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Por Bruno Côrtes, Cahê Mota e Fred Gomes — Rio de Janeiro


Rodinei lembra ensinamento de roupeiro do Flamengo: "Anota tudo no caderninho em branco"

Rodinei lembra ensinamento de roupeiro do Flamengo: "Anota tudo no caderninho em branco"

Quem vê o triunfante fim de trajetória de Rodinei no Flamengo sabe de cor e salteado como o outrora criticado lateral se transformou em xodó. As grandes atuações na fases agudas de Copa da Brasil e Libertadores e o apoio irrestrito de David Luiz compõem o cenário. Mas a construção da história vencedora do paulista de Tatuí, agora campeão europeu com o Olympiacos, não tem apenas ingredientes de luxo, como o aconselhamento de um jogador de Copa do Mundo e grandes taças. O atleta de 32 anos lembra que nas primeiras dificuldades em vermelho e preto foram as dicas do roupeiro Moisés, até hoje funcionário do Rubro-Negro, que o fizeram abrir sua cabeça para evoluir.

Na última das muitas perguntas de uma entrevista que durou 50 minutos, Rodinei foi questionado sobre um troféu de plástico que ganhou de presente ainda em março de 2016, seu terceiro mês de Flamengo. Quando esteve em Aracaju para enfrentar o Confiança, pela primeira fase da Copa do Brasil, recebeu um troféu de plástico com os seguintes dizeres: "Raça e simplicidade a serviço do Mengão".

Rodinei recebeu um troféu de plástico em seu terceiro mês de Flamengo — Foto: Fred Gomes

A palavra "simplicidade" trouxe à mente de Rodinei o ensinamento de Moisés, figura simples e querida por todos no Ninho do Urubu até os dias de hoje.

- Essa plaquinha diz tudo. Só de ter falado aqui da simplicidade para mim já vale muito, ter ganhado isso de um torcedor em apenas três meses de Flamengo e já receber esse carinho. Então, com certeza, a história já estava sendo feita. É como o roupeiro do Flamengo, o Moisés, sempre dizia para mim nos momentos em que eu estava mal nos momentos e em que eu estava triste. Parece que essas pessoas estão ali apagadas, mas às vezes elas vêm com umas palavrinhas que mudam o dia da gente.

- Sempre que eu chegava lá, ele falava - até me arrepio de lembrar essa história que eu nunca contei -: "É, Rodi, mais um dia, pega teu caderninho que está em branco e vamos devagarzinho escrevendo a história". Então essa frase parece que me fortalecia de uma forma que é como dizer: "Quando as coisas estão dando errado, vai lá anota tudo no caderninho em branco e começa a escrever".

Rodinei, com camisa antirracismo, em entrevista de 50 minutos ao ge e à TV Globo — Foto: Fred Gomes

Rodinei lembra que a história no Flamengo quase deixou de ser escrita a partir de 2021, quando a permanência no Internacional era quase que uma certeza. A transferência não se concretizou, o jogador voltou para o Ninho do Urubu e antes de se tornar o "avión", apelido que ganhou de Vidal, teve de driblar um outro meio de transporte que não é nada glamouroso na linguagem da bola: a temida barca.

- E a história foi sendo feita, ainda fui embora em 2020 para o Inter (por empréstimo). Fiz uma temporada que parecia que eu iria permanecer no Inter e não voltaria, mas volto ao Flamengo em 2021 e ainda aguento ali mais um ano difícil em que nós perdemos a Libertadores, e eu sem jogar.

- Começa 2022 com a perspectiva: Rodinei está na barca, aquela famosa barca (risos). Porque quando chega a barca no Mengão, eu sei bem como é ali dentro. A barca do Mengão, e os guerreiros começam a ficar como? "Ixi, eu estou nessa barca, vai dar ruim" E eu, graças a Deus, passei por todas as barcas ao longo desses sete anos e saí honrado. Então é essa história que fica, é muito gratificante relembrar essas coisas. Por isso que eu tenho tudo guardadinho aqui com muito carinho e agora é só continuar desfrutando - orgulha-se.

