Por Hellen Monteiro, Renato Menezes, g1 AC — Rio Branco


  • Sobe para 19 o nº de cidades em emergência por causa da cheia de rios e igarapés no Acre em 2024

  • Rio Acre ultrapassa marca de 2023 e chega ao 2º maior nível da história na capital desde 1971

  • Governo federal libera mais de R$ 20 milhões para ações de assistência aos afetados por enchentes no Acre

  • Ministros da Integração e do Meio Ambiente chegam ao Acre nesta segunda-feira (4) para visitar áreas atingidas pelas enchentes

  • Mais de 4 mil pessoas estão fora de casa na capital por causa da cheia do Rio Acre

Casa no bairro Comara, em Rio Branco, é atingida pela enchente do Rio Acre que já deixa mais de 4 mil desabrigados na capital — Foto: Ismael Melo/Rede Amazônica

O nível do Rio Acre na capital acreana oscilou nas últimas 24 horas. Na manhã desta quarta-feira (6), a medição apresentou a metragem de 17,84 metros apresentando diminuição de dois centímetros frente à ultima medição de terça, e mesmo número apresentado na terça-feira (5), no mesmo horário, segundo a Defesa Civil de Rio Branco. No entanto, às 9h, o manancial subiu cinco centímetros e chegou à maior marca deste ano: 17,89 metros.

Rio Branco continua acima dos 17 metros e segue próximo da maior cota histórica já registrada, que é de 18,40 metros em 2015. Essa já é a segunda maior cheia da história, desde que a medição começou a ser feita, em 1971.

Poucos meses separam o ápice de uma seca severa e a chegada de enchentes devastadoras no Acre (leia mais abaixo). Para entender as crises sucessivas que levaram emergência para o estado é preciso considerar ao menos três fatores:

  • a influência do El Niño
  • o atraso do "inverno amazônico", como é conhecida a estação chuvosa na região
  • o impacto do aquecimento do Oceano Atlântico

Atualmente, o manancial está a seis dias acima dos 17 metros. A primeira vez que o Rio Acre alcançou a marca histórica foi em 29 de fevereiro (veja abaixo a evolução do nível do rio).

Veja evolução do nível do Rio Acre nesta quarta-feira (6) na capital
Manancial alcançou 17 metros pela 6ª vez na história, desde 1971
Fonte: Defesa Civil Municipal

O Rio Acre alcançou a maior marca de todos os tempos em 4 de março de 2015. À época, mais de 100 mil pessoas foram atingidas pelo avanço das águas. O governo estadual decretou situação de emergência e estado de calamidade pública, que foram reconhecidos pelo governo federal. O manancial ficou 32 dias acima da cota de alerta, que é de 13,50 metros.

Em 2024, já são 48 bairros e 18 comunidades rurais atingidos pela cheia em Rio Branco, e mais de 4 mil pessoas precisaram deixar suas casas segundo a prefeitura da capital, com dados desta quarta (6). A Energisa, companhia responsável pela distribuição de energia elétrica no Acre, já são mais de sete mil imóveis com fornecimento suspenso.

Em todo o estado, pelo menos 27.919 pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização feita pelo governo do estado nesta quarta (6). Além disso, 19 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes e quatro pessoas já morreram em decorrência da cheia.

Cotas históricas do Rio Acre
Medições na capital do estado acima dos 17 metros
Fonte: Defesa Civil Municipal

Somente nos abrigos mantidos pela prefeitura de Rio Branco, no Parque de Exposições e escolas, são 4.012 mil pessoas desabrigadas, segundo a Defesa Civil Municipal nesta quarta (6):

  • Parque de Exposições Wildy Viana: 867 famílias - 3.449 pessoas
  • Escolas da capital: 184 famílias em 10 escolas da capital, um total de 563 pessoas

O trânsito no Centro e no Segundo Distrito da capital sofreram alterações na última segunda-feira (4) e na manhã desta terça pontos de congestionamento foram registrados na capital. A Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (RBTrans) orienta os condutores a evitarem o congestionamento do Centro da cidade.

