Fazenda Sustentável

Por Daniela Walzburiech e Izabel Gimenez — Florianópolis e São Paulo

O termo agrofloresta é recorrente na novela Renascer, da Globo. Isso porque o protagonista José Inocêncio, interpretado por Marcos Palmeira, cultiva cacau agroflorestal em Ilhéus, na Bahia. Mas afinal, o que é agrofloresta e para que elas servem? Entenda!

O que é agrofloresta?

Agrofloresta é um sistema produtivo que busca mimetizar processos da natureza e unir a produção de culturas agrícolas e forrageiras ao cultivo de árvores e outras espécies que oferecem serviços ecossistêmicos ao conjunto.

A prática começou a ser implementada há mais de 30 anos no Brasil, na Amazônia, e, com o passar dos anos, mostrou-se segura para o ambiente, para a economia e também às famílias envolvidas.

Quais vantagens da agrofloresta?

Além das funções ecológicas, como o sequestro de carbono, o aumento da biodiversidade e a conservação do solo, o sistema também oferece vantagens financeiras.

“Quando você diversifica, deixa de depender de um produto e não é prejudicado quando há redução dos preços ou se o clima não favorece a safra, por exemplo. Com a agrofloresta, tenho outras fontes de renda e maior estabilidade”, garante Paula.

A distribuição das espécies ainda funciona como um controle biológico natural. A engenheira sugere colocar bananeiras — inimigas do vetor do greening, doença que ataca lavouras de cítricos — entre as plantações de laranja, por exemplo.

“Elas não curam o que foi infectado, mas servem de barreiras e evitam a propagação de pragas agrícolas para as demais áreas. Você perde algumas linhas, não toda a sua plantação, como costuma ocorrer na monocultura”, adiciona. A redução no uso de insumos ajuda a diminuir os gastos da produção.

Quanto aos benefícios para o solo, o sistema impacta na qualidade e a saúde da terra, fornecendo matéria orgânica, garantindo maior infiltração da água e diminuindo os desgastes. “Na monocultura, ele se degrada com maior rapidez, e precisa de mais insumos, corretivos e mecanização”, opina Costa.

Agrofloresta reúne árvores nativas, frutíferas e culturas agrícolas — Foto: Rogerio Albuquerque
Agrofloresta reúne árvores nativas, frutíferas e culturas agrícolas — Foto: Rogerio Albuquerque

O que pode plantar em uma agrofloresta?

Qualquer espécie pode ser cultivada, porém, a seleção da biodiversidade do sistema depende de alguns fatores, como o tamanho da área, os recursos disponíveis e as condições de clima, relevo e solo da região, e, claro, a sua função.

Também considera-se o ciclo de vida de cada elemento para o sistema se manter produtivo a curto, médio e longo prazo.

O objetivo é que o sistema gere a fertilidade necessária para as culturas agrícolas. Por isso, durante o planejamento, selecionamos espécies com retorno econômico e, outras, que não têm propósito de produção, mas cumprem funções importantes”, conta Paula.

Viveiro Anauá, na Bahia, possui 100 hectares, sendo 3 de agrofloresta — Foto: Rogerio Albuquerque
Viveiro Anauá, na Bahia, possui 100 hectares, sendo 3 de agrofloresta — Foto: Rogerio Albuquerque

As plantas de cobertura, como a aveia e o trigo, por exemplo, protegem o solo contra processos erosivos. Outras, como a bananeira e o feijão-gandu, servem de fonte de biomassa. Espécies de árvores podem ser utilizadas para controlar a luminosidade necessária e distribuição das folhagens e galhadas no solo.

Há também a opção de árvores medicinais, como a leucena, usada tanto para enriquecer o solo como para alimentar os animais. Definida como forrageira, leguminosa e perene, tem proteína e fácil digestão para cabras, ovelhas e cavalos.

Quais são os tipos de agrofloresta?

De acordo com Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as agroflorestas são divididas em três categorias: as silviagrícolas, silvipastoris e agrossilvipastoris. Entenda cada um deles:

  • Sistema silviagrícola: engloba a junção de espécies florestais e agrícolas no mesmo espaço;
  • Sistema silvipastoril: diz respeito às espécies combinadas com as atividades da pecuária, como árvores e arbustos com as plantas forrageiras herbáceas (ervas e capim) que servem de alimento para os animais de criação. As plantas servem de alimento para o gado;
  • Sistema agrossilvipastoril: reúne no mesmo espaço espécies agrícolas, florestais e a pecuária. Funciona como uma lavoura tradicional, com arroz, feijão ou soja, por exemplo, com pastagens e árvores para o controle da luz e criação de sombra para os animais.

Como fazer uma agrofloresta?

Quem deseja criar um sistema capaz de unir espécies agrícolas e florestais em sua propriedade precisa, antes de tudo, de planejamento. O mais indicado é contar com a ajuda de agrônomos ou técnicos especializados em agroflorestas para realizar um estudo de mercado e a análise do solo.

Eles ficam responsáveis por desenvolver o design agroflorestal desde o cronograma operacional, que envolve o plano de negócio: quanto será colhido, quais serão os custos e quanto será a receita, a distribuição dos cultivos.

Agrofloresta da Embrapa em Cascavel, Paraná — Foto: Izabel Gimenez
Agrofloresta da Embrapa em Cascavel, Paraná — Foto: Izabel Gimenez

Nesta etapa, são analisadas as condições e recursos disponíveis, as características da propriedade e o que preciso implementar para atender as necessidades das culturas, considerando o comportamento e especificidade de cada espécie, o manejo, etc.

A sugestão é começar com uma pequena área e, aos poucos, ampliar. Foi assim que, em 2022, Paula Costa e Valter Ziantoni, seu companheiro e sócio na PRETATERRA, decidiram investir em uma propriedade no sudoeste de São Paulo e aplicar seus conhecimentos.

O casal concentra a produção em café e abacate, e também em áreas de pastagens, mas também possui feijão, milho, goiaba, manga, banana, abóbora, mandioca, abacaxi e espécies madeireiras no sistema.

“A ideia é diversificar cada vez mais o sistema e intensificar a produção ao invés de expandir a área atual”, explica.

Casal possui agrofloresta de 10 hectares em São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal/ Paula Costa
Casal possui agrofloresta de 10 hectares em São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal/ Paula Costa

Anualmente, o sistema produz 35 sacas de 60 quilos de café beneficiado, 10 toneladas de milho e duas toneladas de frutas diversas por hectare. A propriedade ainda faz engorda de novilha, com 25 cabeças por ciclo anual, e possui madeira para colheita futura.

“Tem eucalipto, para colher em 10 anos, mogno africano, com 20 anos, e outras espécies nobres, que levam de 30 a 40 anos. São quase R$ 300 mil reais garantidos por hectare que teremos [quando elas estiverem prontas]”, afirma.

Sistema reúne mais de 10 espécies diferentes — Foto: Arquivo Pessoal/ Paula Costa
Sistema reúne mais de 10 espécies diferentes — Foto: Arquivo Pessoal/ Paula Costa

Em uma das áreas, onde o café já estava plantado, a agrofloresta se adaptou ao desenho antigo. Nas linhas novas, a cultura foi dividida em três linhas, para possibilitar a colheita mecânica, alternando com árvores madeireiras e frutíferas.

“Desde o início tivemos colheita. Quando ainda não tinha sombra, a gente plantava milho e feijão. O mesmo aconteceu na área do abacate, onde plantamos árvores madeiráveis e bananeira. Enquanto um não está produzindo, colho o outro e gero receita. É tudo complementar”, finaliza.

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