O troféu de plástico recebido em março de 2016 multiplicou-se em taças continentais, nacionais e estaduais. O hoje maduro lateral de 32 anos desfruta, como ele adora dizer, de uma temporada especial na Europa, onde sempre sonhou estar. Mas nunca sem tirar os pés no chão. Se hoje os canecos têm os nomes de Libertadores, Brasileiro e Conference League, o da "Simplicidade", conquistado em Sergipe, não foi esquecido. Dessa forma, constou na lista de 55 nomes de Tite para a Copa do Mundo de 2022 e continua como um dos atletas no radar da comissão técnica da seleção brasileira, hoje dirigida por Dorival Júnior, treinador que o alçou ao protagonismo no Flamengo.

- É uma temporada (2023/2024) que não tem muita coisa para falar, foi muito especial para mim. Fizemos história na Grécia, agora é descansar um pouco, curtir com a família e os amigos para voltar na mesma pegada. Para mim, é muito importante. Já venho de duas temporadas no Olympiacos e saí na minha melhor temporada da carreira, que foi em 2022 pelo Flamengo. É bom para o jogador sempre manter o alto nível. Essa temporada foi muito especial, estou muito feliz de defender a camisa do Olympiacos e espero que eu continue fazendo grandes temporadas por muito tempo ainda.

Rodinei e capitão Kostas Fortounis levantam a taça da Liga Conferência para o Olympiacos — Foto: Bernadett Szabo/Reuters

Apesar de curtir o grande momento em solo europeu, Rodinei lembra que há cerca de três anos, às portas de completar 30, o sonho de atuar no Velho Continente não passava mais pela cabeça. Hoje, a sensação é de que toda a resiliência demonstrada nos últimos anos de Brasil renderam frutos.

- Eu olho com aquela sensação de que valeu a pena. Há um tempo eu estava desanimando, pensando que a minha chance de jogar na Europa nunca mais ia acontecer. Quando apareceu essa proposta do Olympiacos, eu não pensei duas vezes em ir embora para a Europa. Eu já sabia que estava preparado para viver esse momento. Preparado 100% acho que a gente nunca está, mas eu já fui bem focado, preparado, e por isso que os resultados estão aí e as coisas têm dado certo na minha vida.

Confira na íntegra o papo com Rodinei, campeão da Europa Conference League, dividido em três partes: Europa, Flamengo e Racismo.

Europa

Como foi o processo de adaptação para se tornar campeão na Europa?

- Já era um sonho que eu tinha há muito tempo, mas esse sonho tinha apagado da minha memória, da minha prateleira dos sonhos, Já estava bem desanimado, achando que nunca iria acontecer de eu jogar na Europa. Então me preparei muito antes. No ano mesmo de 2022 eu já estava me preparando, já estava mais focado e ativando esse sonho na minha mente. E eu falei "ainda dá para eu jogar na Europa, ainda vou realizar esse sonho". E, graças a Deus, aconteceu. Então eu já cheguei lá bem preparado, eu sei que a adaptação no começo não foi fácil, por causa principalmente do frio. E é outra língua. Eu não falava inglês, no espanhol todos sabem que eu falava aquele portunhol que eu aprendi com meus companheiros ao longo desses anos no Flamengo, mas minha adaptação foi bem rápida.

Rodinei se diverte com canto e as dificuldades com o idioma: "Falavam para descansar e eu corria"

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- Me receberam lá na Grécia super bem, o povo grego tem aquela energia do brasileiro, é um povo carinhoso, que abraça. Eles amam brasileiros lá, então eu me senti em casa com o carinho deles muito grande por mim, então isso foi fez com que a minha adaptação fosse rápida e eu conseguisse demonstrar meu melhor futebol lá na Europa, principalmente dentro do clube no Olympiacos. Então eu estou muito feliz com esse momento.

Conference League, à esquerda da Copa do Brasil, virou tatuagem na perna esquerda de Rodinei — Foto: Fred Gomes

Mas tem alguma história engraçada da sua adaptação à Grécia e especialmente ao idioma?

