Raquel Kochhann é capitã das Yaras, como é conhecida a seleção brasileira feminina de rúgbi. Jogadora de duas Olimpíadas -- Rio 2016 e Tóquio 2020 -- ela descobriu, há cerca de dois anos, um câncer. Cirurgia, tratamento, dedicação e, agora, ela está de volta.
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Raquel Kochhann volta à seleção de rugby após tratar o câncer
No dia 23 de dezembro do ano passado, Raquel voltou a jogar uma partida oficial de clubes. E, na terça-feira, dia 16 de janeiro, finalmente chegou o momento pelo qual a capitã esperou e se dedicou tanto. Depois de mais de um ano e meio, ela foi reconvocada pela seleção.
Quem conta essa história de sucesso é ela mesma.
- Foi no treinamento, em uma viagem que percebi um carocinho diferente no peito. Fui falar com equipe médica, então o staff e nossa fisio já entraram em contato com a médica ginecologista responsável. Ela disse para ficar tranquila. Fui para o Japão, joguei as Olimpíadas, foi tudo tranquilo. Voltei, fiz o exame, mandaram direto para a biópsia e já me encaminharam para o mastologista. Um ano depois, fiz de novo os exames. O caroço tinha quase dobrado de tamanho. Aí que a gente tomou o primeiro susto. Quando esse caroço voltou da biópsia, dentro dele tinham encapsuladas células cancerígenas – conta Raquel.
Raquel Kochhann com a camisa da seleção brasileira de rúgbi — Foto: Marcel Merguizo
Por opção própria, Raquel optou preventivamente pela mastectomia bilateral. Depois, em novos exames, descobriu que o câncer tinha se espalhado para o osso do esterno.
- A Raquel entra em um caso especial, ela é muito jovem. Quando fez o diagnóstico estava com 30, 31 anos. Não entrava no rastreio de câncer populacional que é feito a partir dos 40. Mas a partir desse diagnóstico a gente acabou diagnosticando outra coisa que é a questão de câncer hereditário, que a Raquel tem – explica a oncologista Bianca Boneti.
- É meio complicado explicar com palavras, mas foi um sentimento meio de "acabou minha carreira de atleta" – diz Raquel.
A partir daí, começou um tratamento que passou por cirurgia, radioterapia, seis sessões de quimioterapia e uma dedicação muito especial.
- A gente está acostumado que as atletas tenham lesões ou sejam afastadas por doenças, e óbvio que a gente fica chateado com isso. Mas, lógico, o caso da Raquel foi uma notícia muito mais grave e nos assustou muito mais. Exigiu medidas muito mais severas em relação a qualquer outra que a gente já atendeu aqui – disse Ismael Arenhart, preparador físico da seleção brasileira feminina de rúgbi.
- Não é só treinar. Quando não podia treinar, ela veio ajudar no treino, veio ajudar a filmar, fazer tudo... Não tem palavras, não tem como – afirma Will Broderick, treinador das yaras.
Raquel Kochhann fas selfie com jogadoras da seleção de rúgbi nas Olimpíadas do Rio 2016 — Foto: Agência Reuters
Começou um novo desafio que ela passou a registrar nas redes sociais.
- Eu não sou uma pessoa muito ativa nas redes sociais, mas usei esse momento como uma oportunidade de levar mais informação para as pessoas – lembrou Raquel. - Continuar treinando foi um combustível para eu continuar melhor. Eu quis mostrar isso para as pessoas. A gente não precisa encarar o câncer como "Ah, eu tô morrendo, não tenho mais nada pra fazer da minha vida". Não, aproveita cada dia, usa cada oportunidade. O que as pessoas poderiam ver é que seguir, ter disciplina, tanto alimentar quanto de rotina, faz a diferença no processo de um tratamento tão invasivo.
Luiza Campos e Raquel Kochhann, da seleção brasileira feminina de rúgbi, na apresentação dos uniformes com o nome de Yaras — Foto: Brasil Rugby
O tratamento contra o câncer vai continuar sendo um entre tantos obstáculos que a Raquel já encara todos os dias.
- O que ela fez acho que nunca vou ver na minha vida de novo, é diferente, fora de normal – afirma o técnico inglês das Yaras.
- Eu penso que ainda não é um final. É mais uma parte do processo. Assim como tudo na vida, vamos ter momentos muito bons e ruins, e tudo vai depender de como vamos encarar isso – conclui Raquel.
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