sejam feitas com moderação e dentro de parâmetros saudáveis. Mexer o corpo, de todas as formas, faz você ganhar mais qualidade de vida, satisfação e prazer de diversas formas.
Sobre os especialistas:
Dr. Fernando Cerqueira
(CRM 167921 - SP)
É médico do esporte especializado em performance, membro da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (Sobraf) e fellow endocrinológico pela UW School Of Medicine.
Dr. Rodrigo Wilson Andrade.
(CRM: 98138 - SP)
Urologista do Hospital Albert Sabin de SP