PF prende Domingos Brazão e Chiquinho Brazão por mandar matar Marielle; delegado Rivaldo Barbosa também é preso

Operação Murder, Inc. foi deflagrada neste domingo (24) pela Polícia Federal, Procuradoria-Geral da República e Ministério Público do Rio de Janeiro.

Por Andréia Sadi, Bruno Tavares, César Tralli, Daniela Lima, Darlan Helder, Eduardo Pierre, Leslie Leitão, Marco Antônio Martins, Natuza Nery, Octavio Guedes, Rafael Nascimento, GloboNews, g1 Rio e TV Globo — São Paulo e Rio de Janeiro


  • Os irmãos Brazão são apontados como mandantes. Rivaldo é suspeito de ajudar a planejar crime e obstruir a investigação — ele assumiu a chefia da Polícia Civil um dia antes do atentado.

  • Os 3 mandados de prisão preventiva e 12 de busca e apreensão foram expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

  • A motivação para o crime ainda não está de todo esclarecida, mas está ligada à expansão da milícia.

  • Outros 2 delegados foram alvos de buscas e afastados das funç��es.

  • As defesas de Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa afirmaram os dois são inocentes. O advogado de Chiquinho ainda não se manifestou.

Saiba quem são os suspeitos de mandar matar Marielle

Os irmãos Domingos Brazão e Chiquinho Brazão foram presos neste domingo (24) apontados como mandantes do atentado contra Marielle Franco, em março de 2018, no qual também morreu o motorista Anderson Gomes. O delegado Rivaldo Barbosa também foi preso, suspeito de ajudar a planejar crime e de atrapalhar as investigações.

Os três foram alvos de mandados de prisão preventiva expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A Operação Murder, Inc. foi deflagrada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e pela Polícia Federal (PF). O caso era investigado pela PF desde fevereiro do ano passado.

Os presos passaram por audiência de custódia – de maneira remota – na sede da PF no Rio, fizeram exames de corpo de delito no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) e serão encaminhados para a Penitenciária Federal de Brasília.

O ministro Alexandre de Moraes tirou o sigilo da investigação. O relatório da PF citado por ele na ordem de prisão dos suspeitos indica que o assassinato de Marielle foi idealizado pelos irmãos Brazão e meticulosamente planejado pelo delegado Rivaldo Barbosa, que na época era chefe da Polícia Civil do RJ.

Segundo as apurações, o delegado deu uma "garantia prévia de impunidade" aos mandantes do crime. Rivaldo foi nomeado para comandar a polícia um dia antes do atentado.

A defesa de Domingos Brazão afirmou que seu cliente é inocente. O advogado de Rivaldo Barbosa, Alexandre Dumans, disse que seu cliente não obstruiu as investigações. A defesa de Chiquinho Brazão não havia se posicionado até a última atualização desta reportagem.

As prisões ocorreram após a homologação da delação de Ronnie Lessa, ex-policial militar que está preso e é acusado de executar o crime.

Quem são os presos

Chiquinho Brazão, Domingos Brazão e Rivaldo Barbosa, presos neste domingo (24) pela Polícia Federal — Foto: Reprodução

Domingos Brazão é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ); Chiquinho Brazão é deputado federal pelo União Brasil — e por isso tinha foro especial; Rivaldo era chefe da Polícia Civil à época do atentado e hoje é coordenador de Comunicações e Operações Policiais da instituição. Relembre aqui a trajetória dos três.

Domingos foi citado no processo desde o primeiro ano das investigações, em 2018, e chegou a depor no caso 3 meses após o atentado.

Delegados afastados

Além das três prisões neste domingo, foram expedidos 12 mandados de busca e apreensão na sede da Polícia Civil do Rio e no Tribunal de Contas do Estado.

A TV Globo apurou que entre os alvos estão o delegado Giniton Lages, titular da Delegacia de Homicídios à época do atentado e o primeiro a investigá-lo, e Marcos Antônio de Barros Pinto, um de seus principais subordinados.

A jornalista Daniela Lima, da GloboNews, apurou que o ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento dos dois das atuais funções e o uso de tornozeleira.

Octavio Guedes apurou ainda que Erica de Andrade Almeida Araújo, mulher de Rivaldo, teve busca e apreensão decretada, bens bloqueados e a suspensão da atividade comercial de sua empresa, que, segundo a PF, lavava dinheiro para o marido.

Os agentes apreenderam documentos e levaram eletrônicos para perícia.