- Quando cheguei na Grécia, dei graças a Deus por eles terem uma comissão espanhola, porque eu já consigo falar muito bem espanhol, mas inglês e grego eu não conseguia nada, cara. Eles falavam comigo dentro de campo, e eu ficava igual a uma barata tonta rodando. Eles falavam "rest" para eu descansar, e eu corria. Aí eu fazia tudo ao contrário. Eles falavam "tomorrow", eu pensava que era hoje, que era o "today". Eu não sabia nada e aí também é como eu disse: tudo vai da energia, o importante é você passar as mensagens para as pessoas. E eu hoje pelo menos eu consigo passar a mensagem, por mais que eles não me entendam. Mas tudo bem, eu consigo passar a mensagem. O importante é vir do coração e conseguir passar a mensagem para eles. Às vezes é um sorriso no rosto, às vezes é um olhar, principalmente no jogo a gente se conecta. Eu presto muita atenção nas coisas, estou sempre estudando e já consigo hoje falar que eu estou adaptado na Grécia

Apesar de não ser uma liga top-5 da Europa, o futebol grego não pode ser considerado fácil. James Rodriguez e Marcelo, por exemplo, não aconteceram lá. É injusto falar que a Grécia é uma porta mais fácil para se entrar no continente?

- Como você disse, não está entre os top-5 da das melhores ligas, mas é futebol europeu. E futebol europeu todo mundo sabe da qualidade, é um futebol muito difícil, futebol organizado. Na Grécia há muitos jogadores que já passaram por grandes clubes da Europa, tanto que o Marcelo, que jogou não sei quantas temporadas no Real Madrid e tudo que ele ganhou, passou pelo Olympiacos. James Rodriguez é outro exemplo. Então não é uma liga assim tão fácil de jogar. Não está entre as top-5, mas o Olympiacos está sempre jogando Champions League, está sempre jogando Europa League e a própria Conference, que a gente conseguiu vencer, então o sarrafo aumenta. Não é tão simples, muita gente pensa que é só o campeonato grego, mas eu estou lá duas temporadas e não ganhei nenhuma liga grega.

Aulas com o "professor David Luiz" antes da chegada à Europa e evolução dentro como atleta do continente

- Eu não entendia muito o que era o futebol europeu e aí eu gosto de usar o exemplo sempre do David Luiz, que foi um professor para mim ao longo de 2022. Comecei a prestar atenção mais no que era o futebol europeu, na responsabilidade que tem que ter na Europa. Então essas coisas para mim foram diferentes porque eu sempre joguei no Brasil. E no Brasil a gente sabe: o brasileiro tem aquela resenha, aquele carisma, faz as coisas na alegria e na ousadia. E na Europa não é bem assim é um futebol mais frio, onde você tem que estar sempre mais ligado.

- Tenho certeza que eu melhorei muito defensivamente em relação ao que eu fazia no Brasil. Então a Europa me ajudou muito a ficar mais ligado o tempo todo. A margem de erro tem que ser muito pequena, isso fez ajudar também no meu crescimento como profissional.

Rodinei em entrevista ao ge — Foto: Fred Gomes

Como conseguiu quebrar a frieza dos gregos com esse estilo brincalhão?

- Cara, foi do mesmo jeito. Cheguei lá com um sorriso no rosto, realmente o europeu é um povo mais frio, mas os gregos têm a energia meio parecida com a do brasileiro. Eu cheguei lá brincando com todo mundo, resenha, e falei: na hora de comemorar eu vou puxar o bonde porque a gente precisa de alegria. O mundo que a gente vive só se vive uma vez, não dá para ficar com tristeza todo o tempo.

- Então, quando a gente consegue fazer alguma pessoa sorrir é gratificante. E eles lá na Grécia têm 100 anos de clube e nunca tinham um vencido um campeonato europeu. E eu poder ter ajudado a eles a conseguir esse feito inédito principalmente dentro de campo e também fora dele com a energia no dia a dia, com a resenha deixando o clima mais leve, foi muito especial. Então fico muito feliz de até na Grécia eu consegui trazê-los para a resenha junto comigo.

