Negócios

Por Gabriella Weiss — Manaus*

A riqueza gastronômica da Floresta Amazônica tem despertado o interesse crescente não apenas dos amantes da culinária, mas também de empresários que buscam levar os sabores únicos dessa região para além das fronteiras do Brasil. Um dos tesouros mais emblemáticos dessa biodiversidade é a mandioca, planta nativa e base fundamental da alimentação local.

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A farinha de mandioca, por exemplo, já é considerada parte da cesta básica da região, e ainda se destaca como um elemento crucial na economia local, proporcionando emprego e renda para milhares de agricultores familiares e pequenas empresas.

Produtor da farinha de mandioca uarini, o microempresário manauara Ricardo Nery, da Rico Farinha, quer levar ao exterior o alimento, reconhecido em 2024 como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial do Estado do Amazonas.

Por sua indicação geográfica, a uarini é aquela fabricada apenas nos municípios de Tefé, Uarini, Alvarães e Maraã, e é conhecida como o "caviar amazônico", devido ao seu formato, semelhante às ovas de peixes. É produzida por pequenos produtores familiares e é transportada de barco, por 36 horas, até chegar a Manaus.

O grande diferencial da farinha uarini é sua qualidade, segundo Nery. Isso se deve a iniciativas desenvolvidas pela Associação de Produtores Agroextrativistas da Floresta Nacional de Tefé e Entorno (Abafe), apoiada pelos institutos Mamirauá e Chico Mendes, que trabalha com as comunidades locais oferecendo mentorias e estruturas, como casas de farinha higienizadas.

Segundo o microempresário, a participação da Abafe oferece garantias de processos de produção mais transparentes e sustentáveis, o que não acontecia anteriormente, quando havia venda sem nota fiscal e não havia divulgação de métodos produtivos.

Na busca por expandir seus negócios para o mercado internacional, Nery participou da feira Lacflavors, promovida em maio, em Manaus pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex). Apesar de não ter fechado negócios imediatos devido à falta de certificações que atestem as boas práticas de qualidade e sustentabilidade, exportadores americanos demonstraram interesse, indicando um potencial promissor para a expansão dos sabores amazônicos pelo mundo.

Thayse e Tainara Vasconcelos criaram a startup Diamante Negro da Amazônia (Dinam), em Parauapebas, no Pará — Foto: Dinam / Divulgação
Thayse e Tainara Vasconcelos criaram a startup Diamante Negro da Amazônia (Dinam), em Parauapebas, no Pará — Foto: Dinam / Divulgação

Startup de condimentos

Para as irmãs Tainara e Thayse Vasconcelos, que criaram a startup Diamante Negro da Amazônia (Dinam), em Parauapebas, no Pará, a sustentabilidade na produção pode ser um atrativo para chegar ao mercado externo. A Dinam, também presente na Lacflavors, comercializa uma linha de condimentos, como a pimenta-do-reino, e oferece suporte e assistência técnica a agricultores familiares dos municípios paraenses de Tomé-Açu e Capitão Poço.

Segundo elas, grande parte do cultivo de pimenteiros antes utilizava estacas de madeira como suporte para as plantações. Nesse sistema, era necessário derrubar muitas árvores para obter as estacas, segundo Tainara. Além disso, significava um custo alto de produção.

Como alternativa, a startup incentiva o plantio da gliricídia (Gliricidia sepium), planta que serve como tutor natural para os pimenteiros e também fornece adubação verde ao solo, enriquecendo-o e promovendo um ciclo nutritivo completo.

A Dinam comercializa uma linha de condimentos, como a pimenta-do-reino — Foto: Dinam/Divulgação
A Dinam comercializa uma linha de condimentos, como a pimenta-do-reino — Foto: Dinam/Divulgação

Cooperativa do Suriname

Ainda na Amazônia, mas não no Brasil, a cooperativa feminina Wi! Uma fu Sranan, do Suriname, aposta nas tradições ancestrais para conquistar novos mercados e também mostrou seus produtos na feira em Manaus, no mês de maio. Tania Lieuw-A-Soe, presidente da cooperativa, diz que a ideia é levar a culinária amazônica – uma marca da identidade cultural - a outros cantos.

"Não estamos reinventando a roda, estamos profissionalizando o que já existia ali e que, por décadas, já eram a fonte de renda e segurança alimentar das populações indígenas", afirma.

Cooperativa de mulheres indígenas do Suriname — Foto: Divulgação
Cooperativa de mulheres indígenas do Suriname — Foto: Divulgação

A cooperativa, que tem 38 mulheres indígenas afiliadas, faz produtos principalmente a partir da mandioca e do taro, uma raiz tuberosa semelhante ao inhame. Ambas são, então, transformadas em farinhas e "carnes" veganas de origem vegetal, buscando agregar valor ao produto.

Para Lieuw-A-Soe, a única maneira de garantir que a riqueza gerada através da venda e exportação de produtos se mantenha com as populações locais e originárias, é incluí-las. "Fazemos com que a população indígena faça parte de uma cadeia de valor global, com o conhecimento e tradição, passando pela inovação e produtos de alta demanda. Eles têm que estar em cada etapa desta cadeia, não podem apenas fornecer os produtos e ficarem reféns das empresas", afirma.

A feira promovida pelo BID teve 700 reuniões entre exportadores e pequenas e médias empresas, e negócios de mais de US$ 40 milhões.

*A repórter viajou a convite do BID

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