Futuro do dinheiro
Por e , Valor Econômico


Drex — Foto: Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket via Getty Images
Drex — Foto: Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket via Getty Images

O Drex, nome dado ao projeto da moeda digital do Banco Central (BC), entra na segunda fase de implementação. Para as empresas, esta etapa deve sanar as dúvidas sobre a extensão de aplicabilidade da tecnologia. É o momento que instituições financeiras poderão testar o sistema com novos casos reais e pôr à prova as funcionalidades do real virtual. Enquanto isso, 82% da população ainda não sabe nem do que se trata o Drex, segundo uma pesquisa feita pelo TecBan e o Datafolha.

Nesta etapa da experimentação institucional, empresas podem vislumbrar o cotidiano do sistema financeiro com a tecnologia do Drex. Mas, para pessoas comuns, na ponta de uma cadeia de eventos no mercado, ainda não está claro: como o real digital pode mudar o dia a dia?

“Temos ainda o desafio de melhorar a compreensão geral sobre essa tecnologia, em paralelo aos avanços nos testes do Drex. É este o momento para a sociedade entender a diferença provocada por esse novo sistema”, diz Solange Parisoto, consultora de desenvolvimento de novos negócios da Sicredi.

A executiva participou do painel “Os novos passos da evolução do Drex”, promovido no estande da Accenture, nesta quarta (26), durante a Febraban Tech 2024.

Da perspectiva dos usuários finais do sistema financeiro (as pessoas físicas), Vito Castanha, gerente sênior do Santander, aponta que, pelo baixo conhecimento sobre o Drex, o brasileiro tende a ser mais desconfiado. "Mais do que o tema da privacidade, por aqui, a preocupação com a segurança das operações nessa economia tokenizada talvez impeça a adoção massiva dos ativos digitais”, pondera.

Ou seja, para superar eventuais resistências da sociedade à tecnologia, instituições financeiras e o BC, que está à frente do Drex, enfrentarão dois desafios:

  • consolidar uma plataforma funcional e eficiente com a capacidade de transacionar milhares de operações com segurança;
  • desenvolver e oferecer soluções relevantes numa economia tokenizada.

“O serviço prestado para o usuário final precisa ser transformado com o Drex. No nosso caso, por exemplo, em que os clientes do agronegócio representam 50% das operações, podemos desenvolver novas operações a partir da tokenização de um bem”, conta Solange.

O token é a representação digital de ativos reais, como investimentos, contratos de crédito, imóveis, entre outros. A partir do momento que se tokeniza um bem, ele pode ser fragmentado em infinitas partes.

Na prática, tomemos como exemplo um investimento que atualmente exige um aporte mínimo de R$ 1 mil. Esse ativo poderia ser fragmentado em partes menores e disponibilizado a quaisquer valores, rebaixando a barreira de acesso ao bem.

O Drex tem potencial para mudar essa realidade porque sua plataforma pode se tornar um ecossistema financeiro para os ativos digitalizados. Nessa rede baseada em tecnologia blockchain, instituições poderão atuar em rede e compartilhar de uma mesma estrutura para transacionar ativos digitais e registrar ativos neste mesmo ambiente.

“O produtor que precisa de uma colheitadeira não precisa da máquina em todas as fases da safra. Com a tecnologia do Drex, esse ativo poderia ser fracionado. Ou seja, assim, damos aos clientes novas formas de acesso a um bem e estabelecemos pontes entre proprietários e potenciais investidores”, exemplifica a consultora da Sicredi.

Larissa Santos Moreira, líder da equipe de negócios Correspondente Bancário no Itaú Unibanco, pondera que, para as novas gerações, a tokenização já é uma realidade tangível e próxima de seu cotidiano pelo contato desse público com o universo dos jogos eletrônicos.

Castanha compara a transformação viabilizada pela estrutura do Drex com a que os smartphones permitiram. “A tecnologia mobile com uma nova geração de aparelhos permitiu que, num horizonte de três anos, surgissem aplicativos como o da Uber. E uma ‘fricção’ que deve se resolver com essa tecnologia é o tempo para a liquidação financeira das transações. No passado, o mercado sofreu para reduzir o tempo de liquidação no sistema da bolsa de D+3 [dia da solicitação mais três dias úteis] para D+2 [dia da solicitação mais dois dias úteis]. Com o Drex, estamos falando de liquidação instantânea de operações financeiras”, conta.

Uma moeda global?

Bruno Batavia, ex-gerente adjunto do Drex no BC e atualmente diretor de tecnologias emergentes na gestora Valor Capital, explica que o projeto representa uma nova trilha para o mercado financeiro no mundo. Isso porque, enquanto essa estrutura é implementada no Brasil, outros projetos análogos, baseados na tecnologia blockchain, ocorrem concomitantemente em outros países.

“Estamos à beira de uma terceira onda de revolução da infraestrutura financeira, desta vez global”, afirma Batavia.

E isso traz um questionamento: o Drex pode viabilizar a adoção de uma moeda global para o comércio internacional? Não é bem por aí.

João Gianvecchio, gerente de estratégia e inovação do Banco BV, explica que o blockchain deve facilitar a internacionalização de transações financeiras se as redes estiverem interligadas. “Mas a questão aqui é transfronteiriça. Precisa se desenvolver um sistema de taxação único para transações entre as moedas”, pondera.

Ou seja, a ideia de uma moeda global não é o foco com o sistema à base de blockchain, mas sim a possibilidade de se criarem redes que permitam a interoperabilidade dos sistemas financeiros.

“E há ainda um problema de infraestrutura, no ‘encanamento’ desse ecossistema financeiro global, em que há muitos entes intermediários e disparidades na capacidade de liquidação das operações. No plano de ação do Drex, já existem iniciativas e projetos de sistemas de pagamentos domésticos para linkar as infraestrutura do real digital. Mas, para falarmos em termos globais, ainda há uma série de desafios até que tenhamos uma nova realidade global: questões regulatórias, legais, de implementação, taxação. Quer dizer, é bem mais complexo”, conclui Batavia.

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