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Por Nathan Alves — Três Rios, RJ


André Branco, de Três Rios — Foto: Daniel Silva

O cronômetro perto do zero, o tempo se esgotando e o troféu escapando de Três Rios no minuto final de novo. No momento mais turbulento, quando dizem que a bola queima no pé, o lateral foi cobrado para quem está acostumado a jogar sob pressão. André Branco, vestido com a camisa 14, de goleiro linha, desenhou a jogada do gol do título a 14 segundos do fim.

O gol coroou a terceira conquista de Três Rios, da qual André participou de todas, além de ter vencido uma vez por Paulo de Frontin. Para falar do tetracampeão da Copa Rio Sul de Futsal, é preciso mostrar o percurso até os momentos de glória.

O interesse pelo futebol surgiu desde muito cedo. Aos 5 anos, o pequeno vascaíno André começou a jogar em uma escolinha do Flamengo, incentivado pela mãe.

André Branco vestido com uniforme do Vasco na infância — Foto: Arquivo pessoal

A transição do campo para quadra aconteceu aos 12. E dentro do ginásio mais conhecido da cidade, hoje tão íntimo de Branco, que a trajetória foi iniciada. Foi nesta época que o jogador teve o primeiro contato com alguns companheiros atuais de equipe.

— Fui conhecer o futsal com 12 anos, na escolinha do antigo Clube Social Olímpico Ferroviário, atual Complexo Esportivo Social Olímpico, onde mandamos os jogos de Três Rios. Jogava contra o Arthur (eleito atleta destaque em 2023 e 2024), nossa amizade começou nessa época, inclusive. Jogava contra o Matheusinho também - contou André.

Os meninos cresceram e se tornaram as primeiras pedras na empreitada que culminou na criação de uma das gerações mais vitoriosas da história da Copa Rio Sul de Futsal. Tudo começou em 2013, sob o comando do treinador Henrique Biaggi.

— Uma renovação que começou em 2013, com garotos de 18 e 19 anos, pelas mãos do Henrique. A cada ano que passava, nossas metas iam crescendo até o ponto que estamos. É fruto de um trabalho bem feito - disse.

Com dois anos de trabalho, a primeira conquista veio. André Branco, mesmo aos 21 anos, foi protagonista. Eleito o atleta destaque, ele decidiu a final e marcou dois gols, inclusive o do título, a 40 segundos do fim.

André Luiz Branco ganha prêmio de Atleta-Destaque — Foto: Vinicius Lima/GloboEsporte.com

André voltou a receber o prêmio de melhor jogador em 2018, quando foi campeão jogando por Paulo de Frontin — foram dois anos atuando pela cidade até o retorno para Três Rios em 2019.

O que começou em 2015 ganhou mais força a partir de 2022. O projeto de futsal na cidade desenvolvido por Henrique Biaggi estava mais sólido, com novos talentos surgindo e que se somaram aos jogadores vitoriosos, como André Branco, Jonas, Arthur e Matheuzinho.

De 2022 a 2024, foram três finais, dois títulos e apenas uma derrota no período — a final perdida para Mendes em 2023. Nem mesmo a saída de Biaggi no ano passado, sucedido por Rafael Buteco, impactou no sucesso da equipe.

— As coisas aconteceram com o tempo. Não foi o que mudou, mas sim o que continuou sendo feito. A consistência do trabalho, de não desistir em nenhuma hipótese e a consciência dos atletas em sempre querer buscar mais - revelou.

Equipe de Três Rios com a camisa da final da Copa Rio Sul de Futsal — Foto: Daniel Silva

A bola jogada por Três Rios impressionou não só a região, como cruzou fronteiras. O time teve jogadores saindo para times de outros estados e até país. Henrique Biaggi, por exemplo, hoje é treinador de futsal do Cruzeiro. André também já teve uma experiência em Minas Gerais.

