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Por Alexandre Fernandes — Rio de Janeiro


Os gaúchos Gabriel Bassanesi e Ludmila Lucas completaram nesta semana a subida do Monte Everest - a montanha mais alta do mundo - e se tornaram o primeiro casal brasileiro a conseguir juntos tal feito. A aventura começou no dia 12 de maio, quinta-feira passada, e terminou nesta quarta-feira (18).

Gabriel e Ludmila têm o beijo no topo do Everest coberto pelos agasalhos — Foto: Arquivo pessoal

Em entrevista ao ge, ele - um ex-empresário do ramo de investimentos de 40 anos - e ela - também ex-empresária, de 34 anos - falaram da sensação de conquistar o cume da montanha mais alta do mundo.

- Acho que eu ainda não consegui assimilar direito, é a sensação de estar na lua! Vimos tanta coisa, paisagens inesquecíveis, estrelas abaixo da gente, uma lua cheia bem do nosso lado, o mundo pequenininho lá embaixo em uma cama de nuvem (...) É tanta adrenalina e contemplação, que nem lembro de ter sido difícil chegar lá - comentou Ludmila.

Gabriel Bassanesi e Ludmila Lucas Monte Everest — Foto: Gabriel Tarso

- O Everest é polêmico porque muitas pessoas adoram e outras tantas não. Mas, quem realmente gosta de montanha, o Everest é um lugar que está no imaginário de todo mundo. É impossível gostar de montanha e não querer subir o Everest - disse Gabriel.

- Foi algo que começou a crescer, primeiro em mim, depois na Ludmila, e quando vimos, estávamos prontos. Em 2021, viemos ao Nepal fazer 30 dias de trilhas, escalar três montanhas de 6 mil metros, e percebemos que estávamos prontos. Ainda subimos mais algumas montanhas para saber se estávamos prontos para esse desafio, subimos o Aconcágua em janeiro de 2022 e, como conseguimos fazer isso nos divertindo, tentamos o Everest. Foi muito difícil, mas também foi muito divertido - completou Gabriel.

Chegar ao ponto mais alto do mundo certamente é uma missão para poucos, mas, que pode ser conquistada com um tempo relativamente curto de preparação. Gabriel Bassanesi explica que, há seis anos, essa experiência era simplesmente inimaginável.

- Estamos juntos desde 2015. Tanto eu quanto a Ludmila nunca tivemos esse gosto pela vida outdoor. Em 2016, fomos fazer uma viagem ao Japão e vimos que um dos pontos turísticos era escalar o Monte Fuji, que é uma trilha de 3.700 metros, não é tão baixo assim. Fomos, escalamos, passamos sufoco, a gente estava muito mal preparado, calça jeans rasgada, tênis errado, mas adoramos. Caminhamos a noite inteira, fizemos cume e decidimos que iríamos melhorar nessa atividade. E aí começamos a crescer nos esportes de aventura, fazendo trilha no Brasil, curso de escalada, ver outras montanhas altas e, assim, esse amor pela aventura foi crescendo. Não era um que gostava de fazer trilha e acabou levando o outro. Fomos nós dois aprendendo juntos. Em 2017, fizemos um curso de escalada em rocha, fizemos outros cumes, passamos alguns sufocos, mas adoramos.

E esse processo de mergulho nos esportes radicais e no montanhismo aconteceu com uma pandemia no meio, onde o mundo se fechou em casa. Mas o casal brasileiro usou desse "vazio" para explorar e se aperfeiçoar.

- A pandemia teve impacto na preparação porque, dois meses antes da pandemia, a gente largou tudo no Brasil e a gente foi viajar o mundo. Mas, como chegou o Covid-19 e o mundo fechou, a gente começou só a fazer montanha. A gente se mudou para um vilarejo na Itália aos pés do Mont Blanc (mais alta montanha dos Alpes e da União Europeia) e, de lá, a gente começou só a treinar montanha, escalada em rocha, em gelo, fazer tudo quanto é tipo de preparação e, quando vimos, estávamos prontos. Foram dois anos e meio nessa função. Acabou que a Covid nos ajudou na preparação.

