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Por Diogo Mourão — Rio de Janeiro


Com os brasileiros sob pressão na briga por um lugar no Finals, a janela para a etapa brasileira do CT começou neste sábado, embora a WSL tenha decretado dia off e marcado nova chamada para as 7h de domingo. Um bom resultado é fundamental. Gabriel Medina, Italo Ferreira e Yago Dora, que fizeram uma primeira metade do ano fraca, se recuperaram nas duas últimas etapas e chegaram muitos vivos para as duas derradeiras. Os brasileiros ocupam as três posições abaixo do Top 5 e a prova na Praia de Saquarema, em Itaúna, será decisiva.

Gabriel Medina tira 7,50 na etapa de El Salvador da WSL

Gabriel Medina tira 7,50 na etapa de El Salvador da WSL

O trio chega embalado pelo desempenho nas etapas de El Salvador e do Taiti, nas quais conseguiram excelentes resultados e foram os surfistas que mais ganharam posições no ranking. Após o corte, com Italo em 15º, Medina em 19º e Yago em 22º, tudo indicava que pela primeira vez desde que foi criado, o Finals não teria representantes do Brasil, país que venceu todas as três decisões disputadas neste contestado formato.

Mas não duvidem dos brasileiros no Tour. Chegamos e chegamos fortes em Saquarema, com Medina em sexto, Italo em sétimo e Yago em oitavo. Mas, será que é possível classificar os três para o Finals? Acho muito difícil. O líder John John Florence já está matematicamente garantido e é praticamente impossível Jack Robinson e Griffin Colapinto perderem seus lugares no Top 5. Restariam as vagas hoje ocupadas por Ethan Ewing e Jordy Smith, quarto e quinto respectivamente. O australiano está numa situação um pouco mais confortável, mas o sul-africano não pode piscar que perde seu lugar para um dos brasileiros.

A diferença entre Jordy e Yago, o oitavo, é de apenas 1135 pontos e qualquer brasileiro já passa o Jorjão se terminar na frente dele em Saquarema. Para tirar a vaga dele, basta vencer uma bateria a mais nas duas últimas etapas. Em relação ao Ethan a distância é de pelo menos duas fases para deixar o australiano para trás.

Yago Dora em El Salvador, sétima etapa da WSL — Foto: Aaron Hughes

Vamos botar em números para tentar entender a situação. Nos dois últimos anos, a temporada teve dez etapas antes do Finals, mas agora serão apenas nove. Assim, fui buscar as referências de pontuação do quinto colocado de 2022 e 2023 após nove provas. Ano passado, Yago era o quinto, com 36.865 e, na temporada anterior, Griffin Colapinto fechava o Top 5 com 36.800. Curiosamente, os dois perderam a posição e ficaram fora do Finals após a última etapa, no Taiti. Jack Robinson e Kanoa Igarashi, respectivamente, pegaram as vagas.

Percebi ainda uma concentração bem menor de pontos entre os cinco primeiros. Ano passado, por exemplo, os Top 5 somavam 181.960 pontos, contra 154.925 após sete etapas. Essa distribuição mais homogenia da pontuação ajuda a entender por que a régua do corte subiu de 9.600 para mais de 11 mil pontos e pode indicar que o limite para ficar no Top 5 talvez diminua um pouco. Em 2023, após sete etapas, a diferença do quinto para o décimo colocado era de 5.990 pontos. Este ano, somente 2.850 pontos separam Crosby Colapinto, o décimo, de Jordy.

De qualquer forma, usarei os cerca de 36.800 pontos como parâmetro para, no mínimo, estar brigando pela vaga. Robinson e Griffin, com dois nonos lugares ou mesmo um 17º e um quinto nas duas últimas etapas, devem se garantir. Isso significa vencer duas baterias, somando as duas etapas. Pouco provável que não consigam, pelo surfe que mostraram no ano todo. Vale lembrar que após o corte, com apenas 24 surfistas, perder na repescagem significa 17º lugar e 1320 pontos no ranking. Vencer uma bateria, na fase inicial ou na repescagem, já garante a nona posição e 3320 pontos.

Griffin Colapinto faz 9.43 na bateria 1 das oitavas de final da etapa de El Salvador

Griffin Colapinto faz 9.43 na bateria 1 das oitavas de final da etapa de El Salvador

É certo que quem está atrás deles nessa briga não pode pensar em perder de cara em Saquarema, para não ter de ficar precisando de vencer ou no mínimo fazer final em Fiji. Ethan Ewing, por exemplo, se for eliminado na repescagem teria de ser pelo menos segundo lugar em Cloudbreak para chegar a 36.380 pontos.

