São Paulo abre mão da candidatura, e Pan de 2027 fica entre Assunção e Lima

Escolha da nova sede deve acontecer em um mês, após a dona dos Jogos romper o contrato com Barranquilla, na Colômbia, por falta de pagamento; São Paulo deve se candidatar ao Pan de 2031

Por Marcel Merguizo — São Paulo


O prazo final para se candidatar para ser sede dos Jogos Pan-Americanos de 2027 acabou nesta quarta-feira, dia 31 de janeiro. E São Paulo não enviou a carta de compromisso que a Panam Sports, dona do evento, pede aos candidatos. A capital paulista havia manifestado interesse de realizar o Pan daqui a três anos, mas não concretizou a candidatura.

Assim, o Pan 2027 ficará entre Assunção, capital do Paraguai, e Lima, capital do Peru. A cidade paraguaia realizou os Jogos Sul-Americanos em 2022 e vai receber o Pan Júnior em 2025. Já a peruana foi sede dos Jogos Pan-Americanos em 2019 e decidiu se candidatar a receber o evento novamente em 2027 após a colombiana Barranquilla perder o direito após não fazer o pagamento que necessitava à Panam Sports.

Cerimônia de Abertura Jogos Pan-Americanos Lima 2019 — Foto: REUTERS/Pilar Olivares

Com Lima e Assunção confirmadas, até as últimas horas de janeiro, a Panam Sports esperou a candidatura de uma cidade mexicana: Guadalajara, que recebeu o Pan em 2011, e Monterrey, perto da divisa com os Estados Unidos, eram as mais cogitadas. São Paulo nem sequer era mais esperada nas véspera do fim do prazo para as candidaturas. A partir de agora, com Assunção e Lima na disputa, a assembleia pan-americana vai ser convocada para escolher a cidade sede no início de março.

São Paulo anunciou o desejo de se candidatar ao Pan de 2031 durante os Jogos de Santiago, no Chile, em outubro passado. Na ocasião, já se sabia que Barranquilla não estava cumprindo várias cláusulas do contrato com a Panam, principalmente os relacionados à parte financeira. A cidade colombiana não pagou duas parcelas de US$ 4 milhões (aproximadamente R$ 45 milhões, no total) como garantia aos donos do Pan. O contrato foi rompido em 3 de janeiro de 2024.

No Chile, a então secretária municipal de Relações Internacionais, Marta Suplicy, disse que São Paulo estava pronta para assumir uma campanha pelo Pan de 2027. Há duas semanas, Marta pediu demissão do cargo para concorrer à Prefeitura, como vice de Guilherme Boulos, nas eleições deste ano.

Houve mudança também na Secretaria de Esportes e Lazer do município, semanas antes, ainda no fim de dezembro, com a chegada de Felipe Becari ao posto. Em entrevistas recentes, o secretário disse que se sentaria com o COB para alinhar a candidatura paulistana ao Pan até setembro. Mas o prazo os Jogos de 2027 acaba nesta quarta-feira. Para 2031, ainda há tempo de sobra. Inclusive para o COB entrar com toda força na empreitada --no meio olímpico, há quem diga que um Pan com mais tempo de preparação e divulgação atrairia novos e bons investimentos ao esporte no país.

Parque Olímpico de Assunção, no Paraguai, para os Jogos Sul-Americanos de 2022 — Foto: Organização dos Jogos Sul-Americanos de Assunção

Até o momento, a Prefeitura da capital paulista não se reuniu com o Comitê Olímpico do Brasil (COB) para oficializar a intenção de se candidatar aos futuros Jogos. É necessário que o comitê olímpico nacional apresente uma carta dizendo que a cidade é a escolhida pelo país para realizar o evento. Apesar do encontro entre as lideranças em evento no Pan de Santiago e de a Prefeitura de São Paulo ser patrocinadora da Casa Brasil, tanto nos Jogos do Chile quanto nas Olimpíadas de Paris, o relacionamento não levou a uma oficialização da candidatura para 2027.

A relação de São Paulo com o COB é ótima. A cidade, por exemplo, vai receber a "fan fest" oficial do comitê durante os Jogos de Paris no Parque Villa-Lobos, em julho e agosto. A Arena Time Brasil irá concentrar as principais ativações do que será chamado de Parque Villa Olímpica, como transmissão ao vivo das disputas de Paris, shows e experiências realizadas pelo COB. A ideia é que o local também sirva de palco para receber os atletas olímpicos que retornarem da França.

O mascote Fiu recebe medalha do Pan de Santiago — Foto: Miriam Jeske/COB

Sem São Paulo, que internamente desfruta de grande apreço da Panam Sports, Assunção surge como principal candidata. Apesar de a infraestrutura da cidade e do país não serem as melhores do continente, os equipamentos olímpicos construídos recentemente na capital paraguaia são vistos com bons olhos.

O grande trunfo de Assunção, entretanto, está nos bastidores. Camilo Perez, presidente do Comitê Olímpico do Paraguai, é membro do COI (Comitê Olímpico Internacional), presidente da Odesur (Organização Desportiva Sul-Americana) e goza de grande influência entre os dirigentes.

Do lado de Lima, capital gastronômica da América Latina e acostuma a receber milhões de turistas anualmente, pesa o fato de terem organizado os Jogos há menos de cinco anos. Foi a única vez que o Peru recebeu o evento que reúne 41 países das Américas. O Paraguai nunca foi sede de um Pan. São Paulo recebeu os Jogos em 1963 e o Rio de Janeiro, em 2007. Ou seja, vão se passar mais de 20 anos para o Pan voltar ao Brasil.

Rogério Sampaio fala da preparação do Brasil para as Olimpíadas de Paris em entrevista a Caio Maciel e Marcel Merguizo