Rivalidade com o amigo Willian Arão, do Panathinaikos

- Independentemente da rivalidade, e a gente sabe que Olympiacos e Panathinaikos é o clássico mais pesado da Grécia, é bem parecido com Gre-Nal e Fla-Flu, mas a gente tem amizade. Conheço o Arão desde 2012. Temos uma linda amizade, as babás se encontram para sair com as crianças, às vezes nos encontramos. A rivalidade fica em campo, mas temos uma amizade bem bonita fora de campo.

- Acho que ele teve mais vitórias do que derrotas, mas o importante é que no último jogo, em que nós precisávamos, nosso time empatou com eles na casa deles e terminamos o campeonato na frente deles. No jogo mais importante, a gente deu recado, mas acho que ele teve uma vitória a mais.

Torcida fervorosa

- Eu saio da nação rubro-negra, e a gente sabe: são 42 ou 45 milhões de torcedores, já perdemos as contas há muito tempo. Então quando eu chego na Grécia, isso parece parecia que ia ser um baque falar que estava saindo da maior torcida do Brasil para ver como seria agora. Mas, cara, desde o primeiro jogo é uma loucura tremenda eles cantando até o final. Tem uma coisa que no Brasil já não é permitido que eles botam laser na cara. Eles jogam uma bomba no estádio, e o juiz fala: "segue o jogo". Um dia o cara pegou um isqueiro, eu fui cobrar o lateral, e o cara tacou o isqueiro na minha cabeça. Eu, com aquele jeitão brasileiro, falei: vou pegar o isqueiro e mostrar para o juiz. Os gregos já vieram falando: "Não, Rodi. Pame, pame, pame". Pame é vamos em grego. Então a atmosfera lá apresenta um clima hostil, é muito gostoso de jogar lá com essa atmosfera da torcida na rua antes dos jogos.

O filho do presidente colocou sua foto no perfil dele no Instagram. O que isso representa para você?

- Cara, é uma coisa surreal, porque eu estou há tão pouco tempo no clube, então isso mostra o carinho que que a torcida tem por mim. E o filho do presidente botar uma foto minha no perfil dele do Instagram acaba não me valorizando, mas mostrando que eu estou adaptado ao clube e que as pessoas gostam de mim. Então eu recebo esse carinho de uma forma muito gratificante de viver isso fora de casa, porque eu sou brasileiro e estou recebendo esse carinho na Grécia. É difícil conquistar isso e fico muito honrado de ter conquistado então há pouco tempo.

Filho do Presidente do Olympiacos usa a foto de Rodinei — Foto: Reprodução

Futuro no Olympiacos, com contrato vencendo em junho de 2025

- Nessa temporada a gente foi campeão da Conference, conseguiu estar direto na fase de grupo da Europa League, que isso ajuda muito a um clube planejar, ter mais tempo para treinar e até ter um pouco mais de tempo de férias. E eu tenho mais um ano de contrato, vai até o meio de 2025. Essa pergunta vocês me faziam desde 2022, quando o meu contrato estava acabando com o Flamengo. O que vai ser, o que que vai acontecer, vai renovar, não vai. Mas eu vivo um dia de cada vez. Tenho mais um ano de contrato, sempre vou estar aberto a outros clubes, porque é a vida de um jogador. O futuro a Deus pertence. Meu empresário está cuidando bem da minhas coisas, sabe que eu tenho mais um ano de contrato, não sei se eu vou renovar com Olympiacos ou não.

- Até agora não temos nada, não chegou nada da parte deles também. É continuar trabalhando dia a dia, cuidar do meu corpo, me cuidar mentalmente para sempre quando entrar dentro de campo dar o meu melhor. E aí a gente vê como as coisas vão caminhar a partir do ano que vem que, quando acaba o meu contrato.

Rodinei fala de saudades do Fla, diz se voltaria e lembra das críticas: "Antes era vai embora, Rodinei"

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Você tem conseguido assistir aos jogos do Flamengo?