A conta para os brasileiros é um pouco mais dura. O 17º deve significar o adeus à vaga no Finals, pois obrigaria a buscar a vitória na última etapa. Ou seja, o mínimo que têm de se fazer em Saquarema é vencer uma bateria e chegar no nono lugar, mas isso implicará na necessidade de vencer a última etapa para superar as referências dos anos anteriores. De qualquer forma, para quem pretende chegar em Fiji na luta por Trestles, é muito importante ir pelo menos até as quartas-de-final em Itaúna, que significa o quinto lugar. E mesmo assim teria de conseguiu uma semifinal para passar da barreira dos 36.000 pontos.

Olhando o que cada um precisaria para atingir a pontuação dos anos anteriores, a impressão que temos é de que realmente poderemos ter uma diminuição no número de pontos. Depois de Saquarema teremos um desenho muito mais bem definido.

Vamos para água e falar um pouco de Saquarema e do desempenho dos que brigam pelas duas vagas no Finals, nos cinco anos em que a etapa brasileira foi disputada em Itaúna. Yago, defensor do título, com notas dez no CT e no QS (venceu em 2021) é, de longe, o surfista com melhor retrospecto em Itaúna. Em 2017, assombrou o mundo ao derrubar campeões como Medina, John John e Mick Fanning para chegar em terceiro lugar, parando apenas para o campeão Adriano de Souza. Em percentual de vitórias, o oitavo do ranking só fica atrás de Filipinho Toledo, campeão de 2019, 2021 e 2023, que tem impressionantes 90,5% baterias vencidas. Yago é o segundo, com 72,7%.

Medina e Italo, porém, ainda buscam vencer no Brasil. Italo competiu em Saquarema quatro vezes e teve seu melhor resultado em 2022, quando chegou à semifinal e perdeu para o imparável Filipinho. Ano passado ele ficou em nono, e tem ainda um 17º, em 2019, e um 13º, em 2018, quando foi eliminado por Yago. Já Medina conseguiu seus melhores resultados em 2018 e 2019, anos em que terminou em quinto. Nas duas últimas temporadas, perdeu na repescagem e amargou 17ºs lugares. Tem ainda um nono lugar, em 2017, sendo mais um derrotado por Yago em Itaúna.

Italo Ferreira é campeão em Teahupoo, no Taiti WSL — Foto: WSL

Os dois que estão na alça de mira dos brasileiros já conseguiram vice-campeonatos em Itaúna. Ethan Ewing foi segundo para o Yago ano passado e Jordy perdeu a final para Filipinho, em 2019. Em 2022, o australiano também acabou derrotado pelo Yago, mas nas oitavas-de-final, e ficou em nono. A outra participação dele aconteceu em 2017, quando ficou em 17º. Jordy, por sua vez, além do segundo lugar, tem um nono, em 2023, um 17º, em 2022, um 13º, em 2018 e um quinto, em 2017.

Estamos falando só de quem está na frente, mas os brasileiros também precisam prestar atenção em pelo menos dois nomes que ocupam o nono e o décimo lugar. Jake Marshall e Crosby Colapinto, que se forem bem em Saquarema podem incomodar nessa disputa.

Diante dessa numerada toda, qual seria a sua aposta? Fiz essa pergunta no eX-Twitter, em duas enquetes. Uma com o olhar otimista que aponta a classificação de dois surfistas, perguntando quais seriam, dando a opção de os três entrarem. A dupla Medina/Yago teve 52% dos votos, Medina/Italo, 38%, Italo/Yago, 1%, os três 9%. A outra, era para sabe se fosse um qual seria, com a possibilidade de ser nenhum. Medina foi o primeiro disparado, com 80%, Yago ficou em segundo, com 10%, Italo em terceiro, com 8% e nenhum teve 2% dos votos.

Etapas em Saquarema e Fiji ajudam a explicar estes números. Yago tem esse caso de amor bem resolvido com Itaúna, enquanto Medina é um dos reis de Cloudbreak.

Para não ficar apenas na enquete e no que penso, perguntei para Pedro Robalinho, que acompanhou o circuito de perto por ser técnico de Imaikalani De Vault, surfista que não está na briga. O brasileiro radicado em Maui, onde faz um trabalho com surfistas locais, inclusive de categoria de base há alguns anos, também acha que são apenas duas vagas em duas vagas em disputa:

“Jordy e Ethan estão em perigo. Se forem mal aqui, acabou para eles. Vejo o Gabriel muito perto do Top 5. E merece também, por causa rasteiras que tomou no caminho. Perdeu algumas baterias muito apertadas, nas quais pelo menos duas ele deveria ter vencido. Yago é favorito no Brasil e se for bem vira top 5. Acredito que a briga vai ser entre os três mesmos, com favoritismo de Medina e Yago, até pela aceitação maior dos juízes em relação ao surfe deles comparando com o do Italo. Ele ganhou Teahupoo porque lá é tubo e não tem jeito, mas quando tem manobras eles ficam muito criteriosos e não têm valorizado”.

