Mundo
Por


Submarino da OceanGate — Foto: Divulgação
Submarino da OceanGate — Foto: Divulgação

Stockton Rush, o CEO da OceanGate que morreu após a implosão do submersível Titan, acreditava que o futuro da Humanidade seria subaquático. O empresário costumava defender que a exploração do oceano deveria ser pensada da mesma maneira que a espacial – e deu um passo além ao transformar o que começou como um empreendimento científico numa iniciativa turística. Motivado pela necessidade da inovação, porém, Rush minimizou o código de regras para a fabricação desses veículos. A negligência custou caro: durante uma expedição aos destroços do Titanic, em junho passado, os cinco tripulantes que estavam a bordo do Titan morreram quando o submersível sucumbiu à pressão esmagadora do fundo do mar. Agora, empresários se esforçam para provar que viagens com submersíveis são, via de regra, seguras.

Prova disso é que, em maio, o bilionário americano Larry Connor e o cofundador da Triton Submarines Patrick Lahey anunciaram que planejam levar um novo submersível para ver o famoso navio naufragado no Oceano Atlântico Norte, a uma profundidade de cerca de 3,8 mil metros. A viagem ainda não tem data marcada – ambos dizem apenas que ocorrerá quando for seguro –, mas, ao Washington Post, Connor afirmou que deseja “mostrar às pessoas em todo o mundo que, embora o oceano seja extremamente poderoso, ele pode ser maravilhoso”. Já Lahey, que está envolvido com a exploração subaquática desde 1975 e passou grande parte de sua vida construindo submersíveis, disse ter razões para acreditar que a adesão das normas já estabelecidas “permitirá a exploração segura do oceano nas próximas décadas”.

A afirmação dele pode não estar completamente errada. Um dos primeiros relatos de humanos usando dispositivos para explorar o mar remonta a Alexandre, o Grande. Em um texto atribuído a Aristóteles, o filósofo narra como o rei desceu às profundezas do mar num “barril fino feito inteiramente de vidro”. As motivações e resultados não foram bem estabelecidas, mas, de lá para cá, avanços ocorreram. Desde o primeiro submersível, construído no século XVII pelo matemático alemão Magnus Pegelius, passando pelo primeiro mergulho tripulado de um veículo de submersão profunda, na década de 1960, até 2012, quando o cineasta canadense James Cameron se tornou a primeira pessoa a fazer um mergulho solo até a Fossa das Marianas, o local mais profundo dos oceanos, entusiastas se dedicam a explorar os mistérios do mar.

As viagens ao Challenger Deep – o ponto mais baixo da superfície terrestre e um abismo dentro das Marianas, com 11 km de profundidade – ilustram a rápida evolução da indústria. Segundo o portal Boat International, as principais fabricantes de submersíveis foram fundadas na década de 1990 e no início dos anos 2000. Antes disso, os poucos veículos do tipo existentes costumavam estar em posse de militares ou instituições científicas. A atuação de civis no setor abriu caminho para que bilionários se envolvessem e ajudassem a financiar os avanços na capacidade dos submersíveis. Hoje, de acordo com a Marine Technology Society, o mundo tem ao menos 161 desses veículos ativos, dos quais 10 podem mergulhar a 4 mil metros ou mais. Em 2022, o mercado global de submersíveis tripulados faturou US$ 186 milhões (R$ 998 milhões).

Além disso, embora existam riscos, a maior parte das viagens de submersíveis é feita para profundidades muito mais rasas. Em 1973, dois mergulhadores morreram após a embarcação em que estavam ter ficado presa em destroços na Flórida. Desde então, milhares de viagens já ocorreram sem nenhuma morte antes da tragédia do Titan.

Certificação rigorosa

Lahey, o cofundador da Triton, era amigo de Paul-Henri Nargeolet, o francês que já havia participado de dezenas de expedições ao famoso naufrágio e era conhecido como “Sr. Titanic”. Ao Boat International, ele disse ter ficado “horrorizado” quando soube que Nargeolet planejava visitar mais uma vez os destroços, desta vez com o Titan. O CEO afirmou que os dois tiveram “muitas conversas sobre o assunto”, mas que a ideia foi “suficientemente atraente” para o homem de 77 anos, que pareceu “disposto a deixar de lado qualquer preocupação sobre sua própria segurança”. Além do francês e do diretor da OceanGate, viajaram no submersível o empresário britânico Hamish Harding, o empreendedor paquistanês-britânico Shazam Dawood e o filho dele, Suleman.

