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Por Soraia Alves


Da esquerda para a direita: David Vélez, Cristina Junqueira e Edward Wible, fundadores do Nubank — Foto: Arte: Rodrigo Buldrini
Da esquerda para a direita: David Vélez, Cristina Junqueira e Edward Wible, fundadores do Nubank — Foto: Arte: Rodrigo Buldrini

"O Nubank nasceu para acabar com a complexidade do sistema financeiro" . Esta frase foi bastante utilizada pela fintech ao longo dos seus primeiros anos, especialmente para apresentar a startup ao mercado e aos clientes. Hoje, como a quarta maior instituição financeira do país em número de clientes - mais de 80 milhões de brasileiros -, o Nubank dispensa apresentações e passou a concentrar-se na expansão da empresa e do seu portfólio.

Não é exagero dizer que a trajetória de sucesso do Nubank inspirou a criação de novas startups no país, principalmente fintechs, ajudando a aquecer o ecossistema brasileiro de inovação. Para a plataforma de inovação Distrito, o Nubank é, inclusive, o responsável por mudar o setor financeiro no Brasil.

Como surgiu o Nubank?

Nubank — Foto: Divulgação
Nubank — Foto: Divulgação

A história do Nubank começou em 2012, quando o colombiano David Vélez veio ao Brasil para abrir um escritório da Sequoia Capital, em São Paulo. Frustrado com a experiência para abrir uma conta-corrente em instituições tradicionais no Brasil, ele decidiu criar uma plataforma de serviços financeiros que diminuísse a burocracia para o cliente. Nascia aí a ideia de um banco 100% digital.

"Em maio de 2013, juntei-me aos meus sócios, Cristina Junqueira e Edward Wible, para fundar uma startup que desafiasse o convencional e oferecesse novas perspectivas em serviços financeiros na América Latina", conta Vélez, em artigo pelos 10 anos do Nubank, comemorados em maio de 2023. Na época, a brasileira havia acabado de sair da área financeira do Itaú, e o americano já tinha passagem pelo BCG. O primeiro escritório da startup foi instalado em uma pequena casa na rua Califórnia, no bairro do Brooklin, em São Paulo.

O primeiro serviço oferecido pela fintech foi lançado em abril de 2014: um cartão de crédito Mastercard adquirido e gerenciado de forma totalmente online, por meio de um aplicativo. Além da praticidade, outro diferencial do 'roxinho', como ficou conhecido, era a isenção de anuidade e tarifas de manutenção, assim como a promessa de 'excelência no atendimento ao cliente'. Com fila de espera para ser adquirido, o cartão atingiu a marca de 400 mil clientes em apenas um ano.

Rodadas de investimento

Não demorou para que o projeto ganhasse a atenção dos investidores. O primeiro aporte estrangeiro na startup aconteceu ainda 2013, realizado pela Sequoia Capital, com participação da Kaszek Ventures, no valor de US$ 2 milhões. Na segunda rodada, em 2014, o aporte foi de US$ 14,3 milhões, feito também pela Sequoia e Kaszek, além do empreendedor Nicolas Berggruen, a QED Investors e o investidor Gene Lockhart.

Ao todo, em seus dois primeiros anos, a startup levantou um total de R$ 600 milhões. Até realizar um IPO, em 2021, a fintech arrecadou mais de US$ 2 bilhões em investimentos de capital de risco ao longo de 11 rodadas.

O segredo do sucesso

 — Foto: Divulgação/Nubank
— Foto: Divulgação/Nubank

A proposta do Nubank sempre foi oferecer uma experiência totalmente diferente dos players tradicionais - mais fácil e descomplicada. Para isso, um dos grandes investimentos da plataforma foi na excelência do atendimento ao cliente, com tudo sendo resolvido de forma rápida por meio do smartphone.

Além do 'atendimento premium para todos', a fintech mirou nos consumidores que não eram completamente beneficiados pelas grandes instituições, especialmente em relação à aquisição de crédito. Isso explica o porquê de o banco digital ter facilmente caído nas graças dos jovens - um público que, ainda sem um grande score, costumava ficar no 'limbo do crédito'.

Digital e sem taxas, em um ano o Nubank já contava com 400 mil clientes.

Três anos depois de lançar o seu primeiro produto, o Nubank anunciou a NuConta, passando a oferecer uma conta-corrente 100% digital - e finalmente atingindo a proposta inicial de Vélez. Sem agências físicas e sem análise de crédito dos novos clientes, a fintech acabou contribuindo para a inclusão financeira de milhões de pessoas.

Ainda em 2017, o cartão de crédito passou a contar com o NuRewards, um programa de pontos que permitia quitar certas despesas após o acúmulo de pontos com o uso do cartão.

O portfólio do Nubank foi crescendo de forma exponencial - assim como sua base de clientes. Hoje, o banco digital conta com a oferta de empréstimos pessoais (2019), seguro de vida (2021), carteiras de investimentos (2021), criptomoedas (2022), entre outros produtos. Já o número de clientes é de 85 milhões, quando somados usuários do Brasil, México e Colômbia - os três países onde o banco digital atua.

