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Por Lucas Espogeiro, Marcelo Barone e Priscilla Basilio — Rio de Janeiro


"Só tenho que agradecer, porque, daqui a pouco, tudo isso acabará. O que fica é o legado que você deixa e o carinho que tem com as pessoas. O resto não importará mais".

Essa declaração encerrou a entrevista de José Roberto Guimarães, que foi indicado ao Hall da Fama do vôlei, ao ge, e resume a forma como o técnico da seleção brasileira feminina de vôlei encara as responsabilidades do cargo. Ao longo da primeira semana de Liga das Nações, com jogos acontecendo no ginásio do Maracanãzinho, Zé, aos 69 anos, atendeu pacientemente a cada pedido que recebeu de jornalistas e torcedores.

Zé Roberto conversa com torcedores no Maracanãzinho — Foto: Priscilla Basilio

Mesmo depois das partidas, com o semblante visivelmente cansado, o técnico costumava ficar bastante tempo na zona mista, área em que jornalistas entrevistam jogadoras e treinadores. Esperava cada repórter fazer perguntas, que podiam ser uma, duas, quantas fossem necessárias. Zé continuava ali e ainda evitava respostas curtas, contextualizando opiniões e informações que compartilhava.

Zé Roberto concede entrevista na zona mista do Maracanãzinho

Zé Roberto concede entrevista na zona mista do Maracanãzinho

Em uma dessas passagens pela zona mista, minutos após a vitória sobre a Coreia do Sul, conversou com o ge e falou justamente sobre a postura que adota fora das quadras.

– Tudo faz parte do nosso dia a dia. Vocês, da imprensa, têm que passar notícias, esperam ávidos por saber o que está acontecendo. É importante que respondamos às perguntas. Muitas vezes, as críticas vão aparecer. Mas, quando o time joga bem, a coisa fica mais fácil.

Ao encerrar a maratona com os jornalistas nesse dia, Zé pegou a mochila e caminhou em direção a um grupo de torcedores que queria ver de perto os integrantes da seleção brasileira. O técnico cumprimentou um segurança do Maracanãzinho e autografou dezenas de camisas dos fãs.

– Quando você se coloca na posição do outro, começa a entender. Há pessoas que vieram de todas as partes do Brasil para assistir aos jogos. Olha o sacrifício que fizeram para estar aqui, tempo e dinheiro que despenderam para torcer, estar perto das jogadoras que elas gostam tanto, ter um sorriso, um autógrafo, cinco minutos de contato. Preciso valorizar isso, porque já estive do lado de lá, tietei – disse Zé.

Zé Roberto dá autógrafos a torcedores no Maracanãzinho

Zé Roberto dá autógrafos a torcedores no Maracanãzinho

No dia seguinte, quando o Brasil encerrou um longo jejum e venceu os Estados Unidos, o técnico ficou na quadra por quase uma hora depois do jogo. Conversou com Carlão, campeão olímpico em 1992, e apareceu nas fotos dos últimos torcedores que ainda estavam no Maracanãzinho.

Quase 50 minutos após fim de Brasil x EUA, Zé Roberto conversa com torcedores

Quase 50 minutos após fim de Brasil x EUA, Zé Roberto conversa com torcedores

A atenção dada por Zé Roberto foi retribuída. Por onde passava, ele recebia cumprimentos. Antes dos jogos, quando a escalação do Brasil aparecia no telão do Maracanãzinho, por exemplo, os fãs sempre vibravam ao ver o nome do treinador. O vídeo abaixo é do triunfo sobre a Sérvia.

Celebrado também por jogadoras

Em Paris 2024, Zé Roberto Guimarães disputará a nona edição de Olimpíadas da carreira. Participou de uma como jogador (era levantador), em 1976, em Montreal. 16 anos depois, já na função de técnico, levou a seleção masculina ao primeiro ouro de sua história, em Barcelona. Também comandou a equipe em Atlanta, em 1996.

Foi em 2004, na cidade grega de Atenas, que Zé Roberto esteve nos primeiros Jogos Olímpicos como comandante da seleção feminina. Desde então, nunca ficou fora do evento e já conquistou mais dois ouros e uma prata.

Zé Roberto conversa com torcedores no Maracanãzinho — Foto: Priscilla Basilio

Mas não são só as conquistas que fazem Zé ser querido pelas jogadoras. Capitã do Brasil na Liga das Nações, Gabi ressaltou a confiança que tem no técnico:

– (Confio) Não só por ser um multivencedor, mas pela confiança que ele também passa a nós, atletas. Sabemos da capacidade, tanto técnica, quanto tática, mas, no dia a dia, ele dá suporte, fala que as oportunidades vão surgir, os momentos difíceis vão aparecer. É uma figura paterna, que está conosco nas horas difíceis. E eu acho que é por isso que estamos em um momento tão bom neste ciclo olímpico.

Gabi é só elogios a Zé Roberto Guimarães — Foto: André Durão

Gabi completou 30 anos no domingo (19) e já trabalha há mais de uma década com Zé na seleção. Mas jogadoras jovens também elogiam o treinador. É o caso de Helena, que ainda não tinha sido comandada pelo experiente técnico.

– É muito bom trabalhar com o Zé, porque ele gosta de ajudar. É calmo, paciente para falar com você. Sempre vem para trabalhar pontos específicos, e, quando você faz o que ele diz, realmente dá certo. É por isso que é o Zé Roberto. Fora de quadra, ele também é um amor, sempre brinca com a gente, se preocupa, faz perguntas. Muito carinhoso e atencioso – comentou a ponteira de 19 anos.

Sob o comando de Zé Roberto, o Brasil tem 100% de aproveitamento na Liga das Nações, com quatro vitórias nos quatro jogos disputados no Maracanãzinho. Voltará à quadra no dia 28 de maio, contra o Japão, às 8h30 (de Brasília), na China. O jogo terá transmissão do sportv2, e o ge acompanhará todos os lances em tempo real.

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