O termo agrofloresta é recorrente na novela Renascer, da Globo. Isso porque o protagonista José Inocêncio, interpretado por Marcos Palmeira, cultiva cacau agroflorestal em Ilhéus, na Bahia. Mas afinal, o que é agrofloresta e para que elas servem? Entenda!
O que é agrofloresta?
Agrofloresta é um sistema produtivo que busca mimetizar processos da natureza e unir a produção de culturas agrícolas e forrageiras ao cultivo de árvores e outras espécies que oferecem serviços ecossistêmicos ao conjunto.
A prática começou a ser implementada há mais de 30 anos no Brasil, na Amazônia, e, com o passar dos anos, mostrou-se segura para o ambiente, para a economia e também às famílias envolvidas.
Quais vantagens da agrofloresta?
Além das funções ecológicas, como o sequestro de carbono, o aumento da biodiversidade e a conservação do solo, o sistema também oferece vantagens financeiras.
“Quando você diversifica, deixa de depender de um produto e não é prejudicado quando há redução dos preços ou se o clima não favorece a safra, por exemplo. Com a agrofloresta, tenho outras fontes de renda e maior estabilidade”, garante Paula.
A distribuição das espécies ainda funciona como um controle biológico natural. A engenheira sugere colocar bananeiras — inimigas do vetor do greening, doença que ataca lavouras de cítricos — entre as plantações de laranja, por exemplo.
“Elas não curam o que foi infectado, mas servem de barreiras e evitam a propagação de pragas agrícolas para as demais áreas. Você perde algumas linhas, não toda a sua plantação, como costuma ocorrer na monocultura”, adiciona. A redução no uso de insumos ajuda a diminuir os gastos da produção.
Quanto aos benefícios para o solo, o sistema impacta na qualidade e a saúde da terra, fornecendo matéria orgânica, garantindo maior infiltração da água e diminuindo os desgastes. “Na monocultura, ele se degrada com maior rapidez, e precisa de mais insumos, corretivos e mecanização”, opina Costa.
![Agrofloresta reúne árvores nativas, frutíferas e culturas agrícolas — Foto: Rogerio Albuquerque](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/waDLX4TcjXpaT7jKrLaB2-p4m14=/0x0:4000x2250/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2023/b/2/U61vafSLaZV4Cphv0oKA/agrofloresta-por-dentro-07.jpg)
O que pode plantar em uma agrofloresta?
- Culturas agrícolas (soja, milho, arroz, feijão, cana-de-açúcar, etc);
- Madeira (acácia, freijó, paricá, pinus, teca, eucalipto , ipê, mogno africano, etc);
- Hortaliças (melancia, milho, mandioca, etc);
- Madeira sem frutos (abiu, castanha-do-brasil, jambo, uxi, etc);
- Produtos medicinais (andiroba, copaíba, etc);
- Arbustos (açaí, cacau, café, cupuaçu, ingá, maracujá, pimenta-do-reino, urucum, etc);
- Trepadeiras.
Qualquer espécie pode ser cultivada, porém, a seleção da biodiversidade do sistema depende de alguns fatores, como o tamanho da área, os recursos disponíveis e as condições de clima, relevo e solo da região, e, claro, a sua função.
Também considera-se o ciclo de vida de cada elemento para o sistema se manter produtivo a curto, médio e longo prazo.
“O objetivo é que o sistema gere a fertilidade necessária para as culturas agrícolas. Por isso, durante o planejamento, selecionamos espécies com retorno econômico e, outras, que não têm propósito de produção, mas cumprem funções importantes”, conta Paula.
![Viveiro Anauá, na Bahia, possui 100 hectares, sendo 3 de agrofloresta — Foto: Rogerio Albuquerque](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/py-GPUpCqkDB9jjADI8RYX6KlAU=/0x0:4000x2250/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2023/P/D/ql2FdCRAiyNC6pWdS7fA/agrofloresta-90-graus.jpg)
As plantas de cobertura, como a aveia e o trigo, por exemplo, protegem o solo contra processos erosivos. Outras, como a bananeira e o feijão-gandu, servem de fonte de biomassa. Espécies de árvores podem ser utilizadas para controlar a luminosidade necessária e distribuição das folhagens e galhadas no solo.