— Joguei pelo Tupi Futsal, de Juíz de Fora, de 2015 a 2017, junto alguns companheiros de Três Rios [...]. Se formaram atletas que hoje estão no cenário nacional e internacional do futsal, e ver isso sabendo que faço parte de todo esse processo, é ainda mais especial - comentou.

O cara da final

André Branco comemorando gol por Três Rios — Foto: Daniel Silva

Não foi uma, nem duas, mas três vezes que André Branco foi decisivo para Três Rios na final da Copa Rio Sul de Futsal, contra Paulo de Frontin, disputada no último sábado. O tricampeonato teve enredo dramático. A partida terminou em 3 a 3 e a equipe saiu atrás no placar todas as vezes.

Quando Paulo de Frontin marcou o primeiro gol, Três Rios estava nitidamente nervosa e errando passes que não costuma errar. A mudança de postura e recuperação da confiança começou com o gol de empate. André tabelou e finalizou de bico quando recebeu a devolução.

— O primeiro gol saiu em uma jogada muito forte nossa. Geralmente ela sai mais em quadras maiores, para poder usar a velocidade e finalizar. Pela dimensão menor da Arena Unifaa, eu acelerei o movimento, sabendo que teria um tempo muito curto pra finalizar a jogada. Foi um chute de bico, buscando o canto cruzado do goleiro - detalhou.

No segundo tempo, no momento de maior pressão de Três Rios, Paulo de Frontin fez o segundo gol. E quem apareceu para deixar tudo igual novamente? Ele mesmo. Em cobrança de escanteio, André recebeu o passe e chutou forte no alto.

— O segundo gol foi uma leitura nossa, por conta da marcação muito baixa da equipe de Paulo de frontin. Em vez de fazer uma jogada mais elaborada, optamos por simplificar e agredir eles de forma mais direta. É um chute difícil se acertar - recordou.

André Branco, de Três Rios, recebendo orientação do treinador Rafael Buteco — Foto: Daniel Silva

O minuto final foi o de maior emoção na Arena Unifaa, em Valença. Perto do fim, Paulo de Frontin marcou de letra o gol que daria o título à cidade. Um final de jogo parecido com o de 2023, quando Mendes saiu campeã com gols nos últimos instantes.

— Passou um filme na cabeça, viver aquilo novamente seria mais doloroso do que foi ano passado. Na hora, estava tranquilo, focado, mas sabia da grande responsabilidade que estava em nossos ombros. O interessante do esporte, especialmente o futsal, é que ele sempre te dá outras oportunidades de fazer diferente e melhor. E essa foi uma das oportunidades que não se poderia perder - afirmou.

Pela urgência de marcar o gol, André foi colocado de goleiro linha. Lateral para Três Rios. Arthur, o cobrador, tinha uma jogada em mente que terminaria em finalização do companheiro, mas a marcação de Paulo de Frontin não deixou.

Nessas horas, quando não é possível executar a movimentação treinada, abre-se espaço para a criatividade. André abriu espaço no fundo e recebeu o passe. Rapidamente, girou o corpo e, entre três marcadores, encontrou Guilherme livre com um passe açucarado.

— No momento do lateral foi muito intuitivo. Quando recebo o passe, vem o goleiro e os marcadores que estavam no Guilherme e marcando a batida do lateral, então todo mundo veio para me marcar e eu só tinha só uma linha de passe, que era pro Guilherme - lembrou.

Com gol livre, Guilherme não desperdiçou e colocou a bola na rede a 14 segundos do apito final. Três Rios se sagrou campeã mesmo com o empate por ter feito campanha melhor que a adversária na fase de grupos.

É difícil individualizar uma conquista tão coletiva como a de Três Rios. Porém, no meio de tantos jogadores especiais, brilhou a estrela de quem apareceu nos momentos de maior adversidade e teve coragem e ousadia para arriscar. Na terceira conquista da cidade, André Branco foi o grande herói.

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