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Palestra no evento SXSW — Foto: Daniela Braun/Valor
Palestra no evento SXSW — Foto: Daniela Braun/Valor

Mais um ano no SXSW (South by Southwest), em Austin, no Texas. Um evento difícil de descrever em poucas palavras. Um dos principais ambientes no mundo que inspiram e respiram arte, inovação, criatividade e tendências. O festival está nos seus primeiros dias e a minha grande expectativa para este ano é que a Inteligência Artificial Generativa (AI Gen) seja a protagonista, novamente, vindo ainda mais robusta e apresentando seu importante papel na sociedade e nos negócios.

A febre sobre a AI Gen é tanta que ela conta com sua própria trilha no SXSW, que promete falar muito sobre os impactos já vistos com a IA até agora, em diversos setores e aplicações, incluindo visões futuristas e abordagens sobre a ética no uso dessa ferramenta, com muito debates interessantes sobre privacidade e dados.

Quem também ganha destaque aqui no South by Southwest é a diversidade, que dança lado a lado com a inteligência artificial em um debate mais do que necessário sobre como devemos pensar o uso da AI Gen sem perder a inclusão de vista.

As minhas primeiras impressões sobre o evento são super positivas e com certeza o grande diferencial daqui é não apenas o conteúdo absurdamente rico e de extrema qualidade, mas, principalmente, a qualidade do público que está aqui.

Mas e o conteúdo? Já no meu primeiro dia pude assistir a algumas palestras relacionadas a grandes transformações, o que esperar do futuro e as barreiras que podem dificultar a implementação de mudanças nas organizações. Inspirado no que já absorvi por aqui, compartilho alguns insights sobre o que é necessário para promovermos uma verdadeira cultura de mudança e inovação.

Aproveito para destacar algumas palestras que chamaram a minha atenção e de muita gente por aqui.

Uma delas, o keynote de abertura do evento, com Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária da NASA, e Ada Limón, poeta laureada dos Estados Unidos. Ada trouxe a reflexão de que, como poeta, o trabalho dela é "completar toda a música na página. Sem instrumentos. Em que é necessário criar nossas próprias linhas de baixo, nossa própria melodia, e no final oferecemos o poema a alguém. Assim, ele pode se juntar à sua própria música interna pessoal e criar algo significativo”. Ela conta que, em outubro de 2022, recebeu um convite da NASA para escrever um poema que viajaria até a segunda lua de Júpiter e imediatamente aceitou. O poema fez parte de uma grande campanha da NASA em que qualquer pessoa poderia assinar o nome no poema redigido por Ada e ele acompanharia a missão Europa Clipper, em outubro de 2024. A missão investiga se o oceano que se pensa estar abaixo da crosta gelada da Europa poderia sustentar a vida.

Em seu poema, Ada finaliza com os versos: “we, too, are made of wonders, of great and ordinary loves, of small invisible worlds, of a need to call out through the dark”. Em português: "Nós também somos feitos de maravilhas, de amores grandes e comuns, de pequenos mundos invisíveis, de uma necessidade de clamar através da escuridão".

Dentre as falas da Ada Limón, gostei de como ela descreveu o processo de criar um poema que iria numa missão espacial para uma lua em Júpiter, sobre o desafio de fazer algo para o qual não há muitos parâmetros claros. Vivemos algo similar quando iniciamos um projeto sem ter todas as informações a respeito. Muitas pessoas ficam estagnadas em iniciativas e mudanças, sejam elas pessoais ou profissionais, porque esperam ter todas as respostas primeiro. Nesta palestra foi muito interessante ver Lori Glaze e Ada Limón adentrarem uma conversa profunda sobre criar, explorar e ir além, mesmo sem ter todas as respostas.

A segunda palestra que me chamou atenção e eu gostaria de dividir foi “10 Breakthrough Technologies of 2024”, que em português quer dizer “10 tecnologias inovadoras de 2024”. Elizabeth Bramson-Boudreau, CEO e publisher da MIT Technology Review, percorreu as 10 tecnologias que sua equipe de repórteres apuraram ser as que vão mudar a forma como vivemos e trabalhamos nos próximos anos. Elas estão basicamente agrupadas em 3 campos.