Quatro mil pessoas estão desalojadas por causa das cheias dos rios no Acre

Quatro mil pessoas estão desalojadas por causa das cheias dos rios no Acre

Ministros no Acre

Nesta segunda-feira (4), uma comitiva do governo federal chegou ao Acre para dar assistência aos atingidos pela cheia. Vieram, entre outros, o ministro de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Em entrevista coletiva, ele disse que as ajudas humanitárias ao estado devem superar os R$ 30 milhões que foram enviados no ano passado, quando o Rio Acre e igarapés transbordaram na capital.

"Temos que considerar depois o restabelecimento, reconstrução de muitos ambientes que estão sendo perdidos e trabalhar a questão da adaptação, que a ministra Marina conduz esse projeto que é muito importante, tem o Fundo Clima que ela vai se referir, tem valores da adaptação climática", destacou.

Cheia no Rio Acre atinge 7 municípios — Foto: Arte g1

A ministra Marina Silva destacou que eventos como as enchentes são agravadas por alguns fatores: desmatamento, assoreamento de rios e a mudança do clima.

"Por isso estamos trabalhando um plano estruturante, são nove ministérios trabalhando para que a gente possa dar uma resposta junto com os estados mais ponderáveis e os municípios mais ponderáveis. E, obviamente, a principal ação é enfrentar a causa do problema: desmatamento, que aumenta a temperatura da terra, faz com que a haja o assoreamento dos rios e também faz com a gente tenha cada vez mais esses eventos", confirmou.

O Governo Federal liberou ainda mais de R$ 20 milhões para as ações de assistência aos atingidos pelas enchentes no Acre, na capital e no interior do estado. As portarias foram publicadas nas edições dos dias 29 de fevereiro e esta segunda-feira (4) no Diário Oficial da União (DOU). Para capital Rio Branco foram destinados mais de R$ 4 milhões.

No bairro 6 de Agosto, ruas foram "tomadas" pelas águas; cenário continua nesta quarta-feira (6) — Foto: Richard Lauriano/Rede Amazônica

Em edição extra do Diário Oficial do Estado (DOE) de sexta-feira (1º), o governo do Acre declarou emergência em saúde pública no estado em razão da cheia dos rios e o volume das chuvas que atingem 19 municípios do estado, desde o dia 21 de fevereiro. O decreto tem vigência de 180 dias.

Localizado em uma zona próxima à linha do Equador, o Acre tem clima equatorial caracterizado por altas temperaturas e umidade. O verão geralmente dura entre os meses de junho a agosto. Já o inverno vai de outubro até março.

Em abril e maio, há um período de transição das chuvas para a seca e em setembro a transição de volta ao período chuvoso. O ápice da estação pluvial ocorre geralmente entre janeiro e março. Com isso, sobem os níveis dos rios em toda a região amazônica, já que chove muito, principalmente nas nascentes destes mananciais.

Renato Senna, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Amazônica (INPA), explicou ao g1 que as características da estação chuvosa são céu encoberto e chuvas contínuas, diferentemente do que se tem observado nas últimas semanas. Além disto, destacou a influência do El Niño na cheia do Rio Acre.

"Quando as pancadas acontecem muito próximas à cabeceira dos rios, o nível sobe muito rápido. Mas, a tendência é também descerem rapidamente se a chuva não for contínua", avalia.

Enchentes no Acre começaram em Assis Brasil na segunda quinzena de fevereiro — Foto: Arte/g1

Previsão do tempo

Nesta quarta-feira (6), de acordo com os dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), um sistema meteorológico conhecido como Alta da Bolívia, que se forma em altos níveis da atmosfera a 12 Km de altura, predomina sobre o sul da Amazônia e favorece a organização de áreas de instabilidade sobre a região, inclusive sobre o Acre.

A previsão do tempo em todo Acre é de céu nublado a encoberto com chuva a qualquer hora do dia. Há possibilidade de grandes volumes de chuva em algumas regiões acreanas.

Trânsito apresenta lentidão nesta quarta-feira (6) — Foto: Richard Lauriano/ Rede Amazônica

VÍDEOS: g1

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