Unicórnio e IPO

Unicórnio — Foto: Getty Images
Unicórnio — Foto: Getty Images

O Nubank alcançou o status de unicórnio em março de 2018, depois de conseguir um aporte em sua sexta rodada de investimentos. A oferta de US$ 150 milhões foi liderada pelo DST Global, com participação de outros seis fundos. A empresa foi um dos primeiros unicórnios do país, ao lado da 99, também avaliada em mais de US$ 1 bilhão.

Quatro anos depois, a fintech recebeu um porte de US$ 750 milhões, realizado pela Berkshire Hathaway, empresa de Warren Buffett, seguido de US$ 250 milhões aplicados pelo fundo americano Sands Capital, em parceria com os brasileiros Absoluto Partners e Verde Asset Management. Na época, a fintech informou que os valores eram extensões da sua captação de série G, iniciada no mesmo ano. Somadas, as aplicações atingiram US$ 1,15 bilhão - o mais valor já levantado por uma startup de tecnologia na América Latina.

Em dezembro de 2021, o Nubank realizou uma oferta pública inicial (IPO) na Bolsa de Valores de Nova York e na de São Paulo. Um dia antes do IPO, as ações da fintech valiam US$ 9 por papel, avaliando a empresa em US$ 41,5 bilhões. "O banco não precisava levantar tanto capital, mas o mercado estava tão atrativo que decidimos levantar muito mais do que precisávamos", disse David Vélez, após um ano do IPO.

Com alta de 25% logo na estreia, a startup chegou ao mercado valendo quase US$ 52 bilhões e se tornou o banco mais valioso de toda a América Latina, à frente do Itaú Unibanco, do Bradesco e do Santander.

E o lucro?

O desempenho, no entanto, era explicado pelo modelo de crescimento da fintech, com foco em fortalecer a base de clientes e ganhar o mercado.

Apesar do crescimento gigante, o Nubank passou ano após ano registrando prejuízos no balanço. Foi só em 2021, após o IPO, que a empresa atinngoiu um lucro líquido ajustado de US$ 6,6 milhões, marcando o primeiro lucro anual de sua história. O valor também reverteu o prejuízo de US$ 26,8 milhões obtido em 2020.

Aquisições

Easynvest — Foto: Divulgação
Easynvest — Foto: Divulgação

A primeira aquisição realizada pela fintech aconteceu em 2020, com a PlataformaTec, empresa com foco em engenharia de software. O valor da negociação não foi divulgado.

No mesmo ano, o Nubank adquiriu a consultoria americana Cognitect e a Easynvest, a maior corretora digital self-direct do Brasil. O banco diigtal pagou US$ 451,5 milhões pela corretora, em uma transação que marcou a entrada da fintech no universo dos investimentos.

Em 2021, outros três negócios foram comprados pelo Nubank: a plataforma de conversas automatizadas Juntos Global, a fintech de pagamentos instantâneos Spin Pay, e a startup de inteligência artificial e organização financeira Olivia.

Desvalorização e reestruturação

Desde o IPO, no entanto, a startup viu suas ações desvalorizarem. Um ano após realizar a oferta pública, a fintech valia pouco mais da metade. As ações do Nubank chegaram a cair quase 60%, chegando a US$ 3,47 em junho de 2022 - mesmo ano no qual a fintech decidiu encerrar a operação na Bolsa brasileira, ficando apenas com a Bolsa de NY.

"Após o IPO, o mundo mudou completamente, de um momento de euforia do mercado, de muito interesse em empresas de tecnologia, para guerra da Ucrânia, inflação e juros altos, e você vai de herói a vilão de um momento a outro. No primeiro trimestre, foi difícil entender o que acontecia, especialmente quando vimos o preço da nossa ação cair rapidamente", comentou Vélez, em entrevista.

A recuperação no preço das ações, ainda que de forma moderada, veio após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2022.

Alegando passar por uma reestruturação, o Nubank demitiu quase 300 funcionários em junho de 2023. Dois meses depois, a fintech divulgou os resultados do segundo trimestre, apresentando um lucro líquido de US$ 224,9 milhões, revertendo prejuízo de US$ 29,9 milhões no mesmo período do ano anterior.

Na mesma época, David Vélez vendeu 3% de sua participação na empresa, levantando cerca de US$ 191 milhões. Segundo o CEO, a maior parte dos recursos será destinada ao financiamento de sua fundação com a esposa, Mariel Reyes, que atua com iniciativas de liderança e educação na América Latina.

Atualmente, o Nubank está avaliado em US$ 36 bilhões.

O futuro do Nubank

Uma plataforma de dinheiro que oferece serviços financeiros e não-financeiros. É assim que David Vélez vê o Nubank no futuro. Em evento para comemorar os 10 anos do banco digital, em maio de 2023, o CEO compartilhou seus planos para a fintech nos próximos anos. "No longo prazo, o que vemos é que, com a inteligência artificial, a porta de entrada para o Nubank vai ir além do aplicativo", disse. "Daqui a 5 anos você vai estar falando com o Nubank no seu carro sem motorista, na sua casa e em todos os lugares. A gente espera que essa conversa vá além de serviços financeiros".

Para os próximos dois anos, os cofundadores David e Cristina afirmam que o Nubank não tem planos de chegar a novos países. O foco é ampliar sua base de clientes no México e na Colômbia, enquanto no Brasil, a prioridade é expandir a presença em mais segmentos financeiros e atingir clientes de faixas de renda mais altas.

O banco também se aproxima de uma de suas metas: chegar a 100 milhões de clientes.

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