Empresas
Por , O Globo

Com o mercado de aplicativos de transporte consolidado no Brasil com a desidratação de concorrentes de Uber e 99, outras alternativas começam a surgir, para atender públicos mais específicos, explorando nichos. Novos negócios no setor privilegiam agora segurança e comodidade para atrair usuários para seus apps.

Em São Paulo, a startup Rhino começou a operar em janeiro com um foco ligado ao cotidiano violento das cidades brasileiras. Seu app oferece transporte em carros blindados com um clique. Embora já tenha tido mais de 70 mil downloads, a operação ainda está restrita a bairros privilegiados da capital paulista, como Vila Nova, Itaim, Pinheiros e Jardins. Há previsão de a novidade chegar ao Rio de Janeiro e a Brasília em 2025.

A novidade não é para qualquer bolso. A tarifa chega a ser o dobro do da categoria mais cara dos aplicativos regulares, como o Uber Black. Quem pode paga o preço de saber que as chances de chegar ao destino a salvo, mesmo cruzando áreas de risco, são maiores.

É o caso do investidor de venture capital (capital de risco) Pedro Vidigal, de 36 anos, que costuma usar o serviço uma vez por mês, quando precisa ir para regiões mais perigosas de São Paulo ou embarcar num avião no Aeroporto de Guarulhos.

— Os carros são mais luxuosos e blindados, e os motoristas, muito educados — conta. — Outro dia usei o serviço para ir a uma apresentação no Centro, perto da cracolândia.

Cofundador e CEO da Rhino, Daniil Sergunin conta que a ideia vem de uma demanda própria. Natural da Rússia e já tendo morado em outros países, ele chegou ao Brasil preocupado com a segurança. Amigos recomendaram a compra de um carro blindado. Ele então notou a falta de um serviço para quem nem sempre pode dirigir o próprio carro resistente a balas:

— A maioria dos nossos clientes tem o seu próprio carro blindado. Eles usam o serviço por causa do rodízio no trânsito em São Paulo ou para ir a locais onde não querem dirigir, como balada ou aeroporto.

Pela peculiaridade da operação, os carros não pertencem aos motoristas, como nos casos de Uber e 99, mas sim à Rhino. Entre as opções há modelos como Jeep Compass, BMW, Toyota Corola, todos blindados com a linha III-A, o nível máximo de certificação para o Brasil. E a previsão é que a frota seja completamente renovada entre intervalos de dois a três anos.

Os motoristas da Rhino têm jornada fixa por dia e recebem, além de pagamento por hora trabalhada, um bônus por excelência de atendimento. Para serem contratados, passam por uma triagem que inclui verificação de antecedentes criminais, entrevista com RH e diretores, checagem de experiência e treinamento sobre o que fazer em situações de risco.

A orientação é “sair do perigo”, conta Sergunin, independentemente dos danos que o carro possa sofrer. E a expectativa dele é que o negócio se pague, ou seja, comece a dar lucro até o fim do ano.

Dirija você mesmo

Já a Turbi se inspirou numa startup americana para oferecer a quem prefere dirigir em curtos trajetos na cidade um serviço digital de aluguel de veículos comuns. A empresa brasileira começou tímida, em 2017, com apenas 17 carros, mas agora já soma 5 mil espalhados por São Paulo.

Funciona como uma locadora de automóveis, mas não tem pátios e filiais. Por meio do app da Turbi, o cliente paga por hora de uso e pode retirar o carro em estacionamentos sem falar com ninguém, 24 horas por dia, todos os dias da semana.

O engenheiro de produção Gabriel Perez, de 26 anos, começou a usar a Turbi depois de se mudar de Maceió para São Paulo. Na cidade natal, estava acostumado a usar o carro da mãe para atividades do dia a dia, como ir ao mercado. No Sudeste, sentiu falta da comodidade.

Para ele, a vantagem também é financeira. Numa corrida no Uber, guiada por um motorista, ele costumava desembolsar cerca de R$ 60 entre sua casa e a da namorada, que ficam em bairros distantes, no horário de pico. Com a Turbi, seu gasto em um dia para fazer o mesmo deslocamento, voltar e ainda resolver outras pendências fica em torno de R$ 70.

— Acho o custo-benefício vantajoso — diz Perez, que se empolga com as promoções bem ao estilo das startups. —Sempre que indico um amigo ganho cupom de desconto.

Diego Lira, CEO da Turbi, diz que os clientes podem optar por carros a partir de R$ 19 por hora na plataforma ou pelo modelo de assinaturas a partir de R$ 2.200 por mês. Os carros ficam em 400 estacionamentos cadastrados e são desbloqueados via bluetooth, clicando em um botão no app.

A porta abre, e o cliente pega a chave no porta-luvas. A inspeção também é, digamos, self-service. Antes de dar a partida, o motorista também precisa fotografar a frente e a traseira do veículo, a fim de garantir que o entregará sob as mesmas condições.

— A solução atrai principalmente os mais jovens: 70% da base de clientes tem entre 25 e 45 anos. E nos aluguéis por horas, as viagens têm em média 50 quilômetros percorridos — revela Lira.

Toda a operação da Turbi é garantida por inteligência artificial (IA) e internet das coisas (IoT), tecnologias emergentes que facilitam a automação de objetos. Depois do cadastro no app, a aprovação do usuário leva 30 segundos.

O algoritmo faz a análise dos perfis, dos quais 91% dos cadastros são validados automaticamente. Na hora de devolver o carro, a tecnologia também ajuda. As fotos de conferência são comparadas em 4 segundos.