- Quando o Flamengo joga às quatro horas da tarde aqui no Brasil, eu consigo assistir ao jogo porque lá na Grécia ainda é um pouco cedo. Aí acompanho porque, como eu disse, tenho sete anos de Flamengo, é uma história. Eu sempre vou acompanhar meus ex-companheiros e torcer pelo sucesso deles. Mas quando o jogo é 21h30 aqui no Brasil, é impossível, já estou dormindo, mas sempre no outro dia quando acordo acompanho também, ainda falo com quase todos que que jogaram comigo no Flamengo e é bom ter essa amizade e esse carinho que também eles têm por mim.

Rodinei tranquilo em casa após entrevista ao ge — Foto: Fred Gomes

Sente saudades do Flamengo?

- Com certeza. Eu vivi uma história no Flamengo. Joguei no Flamengo sete anos, então com certeza toda vez eu vou falar de Flamengo, vou sentir saudade do Flamengo. Tenho amigos, sinto saudade da resenha dos meus amigos, sinto saudade de jogar no Maracanã lotado. Sinto saudade da torcida gritando meu nome. Eu já disse: só tenho gratidão pelo Flamengo. Fico muito feliz de ter saído pelas portas da frente e mais feliz ainda de saber o carinho que eles que eles têm por mim. Porque isso é difícil você atingir no futebol brasileiro. Eu não me considero um ídolo da torcida do Flamengo, mas só de saber o carinho que eles têm por mim já é gratificante demais. Então claro que eu sempre vou sentir saudade dessa atmosfera de pegar o ônibus e jogar no Maracanã.

Flamengo sempre na cabeça e Maracanã como casa

- Quem que, enquanto criança, enquanto garoto, não quer jogar no Maracanã e estar entre os melhores? Então isso não é vergonha de falar. Não é dizer que eu quero que o Flamengo mande uma proposta ou que eu quero voltar urgentemente para o Flamengo. Não é nada disso, mas é o carinho e o respeito que eu tenho pela torcida do Flamengo e por todos os amigos que eu fiz ao longo desses sete anos. Minha filha mais velha vai fazer 5 anos já é uma história. Eu fiquei sete anos no Flamengo, então é uma big história. Então, para mim, fico muito feliz em relembrar o Flamengo, viver o Flamengo todos os dias. Sempre que estiver no Rio, eu vou reencontrar meus amigos do Flamengo. Se puder, vou assistir aos jogos do Flamengo no Maracanã, porque, querendo ou não, se tornou minha casa.

Rodinei Flamengo x Athletico-PR Libertadores — Foto: Gilvan de Souza/Flamengo

Tem vontade de voltar?

- Cara, quem não teria vontade de voltar viver isso? Eu acho que seria mentira dizer o contrário, ainda mais por toda a história que eu vivi no Flamengo, mas eu agora estou vivendo um momento que também era um sonho de viver e jogar na Europa. Então o meu foco está todo na Europa, está em jogar Europa League. Se Deus quiser, uma Champions League, que um dia já botei na prateleira dos meus sonhos. Então é deixar estabilizada, também fazer um bom trabalho na Europa e depois pensar em Brasil. E, se mais para frente o Flamengo me quiser, por que não? A gente está aberto a todos, como também a outros clubes no Brasil. O Brasil é uma potência e é um mercado maravilhoso para você fazer o seu trabalho.

"Volta, Rodinei" dá lugar ao "vai embora, Rodinei"

- Cara, é legal (ouvir os pedidos para voltar), mas ao mesmo tempo, tipo assim, eu fico pensando: "Cara, é engraçado, porque tudo que eu já passei no Flamengo..." Antigamente era "vai, Rodinei. Vai embora (risos)". Até hoje uns falam "Não volta, não, fica aí que nós não estamos precisando. Mas é engraçado. É porque isso é a expectativa do torcedor, nós jogadores somos muito profissionais. E para mim, irmão, o Flamengo é uma máquina. Tem grandes laterais-direitos. Varela, Wesley e estão subindo outros menino da base. Laterais-esquerdos também, o Beijinho, que é meu parceiro, o Viña, que contrataram. E eu estou acompanhando. O Flamengo tem um grande time, tem uma seleção e tem tudo para sempre estar disputando os principais campeonatos.