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Motivação e contrainvestigação

Os investigadores ainda trabalham para definir por que Marielle foi morta. Do que já se sabe, o motivo tem a ver com a expansão territorial da milícia no Rio.

Os investigadores decidiram fazer a operação no início deste domingo para surpreender os suspeitos. Informações da inteligência da polícia indicavam que eles já estavam em alerta nos últimos dias, após o Supremo Tribunal Federal (STF) homologar a delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa.

Ao aceitar o acordo de colaboração com a PF, Lessa apontou quem eram os mandantes e também indicou a motivação do crime.

Lessa está preso desde 2019, sob acusação de ser um dos executores do crime.

Os mandantes, segundo o ex-PM, integram um grupo político poderoso no Rio com vários interesses em diversos setores do Estado. O ex-PM deu detalhes de encontros com eles e indícios sobre as motivações.

Rivaldo Barbosa, então chefe de Polícia Civil em reunião com a família de Marielle Franco — Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil/Arquivo

Repercussão

Monica Benicio, viúva de Marielle, foi à Superintêndia da Polícia Federal no Rio (veja na imagem acima). Na saída, disse ter se surpreendido com o envolvimento de Rivaldo Barbosa.

"Se por um lado, o nome da família Brazão não nos surpreende tanto, o nome de Rivaldo Barbosa sem dúvida nenhuma foi uma grande surpresa, em especial considerando que ele foi a primeira autoridade que recebeu a família no dia seguinte, dizendo que seria uma prioridade da Polícia Civil a elucidação desse caso", declarou.

Em uma publicação no X (ex-Twitter), Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial e irmã de Marielle, disse que "hoje é mais um grande passo para conseguirmos as respostas que tanto nos perguntamos nos últimos anos".

"Agradeço o empenho da PF, do gov federal, do MP federal e estadual e do Ministro @alexandre. Estamos mais perto da Justiça!", completou.

"É um domingo de muita dor, mas também para se fazer justiça", disse Marinete da Silva, mãe de Marielle, em entrevista à GloboNews.

O que dizem os citados

A defesa de Domingos Brazão afirmou que seu cliente é inocente:

""Domingos Brazão, que desde o primeiro momento sempre se colocou formalmente à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos que entendessem necessários, foi surpreendido neste domingo (24) pela determinação do Supremo Tribunal Federal. Em tal contexto, reforça a inexistência de qualquer motivação que possa lhe vincular ao caso e nega qualquer envolvimento com os personagens citados, ressaltando que delações não devem ser tratadas como verdade absoluta — especialmente quando se trata da palavra de criminosos que fizeram dos assassinatos seu meio de vida — e aguarda que os fatos sejam concretamente esclarecidos", diz a nota da defesa.

O advogado de Rivaldo Barbosa, Alexandre Dumans, disse que seu cliente não obstruiu as investigações das mortes de Marielle e Anderson: "Ao contrário. Foi exatamente durante a administração dele que o Ronnie Lessa foi preso" afirmou o advogado.

A defesa de Chiquinho Brazão não havia se posicionado até a última atualização desta reportagem.

Veja a nota da defesa de Giniton Lages: "Durante o tempo em que presidi o Inquérito Policial que apurou as mortes da vereadora Marielle e do motorista Anderson, realizei todas as diligências necessárias à elucidação do caso.

De março de 2018 até março de 2019, foram produzidas: 5.700 páginas, distribuídas por 29 volumes; 230 testemunhas/investigados foram ouvidas; 33.329 linhas telefônicas foram analisadas, através de quebra de sigilo judicial; 318 linhas telefônicas foram objeto de interceptação telefônica, através de ordem judicial, além de várias operações realizadas e acompanhadas por mim e pela minha equipe.

O resultado desse trabalho foi a prisão dos executores, que está todo documentado nos autos do processo, e faz prova de toda a minha dedicação e profissionalismo. Ressalto que minha atuação sempre foi realizada de forma ativa junto ao Ministério Público e Poder Judiciário, cumprindo todos os protocolos de atuação de um delegado de polícia.

A partir da prisão, houve decisão conjunta das instituições de desmembrar a investigação para, na segunda fase, buscar os mandantes. E, friso, que em nenhum momento qualquer suspeito ou linha de investigação foi afastada. E jamais seria.

Nosso compromisso inegociável sempre foi resolver o caso em sua integridade o que só não foi possível porque fui tirado da investigação, no dia seguinte à realização das prisões."

O g1 tenta conta com a defesa dos outros citados.