‘Leilão’ de tarifa

Lira ainda explica que, caso o cliente tenha o carro rebocado por estacionamento em área proibida, por exemplo, a Turbi efetua a recuperação do veículo e repassa ao cliente o prejuízo. Em caso de multas, o cliente é cobrado no meio de pagamento cadastrado. A perspectiva é que a operação seja expandida para novas cidades a partir do ano que vem.

No Brasil desde dezembro de 2018, a inDrive, que tem operação global em mais de 40 países, permite negociação direta entre passageiro e motorista. O usuário recebe o perfil com informações de viagens passadas e modelo de carro de todos os condutores que se interessaram por sua viagem e escolhe o que mais lhe agradar incluindo o preço.

Segundo a empresa, o modelo permite corridas até 20% mais baratas, o que leva a taxa de 10% cobrada dos motoristas a ser menor que a praticada pela concorrência. Neste ano, o app garantiu um acordo de US$ 150 milhões (R$ 818 milhões) com investidores para reforçar seus planos de expansão. No Brasil, já está em mais de 150 cidades.

Pedro Carneiro, sócio e diretor de Investimentos da ACE Ventures, que investe em mais de 150 startups, avalia que há espaço no mercado para novos apps de mobilidade nichados, ainda que alternativas que surgiram antes, como o Cabify, não tenham vingado. Para ele, o setor passa pelo mesmo processo que os serviços de telecomunicações e fintechs tiveram: alta segmentação.

— Existe banco para criança, banco para caminhoneiro. Tem espaço para todo mundo. Assim como as TVs a cabo deram espaço ao surgimento de diversos streamings, cada um com sua característica, o mercado de apps ficou grande o suficiente para que esses novos consigam se colocar como negócio. Mas é claro que, quanto menor é o nicho em que se está trabalhando, melhor precisa ser a execução.

Modalidade verde

Os apps de nicho não tentam desbancar os gigantes Uber e 99, mas mesmo assim eles estão investindo em inovações para públicos específicos. O Uber lançou recentemente a categoria Green que permite solicitar viagens apenas com carros elétricos. O produto ajuda na meta da companhia americana de zerar as emissões de carbono de todas as suas viagens até 2040. A empresa também opera no Brasil uma modalidade de motos.

A alternativa verde também está disponível no 99, pela categoria 99Plus, que engloba viagens confortáveis e veículos eletrificados. Segundo Leonardo Japur, diretor de Estratégia e Novas categorias da companhia, nos últimos dois anos, o 99 recebeu aportes de mais de R$ 200 milhões para investimentos em tecnologia e inovação, com foco em novas categorias e funções para os passageiros.

A exemplo do inDrive, foram implementados o 99Negocia, que permite a negociação entre passageiro e motorista; o 99Moto, que oferece corridas com motocicletas; e o recurso exclusivo “Múltipla Escolha”, que permite selecionar mais de uma categoria ao solicitar uma corrida para aumentar a rapidez no atendimento.

— Entendemos que essa nova funcionalidade não apenas reduz o tempo de espera para os passageiros, mas também aumenta o volume de chamadas distribuídas entre os motoristas parceiros, beneficiando todas as partes envolvidas — diz Japura.

Mais recente Próxima Ações da Zamp, de Burger King e Popeyes, sobem 12,8% após anúncio de novo diretor-presidente
Mais do Época NEGÓCIOS

Segundo pesquisadores da University College London (UCL), os pacientes que foram diagnosticados com ansiedade pela primeira vez quando já eram idosos (ou quase) tinham duas vezes mais probabilidade de desenvolver Parkinson

Risco de desenvolver Parkinson é duas vezes maior em idosos com ansiedade, aponta estudo

Segundo Gladys Tsoi, uma banqueira de investimentos de 29 anos que mora em Hong Kong, o planejamento das viagens levou cerca de um ano, e incluiu a contratação de um agente de viagens para animais e o gerenciamento da documentação necessária

Mulher conta que gastou R$ 212 mil para levar sua poodle de estimação em um jato particular para o Japão

Titan implodiu tragicamente em junho de 2023, durante uma viagem aos destroços do Titanic, matando as cinco pessoas que estavam a bordo

O que tragédia do submarino Titan nos ensinou sobre exploração das profundezas do oceano

A ferramenta desenvolvida nalisou todos os sinais emitidos pelo St. Helens para descobrir os padrões de progressão de uma fase para a outra, até atingir o pico de uma erupção

IA ajuda cientistas a preverem erupções vulcânicas com 95% de precisão

Desindustrialização é apontada como outro problema

Plano Real deixa legado de juros altos e câmbio volátil

Estudo vai abastecer aplicativo ChatGPT com informações sobre a doença

Pesquisa usa IA para tirar dúvidas sobre dermatite atópica

Índice oficial de inflação, IPCA acumula 708% desde a criação da moeda

Real completa 30 anos com desafio de manter poder de compra

De forma prática, a utilização do material pode reduzir a energia e os custos necessários para deslocar astronautas para a construção de bases e outras estruturas na superfície lunar

LEGO cria blocos para montar feitos com destroços de meteoro de 4,5 bilhões de anos

Um estudo recente da Organização Mundial da Saúde mostrou que os grandes beneficiados dos programas de imunização nas últimas décadas foram as crianças menores de cinco anos

152 milhões de vidas salvas em 50 anos: 4 gráficos que mostram o sucesso das vacinas no mundo