Na pista da Unesp de Presidente Prudente – interior paulista –, ele recebe a consultoria de Jayme Netto. Mesmo local e treinador que impulsionaram velocistas brasileiros a medalhas olímpicas, como a prata do revezamento em Sydney 2000.

– A dificuldade em Angola é muita. Não temos pista, treinamos na grama, areia. É complicado, porque às vezes surgem as dores, lesão, canelite. No Brasil, encontramos uma boa pista, meetings, um outro nível de treinamento – disse Marcos dos Santos.

– O treino, a administração do treinamento em si, é muito diferente da nossa realidade. Ele está com 15 dias de trabalho, mas já apresenta um nível de melhora super aceitável – falou o chefe da delegação angolana, José Aleixo.

Os Jogos Olímpicos vão de 26 de julho a 11 de agosto. Antes, o velocista terá pela frente outra competição. Após o compromisso continental, voltará a Prudente para dar sequência à preparação focada em Paris.

Além do atleta e do dirigente, um médico, um treinador e um fisioterapeuta estão na cidade que tem temperaturas semelhantes às de Angola. A viagem faz parte do projeto de uma empresa africana de incentivo ao esporte e começou a se desenhar por meio de outro intercâmbio.

– Recebi um grupo de angolanos que veio para estudar e treinar. Chamava Filhos da Guerra. Foi um projeto lindo, um fez medicina, outro educação física. Vieram treinar, bateram o recorde de Angola no revezamento. Um desses meninos virou treinador. E aí surgiu esse garoto, um talento absurdo – disse Jayme Netto.

Recém-promovido da categoria sub-20, Marcos se destacou no ano passado, na África. Tanto que a ida aos Jogos surge do potencial olímpico demonstrado.

A Federação Angolana de Atletismo decidiu investir na evolução do atleta e inscrevê-lo em Paris por meio de um convite que o país recebeu na modalidade, conforme explicou José Aleixo. Mesmo assim, o competidor segue em busca de índices.

Os melhores tempos da carreira do jovem foram obtidos neste ano. Ele saiu dos 10s59 em 2023 para os 10s42 em 2024, nos 100m, e dos 21s05 para os 20s96 nos 200m. Quebrou recentemente recordes locais e ganhou elogios de Jayme Netto.

– Eu treinei mais de 30 atletas olímpicos e fico impressionado com a capacidade física desse menino. Ele é do mesmo padrão de todos os melhores que treinei, se iguala. Tem um potencial incrível.

Embora a evolução seja comemorada no curto período no Oeste Paulista e na carreira de Marcos e o futuro seja promissor, o técnico brasileiro demonstra cuidado quanto ao presente. Isso fica claro nas palavras do chefe de delegação.

– A expectativa nossa é alta. Se bem que o executor, Jayme Netto, diz: "Não, nesses Jogos, vamos ganhar experiência, e no próximo vamos medalhar." Vamos pegar essa melhoria que ele já teve aqui para fazer algo inédito no campeonato africano.

*Adilson Vieira, Adriano Batista, Ana Claudia Palacio, João Paulo Tilio, Leonardo Jacomini e Marcos Mincucine.