Vocês devem estar entranhando porque ainda não falei da Tatiana Weston-Weeb. A situação da Tati é bem complicada, pois a distância que a separa da quinta colocação é muito grande. Além disso, com poucas surfistas na competição depois do corte, apenas dez, é muito difícil roubar posições. Chances, tem, mas precisará de excelentes resultados, tais como um título e uma semifinal ou duas finais. Tomara que antes de Fiji eu esteja fazendo contas com as possibilidades de a Tati se classificar para Trestles.

Tati Weston-Webb em El Salvador — Foto: WSL

Também para não deixar passar batido, ainda temos João Chumbinho Chianca e Samuel Pupo, outros dois surfistas que conhecem muito a onda de Saquarema (Samuca foi vice em 2022) são os wildcards e devem dar trabalhos aos primeiros do ranking. O ideal era que os três primeiros avançassem na primeira fase, Ethan e Jordy caíssem na repescagem e tivessem de enfrentar Chumbinho e Samuel nesta fase. Tá, teríamos de torcer para os brasileiros caírem para a repescagem também.

Aquela passadinha rápida pelas baterias:

  • Bateria 3: Samuel Pupo x Jack Robinson x Seth Moniz

Apesar de Jack Robinson estar em segundo do ranking, Samuel disputa o favoritismo da bateria com o australiano. Samuca surfa muito bem em Itaúna, já Robinson pode sofrer com o provável mar pequeno e com possibilidade de backwash. Seth corre por fora

  • Bateria 4: João Chianca x John John Florence x Ramzi Boukhiam

Bateria muito equilibrada, mesmo com JJ Florence na água. Local de Itaúna, Chumbinho conhece o pico como ninguém e se as direitinhas para o canal aparecerem, ele fica ainda mais perigoso. John John e Ramzi também já conseguiram bons resultados em Saquarema, mas com a previsão de possível começo em ondas fracas no domingo, apostaria no brasileiro.

  • Bateria 6: Gabriel Medina x Rio Waida x Leo Fioravante

Mesmo com o retrospecto inconstante em Itaúna, o fato de estar na briga por vaga em Trestles pode fazer diferença a favor de Medina, numa bateria perigosa. Tanto Rio quanto Fioravante conseguem boas performances em ondas parecidas com Itaúna.

  • Bateria 7: Italo Ferreira x Crosby Colapinto x Liam o’Briem

Bateria deve ser disputada entre Italo e Crosby, que também tem surfado bem e ainda tem chances de chegar a Trestles. Liam O’Briem precisa de ondas mais pesadas para mostrar seu surfe.

  • Bateria 8: Yago Dora x Jake Marshall x Matthew McGuillivray

Yago é o favorito, sem dúvidas, mas é bom abrir o olho com Jake Marshall. O americano faz a melhor temporada da vida e está em nono do ranking, com chances de ir ao Finals.

Medina faz 10.00 na etapa de Teahupoo

Medina faz 10.00 na etapa de Teahupoo

Feminino

  • Bateria 2: Tatiana Weston-Weeb x Tainá Hinckel x Caitlin Simmers

Tainá já venceu etapa do QS em Itaúna,Tati vai ter o apoio da torcida e Caitlin tem um poder de adaptação à qualquer condição. Teoricamente a americana líder do ranking é a favorita, mas tudo pode acontecer.

  • Bateria 3: Sophia Medina x Caroline Marks x Bettylou Sakura Johnson

Assim como Tainá, Sophia jpa venceu etapa do QS em Saquarema, mas a tarefa dele é muito dura. Vem evoluindo muito no CS, mas ainda está uns degraus abaixo de Caroline e Bettylou, que são as favoritas. Porém, se o mar estiver difícil, a brasileira pode surpreender pelo conhecimento da onda, principalmente se tiverem umas direitas.

  • Bateria 4: Luana Silva x Brisa Hennessy x Gabriela Bryan

A brasileira recebeu o convite e terá a chance de disputar a etapa do CT em Saquarema pela primeira vez. Bateria equilibrada e com boas chances para Luana.

Boas Ondas!

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