A preocupação de Lahey não era única – em 2018, uma carta escrita por mais de 30 líderes da indústria avisava Rush que ele estava colocando vidas em risco – e nem sem motivo. Em vez de confiar apenas no titânio, um dos metais mais fortes do planeta e material usado por outras embarcações de mergulho profundo, a OceanGate construiu seu casco com plástico reforçado com fibra de carbono. O objetivo, de acordo com Guillermo Sohnlein, ex-sócio de Rush, era baratear os custos do projeto e torná-lo mais acessível “para quem precisasse dele”. Somado a isso, em entrevista à Teledyne Marine, Rush afirmou que empregou jovens recém-formados no lugar de engenheiros experientes para algumas partes da construção porque buscava profissionais com capacidade de “inovar”.

Assim como a Triton, outras empresas do setor, como a U-Boat Worx, submetem seus materiais, designs, componentes e embarcações a testes e avaliações independentes, caso do American Bureau of Shipping. Além disso, a Guarda Costeira dos Estados Unidos fornece orientações para a certificação de submersíveis, e a Organização Marítima Internacional oferece diretrizes para a construção e regras sobre segurança. Rush, por sua vez, sentia que a certificação atrasava o progresso. Em 2022, ele chegou a dizer que poderia trabalhar na área “com a mesma segurança quebrando regras”. A sensação de impunidade era quase garantida: enquanto navios são obrigados a seguir os padrões de segurança de seus países de origem, os submersíveis são menos policiados.

— O código de regras para fabricação funciona bem — disse ao Boat International Charles Kohnen, presidente da fabricante de submersíveis SEAmagine e outro signatário da carta a Stockton Rush. — No entanto, acho que a indústria poderia usar um conjunto mais uniforme de padrões operacionais com os quais todos concordem. A construção do Titan, por exemplo, não atendeu a nenhum padrão e não seguiu nenhum dos protocolos que servem bem à indústria há muitas décadas.

Em parceria com outras entidades da categoria, a Guarda Costeira americana conduziu uma investigação sobre o caso do Titan, e a publicação do relatório estava prevista para ser feita neste mês. Na última sexta-feira, porém, o órgão afirmou que as análises não foram concluídas, e que a previsão é de que demore até três anos para que as causas do desastre sejam anunciadas.

Ainda não se sabe se a indústria será regulamentada, mas a Marine Technology Society recomendou que a Convenção Internacional para Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS), tratado internacional que estabelece padrões de segurança para navios, inclua os submersíveis e exija que mesmo os que operem exclusivamente em águas internacionais, como o veículo da OceanGate fez, sejam registrados e classificados corretamente.

Mais recente Próxima Como família mais rica do Reino Unido foi parar no banco dos réus por tráfico de pessoas
Mais do Época NEGÓCIOS

Segundo pesquisadores da University College London (UCL), os pacientes que foram diagnosticados com ansiedade pela primeira vez quando já eram idosos (ou quase) tinham duas vezes mais probabilidade de desenvolver Parkinson

Risco de desenvolver Parkinson é duas vezes maior em idosos com ansiedade, aponta estudo

Segundo Gladys Tsoi, uma banqueira de investimentos de 29 anos que mora em Hong Kong, o planejamento das viagens levou cerca de um ano, e incluiu a contratação de um agente de viagens para animais e o gerenciamento da documentação necessária

Mulher conta que gastou R$ 212 mil para levar sua poodle de estimação em um jato particular para o Japão

Titan implodiu tragicamente em junho de 2023, durante uma viagem aos destroços do Titanic, matando as cinco pessoas que estavam a bordo

O que tragédia do submarino Titan nos ensinou sobre exploração das profundezas do oceano

A ferramenta desenvolvida nalisou todos os sinais emitidos pelo St. Helens para descobrir os padrões de progressão de uma fase para a outra, até atingir o pico de uma erupção

IA ajuda cientistas a preverem erupções vulcânicas com 95% de precisão

Desindustrialização é apontada como outro problema

Plano Real deixa legado de juros altos e câmbio volátil

Estudo vai abastecer aplicativo ChatGPT com informações sobre a doença

Pesquisa usa IA para tirar dúvidas sobre dermatite atópica

Índice oficial de inflação, IPCA acumula 708% desde a criação da moeda

Real completa 30 anos com desafio de manter poder de compra

De forma prática, a utilização do material pode reduzir a energia e os custos necessários para deslocar astronautas para a construção de bases e outras estruturas na superfície lunar

LEGO cria blocos para montar feitos com destroços de meteoro de 4,5 bilhões de anos

Um estudo recente da Organização Mundial da Saúde mostrou que os grandes beneficiados dos programas de imunização nas últimas décadas foram as crianças menores de cinco anos

152 milhões de vidas salvas em 50 anos: 4 gráficos que mostram o sucesso das vacinas no mundo