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 — Foto: Foto: Getty Images
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Desde que soube que teria a oportunidade de vir ao SXSW, fiz milhares de previsões e simulações de como seria a experiência, conversei com pessoas que acompanham o festival anualmente para pegar dicas de como aproveitá-lo da melhor maneira, mas tenho que admitir que as dicas e os conselhos não me preparam para o que tenho vivido.

A sensação constante de estar perdendo algum conteúdo ou ativação relevante me persegue todo o tempo. São discussões que vão muito além de tecnologia, soluções que modificam setores inteiros, previsões futurísticas, etc. É sobre uma cidade inteira entrar nesse universo e você perceber que mais de 200 mil pessoas estão vibrando na mesma sintonia, buscando novas possibilidades e descobertas.

Pontuado isto, um dos primeiros conteúdos que tive a oportunidade de acompanhar foi o da Elizabeth Bramson-Boudreau, do MIT Technology Review, sobre 10 tendências de tecnologia disruptivas que devemos ter em mente para 2024. Antes de aprofundar o tema da apresentação, é necessário destacar o quanto é valioso ver uma profissional tão qualificada e com tanto a compartilhar ocupando um espaço tão importante no Dia Internacional da Mulher.

Desde 2001, o MIT Technology Review compartilha essa lista com suas apostas para o ano. Em 2024, das dez tendências, cinco são de tecnologia, três de energia e duas de saúde.

Inteligência Artificial para tudo, Apple Vision Pro, Chiplets, Computadores Exascale e Assassinos do Twitter se enquadram na categoria de tecnologia. Como esperado, inteligência artificial continua sendo o principal assunto por aqui. A integração da IA em quase todos os aspectos da vida cotidiana e operações comerciais, deve melhorar a eficiência, personalização e o escopo dos trabalhos, e não a quantidade deles respectivamente.

Mas as discussões sobre IA devem se acentuar em caminhos mais delicados, como no quesito de copyright, ética e representações sociais. Além disso, há o cuidado redobrado com privacidade, equidade e a segurança, principalmente em um ano de eleição para os EUA. A veracidade das informações é um ponto-chave.

Como alguém que lida diariamente e diretamente com fundos de investimento, tendo a dizer que essas temáticas também estarão cada vez mais presentes nas conversas dos investidores. Ouso apostar que a consequência deve ser soluções aprimoradas e com mais clareza sobre estes tópicos de privacidade.

Outro destaque em termos de tecnologia são os chiplets, que podem ser definidos como microprocessadores compostos por chips menores para atuar como um cérebro eletrônico, para deixar os sistemas de computação ainda mais poderosos e eficientes. A propensão é que eles passem a ser fabricados de modo que possam ser conectados, mesmo produzidos por diferentes empresas, o que impacta a inovação em algumas tecnologias bem requisitadas, como a própria inteligência artificial, e setores de indústrias, como a automotiva e a aeroespacial.

Em termos de tendências tecnológicas para a transição energética, tema extremamente protagonista de discussão no mundo e em todos os setores econômicos, a eficiência é a guia. Quando Elizabeth aborda as células solares supereficientes, traz luz à problemática atual de que parte da energia solar produzida hoje se perde no caminho e não é convertida em eletricidade. Para isso, são necessários investimentos que melhorem significativamente a eficiência e eficácia nessa conversão.

Os sistemas geotérmicos aprimorados são inovações que impactam diretamente a extração de energia geotérmica, permitindo um acesso mais eficiente e profundo ao calor da Terra, fonte de energia sustentável e confiável, com grande potencial de ganhar espaço. E as bombas de calor refletem uma tecnologia energética eficiente para aquecimento e resfriamento, tornando-se cada vez mais importante diante das crises que o planeta enfrenta.

Trazendo para uma realidade do ecossistema de inovação brasileiro, os próximos anos devem ser positivos em termos de investimento para as energytechs. Segundo levantamento da Liga Ventures, de julho de 2023, existem mais de 240 startups voltadas à energia em nosso país, o que demonstra que os empreendedores tecnológicos estão atentos às necessidades.

Por ser uma preocupação mundial latente, os fundos de investimento estarão mais abertos a conversar com esses empreendedores, a fim de construir grandes oportunidades de resolução para a questão energética.

Quanto à saúde, os medicamentos para perda de peso e o primeiro tratamento genético foram os tópicos mencionados por Elizabeth. Em relação ao primeiro tópico, tornou-se um foco de preocupação após a Organização Mundial da Saúde declarar, em 2021, a obesidade como uma epidemia contínua. Com este tema aquecido, as farmacêuticas têm apostado em tratamentos promissores para a obesidade, como Mounjaro e Wegovy, com o potencial de melhorar drasticamente os resultados de saúde para milhões de indivíduos globalmente. Sobre o tratamento genético, a aprovação da Federal Drug Administration (FDA), órgão governamental dos Estados Unidos, para tratamentos com edição genética, como para doença falciforme, representa um marco importante na medicina, oferecendo esperança para curar distúrbios desta natureza.

No radar dos fundos, principalmente após a pandemia, as healthtechs podem ser grandes aliadas nessas pesquisas e desenvolvimento de tecnologia para os cuidados com a saúde. Essa é uma das vertentes mais promissoras em todo o mundo, e a expectativa é de que o mercado alcance US$ 504 bilhões em 2025, segundo o relatório produzido pela Global Market Insights. Inclusive, três startups brasileiras apareceram com potencial promissor na lista Digital Health 150, lançada pela CB Insights, conceituada consultoria norte-americana de dados sobre o mercado de startups. Sami, Bloom Care e Alinea Health foram as contempladas no levantamento.

Há muito potencial para que o ecossistema brasileiro de inovação esteja cada vez mais envolvido nessas discussões mundiais e possam fazer parte da solução de problemáticas expressivas. Cabe a nós, impulsionadores da inovação aberta, trabalhar de modo incansável para unir todas as pontas e permitir que as startups tenham o maior número de oportunidades para voarem, fazendo com que essas tecnologias deixem de ser tendências e ocupem o status de realidade.

*Marcella Falcão é head de corporates e Investors do Cubo Itaú

 — Foto: Editora Globo
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