Vozes do Agro

Por Rodrigo Rodrigues*


Com inundações em uma magnitude só vista na década de 1940, a maioria dos especialistas e comentaristas (e incluo a mim mesmo nesse grupo) ainda não consegue medir o alcance, no longo prazo, da tragédia que vem castigando o Rio Grande do Sul - seja pela primordial ótica da perda de vidas humanas e com milhares de desabrigados, seja pelo aspecto econômico.

Respondendo por 12,6% do PIB brasileiro focado no setor, a agronomia gaúcha sofre danos jamais vistos. Nas fazendas, a água invadiu os silos e os grãos, enxarcados, expandiram-se e derrubaram as paredes. Safras que estavam prontas foram totalmente perdidas. Fertilizantes estocados para a utilização em breve se perderam.

Da porteira para fora e com a infraestrutura de muitos severamente danificada, o processo logístico para envio de produtos para fora do estado foi interrompido com a destruição de estradas e pontes, com portos e aeroportos fechados ou operando precariamente.

 — Foto: Globo Rural
— Foto: Globo Rural

Mas, o real dimensionamento das consequências da fúria da natureza só se revelará na totalidade quando a água baixar, por seu rastro de destruição que não se verá apenas no curto prazo. A enxurrada, ao provocar erosão, levou embora solo fértil e, em algumas partes, será preciso anos para que ele se recupere.

Para agora, as projeções dão conta de que, no estado responsável por 70% do mercado de arroz no país, por sorte (se em meio à tamanha destruição ainda se pode usar essa palavra), já tinha se feito a colheita em 84% das lavouras, garantindo o abastecimento de grande parte do mercado nacional.

Já quanto ao trigo, as estimativas iniciais dão conta de que a produção terá queda superior a 4% na safra que começaria agora. Mas há quem espere recuo maior. A atual safra de soja também foi prejudicada. Expectativas preliminares quanto a perdas variam entre 1 milhão e 5 milhões de toneladas, a depender do estado dos campos encharcados.

Para além das providências urgentes e imediatas para mitigar danos e salvar o que for possível no presente, também é preciso garantir o futuro. O meio ambiente nos está dando claros sinais de que é preciso agir rápido para evitar catástrofes iguais ou ainda maiores.

Apenas com a união de poderes públicos, fazendo o controle das atividades, e do setor privado, colaborando com seu potencial de inovação e conhecimento técnico, conseguiremos avançar no nosso pacto também com a natureza. E temos como fazê-lo. Foi com tecnologia e determinação que a agricultura brasileira se tornou referência global em baixa emissão de carbono. Foi graças à união de esforços que hoje temos o Código Florestal mais moderno do mundo.

Será preciso unir forças para enfrentar o cenário que ainda vai se revelar na totalidade. Tanto quanto os pequenos proprietários, que representam 80% das propriedades no estado, as grandes empresas também não conseguem, ainda, mensurar o total impacto nas diferentes cadeias produtivas.

Conversando com um executivo do mais alto escalão de uma das maiores empresas globais de grãos nestes dias, ele me disse ainda não ter como medir o total impacto para o público interno, aos clientes e à cadeia de fornecedores.

É preciso, sobretudo, ajudar os pequenos - a quem tanto a agricultura deve. Espalhadas pelo estado adentro, em pequenas propriedades de até 50 hectares, incontáveis famílias que até aqui sempre conseguiram, a despeito dos recursos limitados, superar obstáculos, mantendo-se produtivas por gerações. Mas, desta vez, a enormidade da luta pede-lhes mais do que podem enfrentar sozinhos.

Mais que nunca, é necessária a total sincronia na aplicação dos esforços de Estado, setor privado e sociedade - para construirmos, pequenos e grandes, todos juntos, um novo futuro.

*Rodrigo Rodrigues é vice-presidente de agronegócios da Falconi

Obs: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural

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