- Às vezes na resenha tem o "Volta, Rodi", os meus amigos começam a mandar junto "volta, Rodi". Mas eu tenho um contrato na Europa, tem um contrato com o Olympiacos e estou muito feliz de estar desfrutando desse futebol europeu, que é sempre onde eu queria estar um dia e que eu pensei que não podia mais. Pensei que era ruim de bola e agora eu estou me sentindo bom (risos).

Sem melindre com críticas no momento de baixa e faixa "me desbloqueia, Rodinei"

- Eu sei que já teve muita gente no Brasil que me atacou com uma certa maldade, que isso até hoje eu lembro, mas as pessoas que me criticaram pelo que eu estava fazendo dentro de campo é normal, cada um tem o seu trabalho. Se a imprensa me criticar e realmente eu sei que eu estou mal, o que que eu vou fazer? Vou falar para não me criticar? Cada um tem o seu trabalho, mas nessas de torcedor teve uma história bem legal com um menino lá na final da Libertadores que ele que ele mandou: "Nunca critiquei, Rodinei". Mas antes só me esculachava. Eu fui naquela época que tomava muita porrada, quem eu via já ia bloqueando no Instagram, mas não dá para bloquear todo mundo.

- Aí ele foi com uma faixa na final da Libertadores em Guayaquil e falou: "Me desbloqueia, Rodinei, sou seu fã". Acho que vocês viram isso. Eu o desbloqueei e mandei mensagem para ele: "Vamos curtir, mano, está tranquilo". Sempre fui um cara de muita resiliência, independentemente de vaias ou de xingamento. Estava sempre ali trabalhando e, graças a Deus, Papai do Céu me abençoou por dar a volta por cima.

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Mudança de chave com cruzamento para o gol de Lázaro, contra o Atlético-MG, na Copa do Brasil

- Minha história em 2022 mudou foi depois do cruzamento para o Lázaro no jogo contra o Atlético Mineiro que nós perdemos de 2 a 1 na Copa do Brasil, mas estava 2 a 0, todo mundo desanimado, e eu dou aquela assistência para o Lázaro. A nossa história muda ali naquele momento que eu não estava jogando.

Imagem chorando deitado no gramado após o título da Libertadores

- Ali passava que era um dos últimos jogos meus no Flamengo, e eu sabia que estava em final de contrato, ainda não tinha conversa sobre renovar, essas coisas. Então eu já me sentia como: "Acabou minha história no Flamengo". Ainda depois da Libertadores eu fiz alguns jogos do Brasileiro, se eu não me engano contra o Avaí no Maracanã, contra o Juventude. Aí depois teve a festa no trio, em que o Dorival falou ainda para mim: "Pô, se você quiser, já não joga mais porque está em final de contrato, ainda não sabe se vai ficar ou não e tem o risco de lesão". Eu falei: "Não nem penso nisso, eu quero é botar camisa e jogar. Eu quero sair da melhor forma, sair bem". E ainda fiz mais esse jogos. Então essa imagem que fica para mim é tipo um descarrego de falar assim: "Pô, tudo que eu passei aqui em sete anos, todo sofrimento e aí ganhei aquela Copa do brasil, aí ganhei Libertadores jogando.

- Porque, para mim, com certeza a Libertadores de 2019, até para mim, que não joguei, é a mais emocionante. Mas essa de 2022, por eu ter jogado e por eu ter sido um dos protagonistas do time naquele ano, foi tipo aquele choro, aquela alegria de falar: "Eu consegui deixar meu nome na história do Flamengo de alguma forma. Isso é muito gratificante. Como eu disse, não me sinto um ídolo do Flamengo, estou longe disso, mas poder ser lembrado pelas pessoas já é especial demais.