Há também a opção de árvores medicinais, como a leucena, usada tanto para enriquecer o solo como para alimentar os animais. Definida como forrageira, leguminosa e perene, tem proteína e fácil digestão para cabras, ovelhas e cavalos.
Quais são os tipos de agrofloresta?
De acordo com Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), as agroflorestas são divididas em três categorias: as silviagrícolas, silvipastoris e agrossilvipastoris. Entenda cada um deles:
- Sistema silviagrícola: engloba a junção de espécies florestais e agrícolas no mesmo espaço;
- Sistema silvipastoril: diz respeito às espécies combinadas com as atividades da pecuária, como árvores e arbustos com as plantas forrageiras herbáceas (ervas e capim) que servem de alimento para os animais de criação. As plantas servem de alimento para o gado;
- Sistema agrossilvipastoril: reúne no mesmo espaço espécies agrícolas, florestais e a pecuária. Funciona como uma lavoura tradicional, com arroz, feijão ou soja, por exemplo, com pastagens e árvores para o controle da luz e criação de sombra para os animais.
Como fazer uma agrofloresta?
Quem deseja criar um sistema capaz de unir espécies agrícolas e florestais em sua propriedade precisa, antes de tudo, de planejamento. O mais indicado é contar com a ajuda de agrônomos ou técnicos especializados em agroflorestas para realizar um estudo de mercado e a análise do solo.
Eles ficam responsáveis por desenvolver o design agroflorestal desde o cronograma operacional, que envolve o plano de negócio: quanto será colhido, quais serão os custos e quanto será a receita, a distribuição dos cultivos.
![Agrofloresta da Embrapa em Cascavel, Paraná — Foto: Izabel Gimenez](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/ovXuqK-GJR61KKswwavzXLsskdU=/0x0:1600x900/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2024/8/2/p7nUqdQlyHNajbi9herg/whatsapp-image-2024-02-08-at-15.32.54.jpeg)
Nesta etapa, são analisadas as condições e recursos disponíveis, as características da propriedade e o que preciso implementar para atender as necessidades das culturas, considerando o comportamento e especificidade de cada espécie, o manejo, etc.
A sugestão é começar com uma pequena área e, aos poucos, ampliar. Foi assim que, em 2022, Paula Costa e Valter Ziantoni, seu companheiro e sócio na PRETATERRA, decidiram investir em uma propriedade no sudoeste de São Paulo e aplicar seus conhecimentos.
“A ideia é diversificar cada vez mais o sistema e intensificar a produção ao invés de expandir a área atual”, explica.
![Casal possui agrofloresta de 10 hectares em São Paulo — Foto: Arquivo Pessoal/ Paula Costa](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/hVhQTS1kLu6yH6qzE2WkGxUzSGI=/0x0:1920x1080/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2024/B/y/Zz42hyR82v1wGJ61obdQ/agrofloresta.png)
Anualmente, o sistema produz 35 sacas de 60 quilos de café beneficiado, 10 toneladas de milho e duas toneladas de frutas diversas por hectare. A propriedade ainda faz engorda de novilha, com 25 cabeças por ciclo anual, e possui madeira para colheita futura.
“Tem eucalipto, para colher em 10 anos, mogno africano, com 20 anos, e outras espécies nobres, que levam de 30 a 40 anos. São quase R$ 300 mil reais garantidos por hectare que teremos [quando elas estiverem prontas]”, afirma.
![Sistema reúne mais de 10 espécies diferentes — Foto: Arquivo Pessoal/ Paula Costa](https://cdn.statically.io/img/s2-globorural.glbimg.com/UMsSOgn92XriihBGIYStDyb080M=/0x0:1920x1080/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_afe5c125c3bb42f0b5ae633b58923923/internal_photos/bs/2024/f/4/QbEkwhT5uzSTp3elOeqA/agrofloresta-1-.png)
Em uma das áreas, onde o café já estava plantado, a agrofloresta se adaptou ao desenho antigo. Nas linhas novas, a cultura foi dividida em três linhas, para possibilitar a colheita mecânica, alternando com árvores madeireiras e frutíferas.
“Desde o início tivemos colheita. Quando ainda não tinha sombra, a gente plantava milho e feijão. O mesmo aconteceu na área do abacate, onde plantamos árvores madeiráveis e bananeira. Enquanto um não está produzindo, colho o outro e gero receita. É tudo complementar”, finaliza.