O primeiro deles é a respeito da IA e suas novas interfaces, como Vision Pro e, para além disso, a evolução dos Chiplets e escala computacional. O segundo se refere à necessidade de explorarmos formas de geração não apenas mais sustentáveis, mas também suficientemente eficientes para suprir a demanda gerada por essas novas tecnologias. E, aqui, destaco: células solares mais eficientes e a energia geotérmica. O terceiro ponto trazido por Bramson-Bourdeau é sobre a evolução da tecnologia ligada à saúde, com destaque a temas como medicações de emagrecimento e tratamentos de edição de genes.

Em relação ao primeiro tópico (IA), Elizabeth conta que realizaram uma pesquisa recente com milhares de executivos que revelou que eles reconhecem o potencial transformador da IA em seus negócios. No entanto, apenas 9% deles tinham casos de uso funcionais para a IA generativa. O setor Governamental teve o menor percentual, com apenas 2%, enquanto Finanças e TI tiveram 17% e 20%, respectivamente.

É sensacional ver como a IA poderá ter um impacto econômico para as empresas e como tudo isso ainda está crescendo e não alcançou todo o seu potencial - que estamos tentando entender qual vai ser. O mundo pós-ChatGPT e com o cenário de AI Agent vai tomar de assalto o mercado nos próximos tempos, criando disrupções em inúmeros segmentos.

Por fim, destaco a palestra “The 4 Elements of Non-Obvious Thinking”, que quer dizer “Os 4 elementos do pensamento não óbvio”, de Rohit Bhargava, autor, palestrante e estrategista de marketing conhecido por suas ideias inovadoras e perspicazes sobre o futuro dos negócios e da tecnologia.

Ele falou muito sobre buscarmos outras formas de olhar os problemas para encontrarmos outros ângulos para gerar inovação. Além disso, Rohit disse que pode ter mais de uma resposta certa para as coisas quando você olha o panorama geral, ou, como ele mesmo diz, "the big picture", ou seja, quando você analisa de forma ampla o funcionamento de um projeto ou uma organização. Ele sugere prestar atenção nos detalhes que ninguém viu.

E qual a relação disso com a palestra “10 tecnologias inovadoras de 2024”, da CEO e publisher do MIT? Quando ela traz que sua equipe entrevistou mil executivos americanos e que só 9% deles estão com um caso real de uso de IA nos negócios, o que isso quer dizer? Que as pessoas estão olhando essa nova tecnologia pelo paradigma anterior. Elas continuam tentando ver formas de tornar mais eficientes o que elas faziam antes, de como executavam algo antes.

Assim como quando o chatbot apareceu e ele foi usado para atender pessoas a um custo mais baixo e não de criar uma experiência de atendimento diferente a partir de uma nova tecnologia. A partir do momento que isso aconteceu, ele virou um contato inteligente e, a partir do momento que o contato inteligente vira um AI Agent, ele vai desbloquear um potencial enorme de entregar experiências conversacionais. As pessoas ainda estão olhando formas de fazer de maneira mais eficiente o que elas faziam antes, mas com o olhar do passado. E sabe qual o maior problema disso? Quando se olha pelo prisma do passado e se concentra exclusivamente na busca pela eficiência, você está buscando apenas como reduzir custos, e essa é uma espiral sem fim. Se você reduzir 10% do custo, ano que vem você tem que reduzir mais 10%, e mais 10%, e mais 10%, e vai estar cada vez cortando mais recursos. Diferentemente de quando você olha sobre formas de gerar novas oportunidades, que geram novas fontes de receita, em que você sempre vai conseguir mais investimento para seguir escalando esta oportunidade.

É constante hoje o desafio de se construir algo inovador, do zero, de ser pioneiro em um setor – o que não quer dizer que você sempre será o líder. Novas categorias de produtos estão sendo criadas e, neste cenário, você não tem histórico para comparação. Você precisa lidar com o desconforto em construir algo novo e tomar decisões sem ter todas as informações. E é assim que a vida acontece. Não existem condições de pressão e temperatura adequadas na vida real. Às vezes, o início de um negócio é como um poema enviado ao espaço – não temos todos os parâmetros à mão.

Esses e outros temas que tenho acompanhado aqui no SXSW são fascinantes e complexos, com implicações significativas para o futuro. É realmente interessante explorar novas áreas e compreender os desafios e oportunidades que elas apresentam. Em breve, trago mais insights aqui para vocês.

* Thiago Gonçalves é diretor da Unidade de Negócio Marketing Cloud na Blip. Graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e pós-graduado em Estratégia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP), ele possui mais de 15 anos de experiência com negócios SaaS, tendo atuado anteriormente em empresas como Stilingue, Pipedrive, GOintegro e Edenred.

 — Foto: Editora Globo
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