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Por Paulo Lira e Iaco Lopes — João Pessoa


O surfista José Francisco, mais conhecido como Fininho, denunciou algo pouco discutido em seu esporte: o baixo investimento em atletas negros nas competições de alto nível de seu esporte. Diante das poucas oportunidades, o bicampeão catarinense de surfe, que disputa a elite do Campeonato Brasileiro, a Dream Tour, não conseguiu estar presente em duas das seis etapas do torneio em 2023.

O paraibano também desabafou sobre o racismo, que conviveu desde cedo, mas que o fortaleceu na briga contra o preconceito.

Fininho faz desabafo sobre racismo e preconceito no surfe brasileiro

Fininho faz desabafo sobre racismo e preconceito no surfe brasileiro

Em 2022, Fininho levantou o troféu do Campeonato Catarinense Profissional com 600 pontos de diferença para o segundo colocado, Matheus Navarro. No ano seguinte, 2023, o surfista conquistou o bicampeonato.

Apesar de ser o atual campeão estadual e disputar o Campeonato Brasileiro, o desportista paraibano analisou o baixo investimento em atletas pretos.

— Eu acho que por isso que tem poucos surfistas pretos hoje no Circuito Mundial (a falta de investimento). Não temos oportunidade e quando temos não são valorizadas pelas empresas. Nas chances que elas dão, uma ou outra, não tem o investimento necessário — disse Fininho.

José Francisco, o Fininho, é o atual campeão catarinens de surfe — Foto: Márcio David/Fecasurf

Em 2023, Fininho não conseguiu participar de duas das seis etapas de Dream Tour, referentes a quarta e quinta etapas, realizadas em Maceió e Salvador, respectivamente. Isso por causa da falta de investimento. Em 2024, esse panorama já se repetiu na primeira prova, realizada em Porto de Galinhas.

O atleta desabafou sobre como os baixos investimentos afetam nos desempenhos dos atletas nas competições de alto nível.

— Eu gostaria muito de estar lá participando, da primeira etapa da competição, que está começando o circuito. Mas vou estar de fora. Ano passado eu lutei muito para ser campeão brasileiro, cheguei perto. Em 2023, após as três primeiras etapas, eu era o terceiro melhor do Brasil. Já estava bem perto de brigar pelo título. Contudo, no meio do ano as coisas desandaram porquê não consegui participar de duas etapas, sendo pela falta de patrocínio. Em 2024 essa situação está se repetindo: a perca de competições pela falta de investimento. É bem difícil tentar se manter com essas dificuldades — falou o surfista.

José Francisco, o Fininho, não conseguiu participar da primeira etapa da Dream Tour devido à falta de investimentos — Foto: Davi Castro/Dream Tour

Quando residiu na Paraíba, mais precisamente em Cabedelo — Região Metropolitana de João Pessoa —, Fininho morou na rua, pois fugiu de casa aos 7 anos. Os problemas familiares ocasionados pelo álcool atrapalharam a vida do paraibano.

Nas ruas, o atleta passou a pedir ajuda, mas foi através do surfe que ele se encontrou. Por sinal, ele conheceu a modalidade após se abrigar na casa de Valdir, dono de um estabelecimento onde ele pedia alimento e dinheiro. Desde então, o seu talento foi visto por mais pessoas e culminou em um grande atleta e exemplo de superação.

Fininho também frisou a presença diária de racismo em sua vida e como estar nas competições o ajudou a combater o preconceito.

— É uma coisa diária (o racismo). Desde quando eu comecei a competir até agora, eu tenho entendido mais como o racismo está presente na minha vida. O fato de eu ter morado na rua e saído daquela realidade, me fortaleceram para ter ferramentas para que eu possa brigar contra o preconceito - expôs Fininho.

Fininho, quando criança, dando os primeiros passos no surfe — Foto: Divulgação

Diante desse panorama de baixos investimentos para atletas negrosno surfe, Fininho se prepara e busca patrocínios para disputar a próxima etapa da Dream Tour, que aguarda o local de definição.

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