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Por Redação do ge — Rio de Janeiro


Em um vídeo que circulou nas redes sociais, o cavaleiro Marcello Artiaga, ex-campeão de saltos por equipes nos Jogos Pan-Americanos de Havana 1991, aparece esfregando o casco do cavalo Imperador Método, do qual é dono, no dia 14 de abril, em uma área fora do setor restrito de onde o animal não deveria sair (vídeo abaixo). O cavalo seria posteriormente montado por Paulo Miranda no CSN 8ª SHP Open (provas 1,50m e 1,60), na Sociedade Hípica Paulista. O caso foi primeiro divulgado pela Revista Horse, no dia 17 de abril.

Cavaleiro Marcello Artiaga esfrega um produto no casco do cavalo Imperador Método

Cavaleiro Marcello Artiaga esfrega um produto no casco do cavalo Imperador Método

Nesta quinta-feira, dia 25, a Confederação Brasileira de Hipismo (CBH), a Sociedade Hípica Paulista, a Federação Paulista de Hipismo e a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Brasileiro de Hipismo divulgaram uma nota conjunta informando que pediram a abertura de um inquérito para suspeita de maus tratos de animais, já que a escovação da coroa teria sido feita com utilização de substância proibida, que causaria hipersensibilidade na pata, fazendo o cavalo saltar mais. Presidente da Comissão Boas Práticas no Esporte Equestre e Clean Sport da CBH, criada há um ano para proteger os animais no hipismo, a amazona Bianca Matarazzo conta que a filmagem repercutiu em todo o mundo hípico.

Cavalo Imperador Método reage ao teste de apalpação da pata

Cavalo Imperador Método reage ao teste de apalpação da pata

- A gente, que é do meio, sabe o que ele fez, que é ilícito. Não existe esconder um cavalo para passar produto no casco - comenta Bianca, contando que foram realizados testes de rotina chamados termografia no animal logo após a prova e o resultado apontou um calor anormal na região: - Nesse evento, fizemos mais de 300 testes desses, só o dele acusou. Por isso é tão chocante, é a exceção da exceção.

Momento em que Imperador Método puxa a pata durante o exame de palpação — Foto: Reprodução

Os testes que Bianca cita são uma termografia, que avalia a temperatura do casco do cavalo, e a palpação, para testar a sensibilidade do animal. No de palpação, vemos no vídeo acima que Imperador Método puxa a perna direita para trás quando o veterinário passa a mão na região próxima a pata. Na esquerda, onde não foi passado o produto, ele não tem a mesma reação. Na termografia, que vemos no vídeo e nas imagens abaixo, a região da pata do cavalo está mais quente que o normal: a imagem do termovisor está na cor vermelha, quando a temperatura normal é lida em amarelo. Foi feita ainda uma raspagem dos pelos para análise em laboratório, já que havia uma substância oleosa no local, mas os resultados ainda não saíram.

Termografia do cavalo Imperador Método acusa calor excessivo no casco da pata direita

Termografia do cavalo Imperador Método acusa calor excessivo no casco da pata direita

- No teste de sensibilidade, o veterinário usa uma luva e passa a mão na pata para ver se o cavalo sente dor. E ele reagiu - conta Bianca: - Ele levantou a pata duas ou três vezes, como se estivesse incomodado. Dá para reconhecer, o cavalo é muito sensível. É muito raro pegar imagens e sensibilidade como aconteceu com esse cavalo.

Bianca explica que, quando um animal fica com essa área mais sensível, tem a tendência de levantar mais a pata para evitar encostá-la em obstáculos, para se proteger da dor.

Na imagem do lado direito, a pata de Imperador Método após a prova, com imagem em vermelho, que denota calor; do lado esquerdo, a cor normal, esperada, no exame de termografia — Foto: Reprodução

Em seu canal de YouTube, no entanto, Marcello Artiaga publicou vídeos de um exame de contraprova feito no mesmo dia do evento e de novos testes feitos no dia 16 de abril, para comprovar o bem-estar do animal. Neles, como no que está reproduzido abaixo, feito no próprio dia 14, o cavalo não reage à palpação. Até o momento, o ge não conseguiu contato com Artiaga.

Vídeo da contraprova do teste de sensibilidade do cavalo Imperador Método

Vídeo da contraprova do teste de sensibilidade do cavalo Imperador Método

Em declaração exclusiva à Revista Horse, Marcello Artiaga disse que está preparando uma nota oficial e refutou as acusações.

- O Regulamento da CBH permite a realização de um exame final de apalpação, a contraprova. Foi feito esse reexame e deu negativo - contestou Artiaga, que não quis falar sobre o que estava fazendo fora da área restrita, mas adiantou que Imperador Método tem um problema ósseo no local onde estava sendo aplicado o produto.

Entenda o que aconteceu

Quando há um concurso de hipismo, todos os cavalos devem ficar todo o tempo, desde que chegam ao local da prova, em uma área restrita, monitorada por comissários. De lá, eles saem diretamente para a entrada da pista, onde são montados pelo cavaleiro, e dali seguem para a prova. No dia 14 de abril, antes de uma prova na Sociedade Hípica Paulista, uma amazona (não identificada) viu que o cavalo Imperador Método estava fora da área restrita, em uma cocheira que deveria estar vazia, e gravou seu dono, Marcello Artiaga, esfregando um produto não identificado em seu casco da pata dianteira direita.

Foi feita a denúncia, mas o cavalo chegou a competir, e assim que saiu da pista foi examinado por dois veterinários, que fizeram a termografia e o teste da palpação. Em seguida, houve a contraprova citada por Artiaga. Ainda assim, segundo a nota conjunta das federações, o cavaleiro Paulo Miranda foi declassificado.

Do dia 14 até o dia 25 de abril, então, reuniram-se provas como vídeos, fotos e declarações dos veterinários que examinaram o cavalo. Representando a CBH, a Sociedade Hípica Paulista, a Federação Paulista de Hipismo e a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Brasileiro, a advogada Helena Lobo deu entrada em um pedido de abertura de inquérito na Divisão de Investigações sobre Infrações de Maus Tratos a Animais e demais Infrações contra o Meio Ambiente do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania, em São Paulo.

- Nós pedimos a instauração do inquérito, acredito que semana que vem estará formalmente instaurado. A gente levou uma série de elementos para a delegacia. A investigação é um passo inicial. A polícia vai colher provas e levar ao Ministério Público, que então decidirá se há crime e se levará a denúncia adiante - explicou Helena, afirmando que levar o caso à polícia "mostra a gravidade dessa suspeita".

Para casos como esse, se o Ministério Público concordar que há crime, a pena pode chegar a ser de três meses a um ano de prisão, mas raramente chega-se a esse ponto ou mesmo a um processo penal. A advogada esclarece que o mais usual é que haja um acordo pré-processual, em que o acusado aceitaria pagar uma multa ou prestar um serviço, fazer uma doação a uma ONG e outras medidas socioeducativas.

- A gente entende que há um valor pedagógico importante, que são questões que devem ser submetidas ao rigor da lei. Existem regras para a lisura da competição e para que os animais sejam tratados de maneira adequada - disse Helena Lobo. - Um ponto importante: a gente não está fazendo isso pela suposta desonestidade no esporte. A gente levou à justiça criminal porque acredita que um animal foi maltradado.

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