Gabriel Bassanesi e Ludmila Lucas — Foto: Arquivo pessoal

Como era de se esperar. subir a montanha mais alta do mundo te leva a níveis elevados de estresse tanto físico quanto mental. No caso dos brasileiros, a experiência ganhou contornos de drama logo no começo, quando Ludmila começou a sentir dor nas costas. Mas, segundo Gabriel, em nenhum momento a esposa pensou em desistir, inclusive, demonstrando muita garra para passar todo mundo na parte final da chegada ao cume.

- No dia do ataque ao cume, quando a gente chega no campo 4, fui perguntar pra Ludmila se estava tudo bem, "baixou alguma coisa" nela, que ela se saiu muito bem, passou todo mundo na parte final da subida e, em nenhum momento, passou pela cabeça dela desistir. Eu estava mais preocupado, mas ela jamais pensou em desistir - contou Gabriel.

- Tirando o frio extremo, tem umas partes técnicas que foram bem mais difíceis do que a gente esperava. Tem a Cascata do Khumbu, que é para passar do campo base para o campo 1, realmente, era muito difícil. Cada vez que a gente vai subir, ela muda, partes técnicas de ascensão de rapel, e do campo 2 para o campo 4 tem uma parede do sul que é impressionante, a gente não esperava que fosse tão difícil. É longo, perigoso, cai pedra, mas, quando chega no campo 4, a gente já está vendo o cume sul do Everest e aí fica mais tranquilo.

Na descida da montanha, na passagem do campo 4 para o campo 2, as dores estavam insuportáveis para Ludmila. Um helicóptero de resgate foi chamado para levá-la até Lukla, no Nepal, onde foi encaminhada para ser atendida no hospital. Mas a brasileira já está bem, feliz e sem dores.

Realizado por ter conseguido chegar ao topo do mundo com a pessoa que escolheu para passar o resto da vida, Gabriel Bassanesi deixou uma mensagem de incentivo a todos que queiram conhecer seus limites extremos.

- Qualquer pessoa pode fazer o que quiser, desde que esteja focado, tenha tempo, goste do que está fazendo. Até 2016 eu nem conhecia trilha, montanhismo, não sabia nem acampar direito e, hoje, seis anos depois, eu e minha esposa fizemos juntos e abraçados o topo do mundo.

Gabriel Bassanesi e Ludmila Lucas no topo do Everest — Foto: Arquivo pessoal

Brasileiros que já subiram o Monte Everest:

  1. Waldemar Niclevicz (14/05/1995)
  2. Mozart Catão (14/05/1995)
  3. Irivan Burda (02/06/2005)
  4. Vitor Negrete (02/06/2005)
  5. Ana Boscarioli (19/05/2006)
  6. Rogério Raineri (27/05/2008)
  7. Eduardo Keppke (27/05/2008)
  8. Manoel Morgado (17/05/2010)
  9. Cleo Weidlich (17/05/2010)
  10. Carlos Santalena (07/05/2011)
  11. Carlos Canellas (07/05/2011)
  12. Karina Oliani (17/05/2013)
  13. Jefferson dos Reis (23/05/2013)
  14. Thais Pegoraro (19/05/2016)
  15. Rosier Alexandre (21/05/2016)
  16. Cristiano Müller (21/05/2016)
  17. Adriano Freire (16/05/2017)
  18. Roman Romancini (16/05/2018)
  19. Henrique Franke (19/05/2018)
  20. Ayesha Zangaro (20/05/2018)
  21. Renato Zangaro (20/05/2018)
  22. André Freitas (21/05/2018)
  23. Gilberto Thoen (21/05/2018)
  24. Juarez Soares (22/05/2019)
  25. Moeses Fiamoncini (23/05/2019)
  26. Gustavo Ziller (23/05/2021)
  27. Gabriel Tarson (23/05/2021)
  28. Alex Cruz (23/05/2021)
  29. Aretha Duarte (23/05/2021)
  30. Leonardo Silvério (23/05/2021)
  31. Joel Kriger (16/05/2022)
  32. Gabriel Bassanesi (16/05/2022)
  33. Ludmila Lucas (16/05/2022)

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