RACISMO (Rodinei deu entrevista com camisa alusiva à Marielle Franco e com mensagens de combate ao racismo)

Feliz por prisão de criminosos que cometeram atos racistas contra Vini Jr

- Eu nunca fui uma pessoa de falar sobre o racismo porque não é questão de nunca ter acontecido comigo. Já aconteceu comigo em estádios que eu fui jogar, principalmente em Libertadores, mas o que acontece com o Vini é uma sujeira tremenda. Eu já mandei muitas mensagens para o Vini. Eu já falei com ele que a única coisa que eu posso desejar para ele é força. E, graças a Deus, agora teve essa decisão. Que esses sujos paguem pelo que eles têm feito com o Vini.

Confira as mensagens que a camisa de Rodinei carrega contra o racismo — Foto: Fred Gomes

- E também dar os parabéns para o Vini por ter puxado essa causa. O que ele faz para nós que somos da cor negra é uma coisa surreal. A força que ele tem, ele joga no maior clube do mundo. O tanto que ele luta por isso, imagina a cabeça dele, o que ele passa com a família dele não é fácil. Mas é outro garoto que eu agora encontrei na final da Champions League e está sempre com o sorriso no rosto, está sempre com aquela alegria, com aquela humildade.

Confira as mensagens que a camisa de Rodinei carrega contra o racismo — Foto: Fred Gomes

Confira as mensagens que a camisa de Rodinei carrega contra o racismo — Foto: Fred Gomes

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Mais elogios a Vini Jr, seu ex-companheiro de Flamengo, e felicidade de vê-lo após a conquista da Champions

Rodilindo diz que era o homem mais bonito da final da Champions League: "Não vai dizer que o Modric é mais bonito"

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- É uma pessoa surreal, cara, não tenho muito o que falar. É como eu disse: o mundo está cheio de pessoas ruins, cara, está com muita tristeza. Então o que a gente pode fazer é continuar com o sorriso no rosto. É como as pessoas pedem: "Vini, faz gol e baila, continua bailando e continua sorrindo que você também passa essa alegria para nós. É o nosso ídolo agora, principalmente na seleção brasileira. Então às vezes a gente usa a camisa com a imagem para passar a mensagem, mas a gente sabe que não é tudo. Tem coisas que fogem do nosso controle, mas é como eu sempre digo para o Vini: continua com o teu sorriso no rosto e com a tua humildade que você vai muito longe.

- Eu sempre sonhei ser jogador de futebol, nunca sonhei que eu ia chegar num Flamengo, nunca sonhei que eu ia jogar na Europa, mas eu gosto de criar laços com as pessoas. Não é que eu joguei com os jogadores em 2016 que hoje eu não vou responder a ele no instagram porque eu jogo na Europa, porque eu jogo no Flamengo. Não, eles continuam sendo meus amigos. Eu quero criar laço e principalmente esse grupo de 2019, com a história que a gente fez em 2019, ninguém apaga. Então sempre que eu estiver de férias eu vou encontrar com eles. Encontrei com o Vini lá e vou continuar encontrando para o resto da minha vida. Para mim, é gratificante reencontrar meus amigos. A gente passa na temporada por muitas coisas difíceis, o mental, então na hora de desfrutar e relaxar com a família. nada melhor do que reencontrar os amigos.

Um dia liderado por David Luiz e Diego, hoje líder para os mais jovens na Grécia

- Sim, com certeza já me sinto, querendo ou não, um líder. Por mais que, para mim, líder se encaixa em várias personalidades, não só o líder que vai falar sério, mas tem o líder também pela minha alegria. Pelo jeito de chegar, também me considero um líder e muitas vezes também eu não fico só de resenha, tem uns momentos de conversar sério, como eu converso com a minha família, com a minha esposa, com muitos amigos. Converso sobre negócios.

- Então principalmente agora no clube em que eu estou, quando eu vejo os meninos mais novos chegando, eu converso, falo, dou alguns conselhos. Também pela minha experiência e pelos títulos que eu conquistei, hoje sou muito respeitado lá no clube. Então realmente eu me sinto, sim, um líder para hoje conseguir dar conselhos para meninos mais novos ou até mesmo da minha idade. Ou até mesmo aos mais velhos, porque creio que na vida todos aprendem. Um aprende com o outro, e é uma troca boa, sabe?

Rodinei em entrevista à TV Globo — Foto: Fred Gomes

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